Wednesday, December 23, 2009

O som do piano


Entrei na festa cabisbaixo e cheio de vontade de sair de imediato. Porém, o som de um piano que vinha da sala capturou a minha atenção mal comecei a ouvir as primeiras notas.
Nessa sala havia um grupo de pessoas à volta do piano, grupo este que estava muito atento ao som daquele maravilhoso instrumento. Quem o tocava era uma mulher, o que tornava tudo ainda mais mágico. As suas mãos eram delicadas nas melodias calmas e fortes como trovões nas melodias mais mexidas.
Ás tantas estava sentado na mesa mais próxima do piano juntamente com algumas pessoas que não conhecia. A música cada vez encantava mais os convidados e cada vez eram mais as pessoas que faziam silêncio para ouvir aquela bela criatura tocar piano. Conseguia perceber isso porque o som do piano era mais nítido e não se ouvia tanto barulho de conversas formais que não interessam a ninguém (ou não deviam interessar).

Durante uns minutos fechei os olhos e concentrei-me apenas na melodia. Como era indescritível aquela sensação...
No final, todos aplaudiram até as suas palmas das mãos começarem a ficar roxas. Eu nem um membro do meu corpo consegui mexer...
A bela mulher fez uma vénia como agradecimento e saiu pelas portas da cozinha.

Perguntei às pessoas estranhas que estavam na mesa onde me tinha sentado se ela ainda iria tocar mais alguma vez. Ao que me responderam: - Esperemos que venha tocar mesmo desta vez.
Surpreso com o que tinha acabado de ouvir disse: - O quê?
- Sim, porque realmente sentar-se ao piano e não tocar é uma parvoíce. Não sei quem a convidou para actuar neste evento mas fez uma péssima escolha ... Olha lá vem ela.
Decidida, sentou-se ao piano e começou a tocar a mesma melodia maravilhosa que me tinha aprisionado naquela sala mal entrei na festa.

Deja-vú...Aconteceu tudo exactamente como me parecia ter acontecido há uns minutos atrás.
Não percebi o que aconteceu esta noite mas fico feliz por ter acontecido.


E mais uma vez vi a senhora a sair pela porta da cozinha quando acabou de tocar, e mais uma vez perguntei se ela viria tocar outra vez. Ao que me responderam: - Vem sim, depois do jantar.
Nem imaginam a minha cara de alegria e o sossego do meu coração...

Friday, December 18, 2009

Estrela que estais no céu...


As montanhas estão longe, por detrás delas uma luz avermelhada de pôr-de-sol única.
O céu tem imensas cores, do amarelo ao azul claro... Um azul mais escuro é a cor da maior parte do céu. Maravilham, a mistura de cores. O vermelho funde-se com o amarelo que por sua vez funde-se com o azul. Lá pelo meio está o branco, que é imprescindível na natureza e em tudo. O branco de paz, de equilíbrio, de calma. O maravilhoso branco.
Lá bem em cima uma estrela brilha, sozinha no céu inteiro. Não se vê mais nenhuma...
Se olharmos para cima apenas ela se destaca.
E já não vejo mais nada, nem cores, nem montanhas, nem luzes, nem nada... Apenas aquele ponto brilhante na imensidão do céu. As cores vão desaparecendo, os contornos das montanhas também, mas a estrela essa mantém o seu brilho e o seu lugar.

À pouco tempo era a única estrela no céu, agora já começaram a aparecer outras estrelas iguais a elas. Parecidas... Esta continua a brilhar mais.
E mesmo que não brilhasse seria especial para mim, pois foi a estrela que me maravilhou, aquela que me deu esperança, que me aqueceu apesar do frio da noite. Uma simples estrela pode fazer tudo isto?!

Pode, e muito mais... Assim como todos os elementos da natureza. Se lhes dedicarmos tempo e atenção, se soubermos ver e ouvir, se não tivermos medo de estar sozinhos...

Num mundo perfeito a Natureza seria o nosso deus.

Sunday, December 13, 2009

Aterrorizada...


Ela olhava para mim como se alguém tivesse morrido. Nem precisou de dizer nada, bastou-me uns segundos para entender o terror que via nos seus olhos. Entendi que estava perdida num labirinto, sozinha e sem voz para gritar por ajuda.
Ela não conseguia pronunciar uma palavra porém, nem foi preciso. Conheço-a melhor que ninguém, conheço todos os seus defeitos e qualidades, sei melhor que ninguém as suas capacidades e os seus limites.
Tinha chegado ao seu limite e eu conseguia ver, só de olhar para ela, o abismo que tinha mesmo à sua frente.

Toquei-lhe na mão, apertei-a e apeteceu-me poder entrar no seu mundo e tirá-la daquele sítio horrível do qual ela não estava a conseguir sair.
Apesar de a conhecer bem, ela sempre teve uma parte de si que era só dela e foi nessa parte que ela se escondeu, não me deixando entrar.
Dentro de um labirinto com um abismo à sua frente numa parte da sua mente onde ninguém podia entrar... Ela estava desolada e só ela podia salvar-se a si própria.

Um tempo depois o terror saiu-lhe dos olhos e a indiferença instalou-se na sua alma. Começou a não ter expressões e quando sorria eram só os lábios que mexiam para agradar os outros. Os seus olhos não brilhavam nunca, nem quando alguém a elogiava...
Ela limitou-se a sair da frente do abismo e a sentar-se uns metros mais atrás.
Com o tempo foi voltando ao normal, o abismo já tinha desaparecido de vista e o labirinto também. A palavra perdida já não se adequava à sua realidade, adequava-se mais a palavra solitária... O labirinto tinha deixado as suas marcas.

Sempre ouvi dizer que é com as crises que aprendemos a ser fortes e são elas que engrandecem a nossa personalidade. "O que não nos mata, deixa-nos mais fortes."
Assim foi! É uma das pessoas mais corajosas e fortes que conheço, já se perdeu, já se encontrou, sobreviveu, venceu.
E é disto que se faz uma vida.

Gostava de ter esse tipo de problemas, gostava de me perder...
No fundo nem sei de que material sou feita. Nem quem sou eu, nem o que é a vida.
..

Saturday, December 5, 2009

Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
Em que as coisas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Porque sequer atribuo eu
Beleza às coisas.

Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe
Que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então porque digo eu das coisas: são belas?

Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as coisas,
Perante as coisas que simplesmente existem.

Que difícil ser próprio e não ser senão o visível!

Alberto Caeiro

Monday, November 30, 2009

Nas ruas de Estrasburgo

9:25 em Portugal

10.25 em Estrasburgo, França


As luzes de Natal iluminam as ruas de uma maneira que só apetece percorrê-las todas.

O espírito natalício nota-se na cara das pessoas e sente-se no ar. Tudo parece ter um aspecto mais leve, tudo parece tão mais bonito…

Reparo que os franceses são pessoas alegres que gostam de passear à noite. Vejo pessoas a passear com os bebés e crianças a brincarem com balões. Apetece-me juntar-me a elas...

Os franceses são diferentes de nós em vários aspectos e na verdade nunca os vi tão bem como os vejo agora.

Parecem ser pessoas bastante simples e divertidas. Talvez achem que são um pouco superiores mas isso não se nota nas ruas de Estrasburgo. Apenas noto que são pessoas muito educadas e parecem saber viver a vida…

De uma maneira que nós portugueses não sabemos. Andam de bicicleta, brincam com os filhos na rua e fazem passeios à noite apenas pelo passeio em si... São pacientes e determinados e se há quem diga que são pessoas frias apenas posso dizer que para com a família o não são.

Nem o frio que se sente na rua faz as pessoas ficarem em casa e isso é espectacular. Mesmo cheia de frio tenho vontade de me juntar a eles, de ir andar de bicicleta e não ter hora para voltar a casa, de sorrir como eles sorriem e de brincar como as crianças brincam aqui na praça.

A esta hora Portugal estaria fechado em casa à frente de um PC ou de uma TV, no máximo à frente de uma tela de cinema. Os mais jovens provavelmente estariam fechados num bar ou numa discoteca.

Por aqui com uns 11º graus passeamos na rua e maravilhamo-nos com as luzes de Natal.

Não sei se é das pessoas ou se é apenas o espírito natalício, só sei que era bom que as pessoas fossem sempre assim, em todo o lado.

Pedaços de mim


Explica-me isto! Explica-me o que acabaste de fazer.
De repente fiquei com um calor insuportável, e uma tempestade de emoções e sentimentos atacou-me. Apetece-me chorar e perguntar porque é que o fizeste...

Oh como te detesto!
Como detesto o teu cheiro que me faz sentir no céu, como odeio o teu toque que me paralisa, como abomino o teu olhar que me deixa fixada em ti…
Não sei o que estavas a fazer nem o que estavas a pensar, apenas sei que estás a dar comigo em doida. Preciso que pares de ser assim. Preciso que fiques comigo toda ou que não fiques com nada de mim.
Aos pedaços não, pedaços de mim é que não!
Eu sou uma toda e por ti já me desintegrei mais do que uma vez...

Não sou a mesma sem ti, não sou a mesma contigo, mudaste tudo o que alguma vez fui e tudo o que alguma vez poderia ter sido. Deixaste-me dependente. Uma coisa que sempre detestei ser, que nunca julguei ser capaz de ser. Acabaste com a minha essência e sabes, cheguei a pensar que isso era uma coisa boa. Mas sabes, acabei por perceber que não houve tempo para formar uma outra essência.
Não tenho essência, sou apenas pedaços do que fui e do que poderia ter sido. Não sou nada. Simplesmente nada...
Despedaçada quase totalmente como quem chama por ti quase desesperadamente.

Mentiras não!



Era a última coisa que me podias ter feito. Desculpava-te tudo menos isto.

Não podias ter feito o que fizeste, não podias ter-me enganado desta maneira.

Mentiste tanto que chegaste a mentir com o coração, que chegaste a mentir impulsivamente, chegaste a mentir para ti próprio…

A mentira cegou a tua vida de tal maneira que já nem sabes distingui-la da verdade.


Podia ter pena de ti, apoiar e ajudar-te a ultrapassar isto. Mas eu sempre fui sincera contigo, sempre te disse o quanto o meu bem-estar é mais importante que tudo o resto.

Sempre soubeste que sou uma egoísta inata... Por isso, não vou desculpar-te nem vou estar lá para ti. E por isso, acabou tudo aqui.

Thursday, November 19, 2009

Obrigada Portos de abrigo*


1- Escrever uma lista com 8 características;
Minhas?
Extrovertida mas na verdade introvertida. Simpática mas na verdade um bocadinho antipática. Tímida mas na verdade bastante ousada. Sincera porém, uma mentirosa nata...

2- Convidar 8 bloggers para receber o selo;
I Wonder...
Livro de reclamações.
E estes são os que merecem nota 10 ^^ (Possivelmente existem mais um ou dois mas de momento não me recordo deles)

3- Comentar no blog de quem lhe deu o selo;

4- Comentar no blog de quem escolheu.

Monday, November 16, 2009

Ideias metafísicas do Livro do Desassossego


"A única realidade para mim são as minhas sensações. Eu sou uma sensação minha. Portanto nem da minha própria existência estou certo. Posso está-lo apenas daquelas sensações a que eu chamo minhas.
A verdade? É uma coisa exterior? Não posso ter a certeza dela, porque não é uma sensação minha, e eu só destas tenho a certeza. Uma sensação minha? De quê? Procurar o sonho é pois procurar a verdade, visto que a única verdade para mim sou eu próprio. Isolar-me tanto quanto possível dos outros é respeitar a verdade.
Toda a metafísica é a procura da verdade, entendendo por Verdade a verdade absoluta. Ora a Verdade, seja ela o que for, e admitindo que seja qualquer coisa, se existe existe ou dentro das minhas sensações, ou fora delas ou tanto dentro como fora delas. Se existe fora das minhas sensações, é uma coisa de que eu nunca posso estar certo, não existe para mim portanto, é, para mim, não só o contrário da Certeza, porque só das minhas sensações estou certo, mas o contrário de ser, porque a única coisa que existe para mim são as minhas sensações. De modo que, a existir fora das minhas sensações, a Verdade é para mim igual à Incerteza e não-ser - não existe e não é a verdade, portanto. Mas concedamos o absurdo de que as minhas sensações possam ser o erro, e o não-ser (o que é absurdo, visto que elas, com certeza, existem) – nesse caso a verdade é o ser e existe fora das minhas sensações totalmente. Mas a ideia Verdade é uma ideia minha; existe, por isso, dentro das minhas sensações: portanto, no que Verdade abstracta e fora de mim, a verdade existe dentro de mim - contradição, portanto; e erro, consequentemente.


(...)


Portanto, a verdade não existe.


Mas nós temos a ideia...
Temos, mas vemos que não corresponde a "Realidade" nenhuma, suposto que realidade significa qualquer coisa. A Verdade é, portanto, uma ideia ou sensação nossa, não sabemos de quê, sem significado, portanto sem valor, como qualquer outra sensação nossa.
Ficamos, portanto, com as nossas sensações por única "realidade", realidade que "realmente" até tem aqui certo valor, mas é uma conveniência para frasear. De "real" temos apenas as nossas sensações, mas "real" (que é uma sensação nossa) não significa nada, nem mesmo "significa" significa qualquer coisa, nem "sensação" tem um sentido, nem "tem um sentido" é coisa que tenha sentido algum. Tudo é o mesmo mistério. Reparo, porém, em que nem tudo pode significar coisa alguma, ou "mistério" é palavra que tenha significação."


Bernardo Soares

Sunday, November 8, 2009

Ectopia Cordis (Um defeito no coração)


"Em má hora ela falou. Disse que mais valia arrancarem-lhe o coração. Tinham acabado de lhe arrancar o filho dos braços. Neste lugar, tudo se entende à letra. O guarda riu-se, espetou-lhe uma faca no peito. Nevava. Ela caiu, ele ajoelhou-se na neve ao lado dela, rasgou-lhe a carne, puxou-me e atirou-me para o chão. Deixei de ser o coração dela. A neve cobriu-me depressa. Se não nevasse, eu já teria morrido. Ou alguém me teria comido; é esse o destino de qualquer resto de coisa carnal que surja na lama. Duas aurículas, dois ventrículos, envolvidos por uma espécie de túnica que se chama pericárdio. As cavidades internas estão forradas por uma membrana delgada que se chama endocárdio; à zona muscular dá-se o nome de miocárdio. Ela deixou de sofrer. Eu também - esse é o privilégio do cérebro. Ao coração, músculo involuntário, pede-se-lhe apenas que bombeie o sangue. Que estremeça e lute pela vida. Acabou a minha luta. Silêncio. Continuarão os gritos finais dos que morrem nas câmaras de gás. Não ouço. O cheiro específico dos corpos que se derretem sob o fogo. Não sinto. Apenas um rumor de vida; o dos pequenos riachos de sangue que se infiltram na lama e na neve, depois dos fuzilamentos. Os prisioneiros são chamados para cobrirem de terra os poços de sangue. Debaixo da terra o sangue pode sobreviver umas horas mais. Talvez um dia nasçam aqui flores cor de sangue, flores grossas, belas e inúteis como corações. Procuro recordar a coreografia da vida, continuar a vibrar. Não sei porquê - para que há-de bater um coração sem corpo? Para que há-de sobreviver? O domínio das perguntas não é meu. O cérebro da minha dona estava sempre a fazer perguntas. Era professora de astronomia. Embalava o filho com canções sobre a lua, dizia-lhe que um dia haviam de lá ir os três - ele, ela e o pai do bebé. Não era um devaneio romântico. A Sara não era desse tipo. Era do género controlado. Quando me sentia agitado, trémulo a bombear-lhe uma excessiva quantidade de sangue para o rosto ou para o sexo, zangava-se comigo e dava-me ordem para que me controlasse. Era uma excelente criadora de ordens. Queria que o universo tivesse um sentido. Estudava para que o universo se organizasse. Não se dispersava. Só se apaixonou uma vez, pelo pai do bebé. Todas as amigas dela se apaixonavam com frequência. É uma das actividades favoritas das pessoas, em situações de guerra: perder a cabeça e seguir o coração, dizem elas. Na verdade é exactamente o contrário:decidem apaixonar-se para preservarem a cabeça e o corpo, para não verem a comida que não têm e as possibilidades da existência que se fecham, como cercas de arame farpado, ao seu redor. As pessoas enganam-se de propósito, para terem a ilusão de que poderiam controlar a vida, se quisessem fazer um esforço de não se enganarem. Desejam aqueles que nunca as desejarão, desdenham o que lhes é dado para obterem esse prémio superior, o sublime prazer da infelicidade conquistada. A Sara, essa brincadeira infinita dos afectos causava-lhe dó. Ou, ás vezes, riso. Era fácil viver no peito dela. Uma vida tranquila, apenas agitada pela descoberta de uma nova estrela nessa névoa sem limite a que se chama céu. Sara acabou - eu sou tudo o que dela resta, e por pouco tempo. Um coração sensato a cristalizar sensatamente em gelo, no silêncio do sangue. Não ter ouvidos nem olhos. Nem ossos que se possam quebrar, nem nervos. A minha felicidade é essa.

Duas mesas a um metro de distância uma da outra, suportando uma vara de metal da qual pendia um corpo algemado, de cabeça para baixo, ao qual chicoteavam, com tiras de couro, as costas e as solas dos pés. O balouço de Boger, assim chamado em honra do homem da Gestapo que inventou esta económica máquina de tortura. Já não o vejo. Já não ouço os gritos que soltavam os homens e mulheres durante a tortura. Para abafar os gritos, convocavam a orquestra. Uma orquestra de prisioneiras, exemplarmente dirigida por Alma Rosé, sobrinha de Gustav mahler. Ordenavam-lhes que tocassem marchas alegres, com energia, para que o som da música apagasse todos os outros. Mas Sara não sabia tocar nenhum instrumento, e não havia ali trabalho em que uma astrónoma pudesse ser útil. Uma das funções de Sara era lavar o sangue do chão, depois de terminado isso a que aqui chamam interrogatório. Sara cantava baixinho ao seu bebé: "Amanhã virão salvar-nos e iremos até à lua num avião iluminado". Conseguiu esconder o bebé durante quase um mês. Teve a sorte de chegar num comboio demasiado cheio. Teve a sorte de ter um bebé tranquilo. Teve a sorte de conseguir escondê-lo debaixo de uma manta no fundo do barracão antes de ser inspeccionada, tatuada e tosquiada. Teve a sorte de ser forte e não estar grávida. Sara gostava de enumerar as sortes que tinha. Mas o bebé chorava cada vez mais, e era-lhe cada vez mais difícil arranjar um bocadinho de qualquer coisa alcoólica para o calar. As outras mulheres não conseguiam dormir. Alguma terá acabado por a denunciar - a troco de um bocado de pão, talvez. Na melhor das hipóteses.
O frio entra em mim. Congelo devagar. Muito. Devagar. Se ao menos eu pudesse hibernar até que alguém precisasse de um coração e alguém descobrisse o método de transferir corações de uns corpos para os outros. Alguém. Nem que fosse para acordar num corpo de cão. Se os cães sobreviverem a isto. Ou sobre o tampo de uma mesa de escola, com dedos de criança a mexerem-me, para verem como é composto um coração. Um coração judeu. Duas aurículas, dois ventrículos. Um órgão esponjoso, de cor avermelhada, coberto pelo endotélio, uma capa de células planas que evita a coagulação do sangue. Um coração judeu. Em tudo exactamente igual a qualquer outro coração humano. Abandonado, em excelente estado de conservação, na neve suja de Auschwitz, no último dia do mês de Dezembro de 1944."


Escrito por Inês Pedrosa na revista Egoísta que hoje em dia já não é publicada.

Friday, October 30, 2009

À noite...


Quando adormeço os sonhos invadem o meu espírito, ainda por cima não é só um são imensos. Todos eles com várias histórias que influenciam o meu dia-a-dia como se tratassem de pequenos filmes de um outro eu que grita por uma outra realidade

...

Aquele que mais sonho e que mais me marca é quando vou a correr para ti (personagem do sonho) e és tu que me viras as costas e não eu que tantas vezes o fiz com tantas pessoas diferentes. (Sei que sou demasiado cruel.)

De seguida sonho que te abraço mesmo assim e sonho que quero mais do que isso. Sonho que sinto alguma coisa por ti, por esse ser que tem muitas caras.

Vou realmente a correr para apanhar-te, seja de que maneira for, e não desisto nem quando tropeço, nem quando me viras costas.

E não desisto

...

É por isso que consigo sorrir todos os dias, sei que vai chegar a noite e vou ter a coragem de ir atrás da minha felicidade.

Monday, October 19, 2009

Não fugirei


Entrei no autocarro, olhei para trás e acenei para o fantasma. Ninguém tinha vindo despedir-se de mim…Claro ninguém sabia que me ia embora.

Sorri para o motorista, como se fosse feliz e tivesse alegria para partilhar, e fui-me sentar.

Sentei-me e respirei fundo, ia para Espanha, para Madrid. Nunca gostei de Espanha e na verdade continuo-o a não gostar. Estou a ir para lá porque…sou parva!

Ultimamente é a única parte de mim que ainda está activa.

É bom ser só parva e não ser mais nada.

Devia isso a mim própria, precisava de um descanso da consciência, do pensamento.

Como se fugir fosse a melhor opção…



Estava eu a duvidar das minhas decisões quando um rapaz perguntou se podia sentar-se ao meu lado. Eu olhei para ele e tirei a mala do outro banco sem pronunciar uma palavra.

Quando desviei a cara ele perguntou-me se estava tudo bem, ao que eu respondi que sim acenando apenas com a cabeça e sem olhar para ele.

O rapaz tocou no meu ombro e com uma voz com um timbre extremamente carinhoso disse-me:

- Eu sou o Leonel e adorava conhecer-te, será que me dás esse prazer?

Eu olhei para ele e, já com alguma sinceridade, sorri. E desabafei:

- Eu sou a Susana e realmente já estive melhor.



Toda a viagem foi passada a falar com aquele rapaz que apareceu inesperadamente na minha vida. Era boa pessoa e fez-me ver que estava a reagir mal fugindo.

Mal cheguei a Madrid agradeci-lhe as suas palavras e apanhei o primeiro autocarro de volta ao Porto. E voltei, voltei à confusão a que tinha fugido, a que não queria ter que enfrentar, à qual achava que não tinha capacidade para lidar.

Mudei de opinião, fugir não é a solução por mais que por vezes pareça a nossa única salvação.

Fugimos porque temos medo, receio, falta de coragem… Fugimos porque somos cobardes!

Quero lá eu ser assim.



Voltei. E agora vais me ter de ouvir. Estou farta de fugir.

Saturday, October 10, 2009

Desafio


Regras:

1. Exibir o selo.
2. Indicar o nome e o link do blog de quem recebi:

3. Indicar outros 5 blogues:
* Nós somos aquilo em que acreditamos
* Livro de reclamações
* e mais 3 blogs que queiram participar que eu não tenho pachorra para estar a escrever nomes. xD
4. Dizer qual o sentido que melhor me descreve:
* Tacto, porque o melhor mesmo é sentir na pele. O resto está demasiado longe.

5. Para cada sentido, responder às perguntas:
Audição: Qual o som que gostas mais de ouvir?
As crianças a brincar.
Visão: Qual a tua imagem favorita?
Paisagens.
Tacto: O que mais gostas de sentir na pele?
Outra pele.
Paladar: Qual o teu sabor preferido?
Gomas? xD
Olfacto: Qual o cheiro que te faz bem?
Ar fresco.

Thursday, October 8, 2009

Da esquerda para a direita


Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua

Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais

Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais

E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,

Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.


Fernando Pessoa

O Agora


Temos a mente tão ocupada com coisas do agora que não conseguimos apreciar o Antigo, o Passado. Ficamos tão espantados com o que a Ciência descobre que esquecemo-nos de apreciar verdadeiramente a Natureza.

Achamos que nunca estamos bem e que precisamos sempre de mais...
Quem é que hoje em dia sabe aproveitar o vento? Quem é que ainda sente a emoção de receber uma carta? Quem ainda tem o prazer de ter uma máquina de escrever? Ou um disco? Ou uma cassete de vídeo? Quem é que ainda vê a beleza de uma flor? ...

Eu diria que se perdeu muito e que o conforto não é tudo. A preguiça e a ambição são os nossos maiores defeitos, a insatisfação a pior característica.
As coisas mais simples muitas vezes são as que mais felicidade nos dão.
Podem dizer o que quiserem sobre os pc´s serem maravilhosos, o MP3 uma invenção espectacular e o telemóvel bastante útil...podem dizer o que quiserem mas a verdade é que é tudo demasiado artificial.
Não existe verdadeira felicidade em nada disto!
Principalmente não gosto do quanto estas coisas nos viciam e nos deixam presos a elas.
Não gosto do tipo de sociedade que hoje somos, não gosto do quanto cada vez mais nos afastamos uns dos outros. Não gosto desta felicidade artificial. Não é pura, não é real.
Desaparece tão facilmente...

Não gosto desta suposta evolução. Não gosto e pronto.

Friday, September 18, 2009

A teu lado (versão feminina do Perdi-te a ti)


A cama nunca mais foi a mesma sem ti. Não era só pelo sexo era por tudo o que trazias contigo. Pelo teu toque que era sagrado, pelo teu sorriso e o teu olhar que mostravam o quanto gostavas de mim... Sinto falta disso tudo.
Tento dormir como dormia antigamente mas não consigo. Deixei de gostar de estar na cama, onde antes acordava e ficava abraçada a ti. Deixei de gostar de tomar o pequeno almoço, antes fazias-o tu e ias leva-lo até mim. Fui deixando de gostar de fazer tudo pois tu estavas em tudo o que fazia. Mesmo quando não estava lá o teu corpo, estava lá a tua presença na minha memória.
Agora essa presença mancha tudo de negro e faz-me chorar insistentemente. É difícil parar porque todos os sons, todos os cheiros, todas as conversas, todos os toques fazem-me lembrar de ti.
Não sei como consigo interligar tudo à pessoa que tu eras mas é isso que acontece, a toda a hora.
Não que antes não o fizesse mas antes sabia que ia chegar a casa e encontrar-te lá, sabia que poderia tocar-te e falar contigo quando quisesse. Agora não, agora és só a memória de um sonho. Um sonho lindo que vivi.

Pelo menos este eu vivi. Este foi meu e foi real. Pelo menos fui feliz, fui verdadeiramente feliz. A teu lado.


Under pressure


Sinto-me pressionada. Pressionada por esta sociedade que cada vez sufoca mais. Por vezes pressionada por ser igual a todos os outros, outras vezes pressionada para ser diferente.
Nunca pressionada para ser quem sou. Diferente e igual.
A sociedade cria pessoas aprisionadas dentro de si sem terem tempo para saírem cá para fora. E os que saem são tantas vezes dados por doidos...
Vivemos num mundo onde a suposta loucura devia ser a normalidade. E a normalidade é que é uma loucura.


P.s - Gostaria que sempre que vissem erros ortográficos que me avisassem, espero que compreendam que ninguém é perfeito e eu então é que não sou mesmo.

Desisti


Pensei que não gostava de ti... Eu sei o quanto queria gostar mas pensava que ficava só no querer.
Depois vi-te com outra e apanhei um choque. Senti-me mais vazia do que nunca. Como se me tivessem tirado o chão. Não tinha percebido o quanto eras importante.
Deixei-te escapar pensado que não significavas assim tanto e agora só me apetece chorar. E já nem falar contigo me consola e já nem estar contigo me alegra...porque sei que não sou assim tão importante para ti.
Não me escolheste a mim, mesmo sendo eu meio difícil, meio estranha, meio complicada e meio tudo, não me escolheste a mim e isso magoa-me profundamente.
Principalmente agora que sei que se o tivesses feito eu tinha ficado contigo, eu tinha retribuído tudo o que me tinhas para dar.
Afinal eras mesmo tu que eu queria.
Irrita-me só ter percebido isso depois de te ver com a outra!

Agora é tarde demais. Não vale de nada agora. Já não és nenhum sonho, já deixaste de brilhar. Agora não vale a pena. Já desisti de tentar amar.



Saturday, September 12, 2009

Esperança

"Canto.
Mas o meu canto é triste.
Não sou capaz de nenhum outro, agora.
Em cada verso chora
Uma ilusão,
Tolhida na amplidão
Que lhe sonhei...
Felizmente, que sei
Cantar sem pressa.
Que sei recomeçar...
Que sei que há uma promessa
No acto de cantar..."

Miguel Torga

Voltei aos poemas...

Anátema


"Não amas, e não podes

Ler o livro da vida.

Sem amor nenhuns olhos são videntes.

A tarde triste é o sol que não consentes

Ao coração.

Mundo de solidão,

O que atravessas,

É um deserto habitado

Onde apenas tropeças

Na sombra do teu eu desencantado."



Miguel Torga

Sunday, August 30, 2009

Sem sentido?


Observava a janela e as paisagens por detrás dela.
Passado um momento deixei de ver, ficou tudo branco. Por mais que piscasse os olhos já não valia a pena, já não tinha forças para me obrigar a ver.
E comecei a chorar até não puder mais. E comecei a gritar... E tudo o que tinha em mim gritou comigo.
Quando abri os olhos vi tudo às cores, cores vivas, cores reais. O mundo continuava igual... Como se nada tivesse acontecido.
Inconscientemente fechei os olhos e desejei ver tudo branco mais uma vez.

Wednesday, August 26, 2009

Quem és tu?


Olhei para os teus olhos, até tinhas uns olhos giros. Eram daqueles que cativavam e deixavam-nos com vontade de ficar a olhar. E depois não era só isso. Notava-se no teu tom de voz um carinho especial pela pessoa que estava à tua frente.
Os teus gestos comprovavam a doçura da tua alma. Todo o teu eu, que nunca conheci verdadeiramente, tinha ar de ser emotivo e sensível.
A maior parte das pessoas rir-se-iam de mim se eu lhes dissesse que tu eras assim. E no entanto mesmo nunca tendo falado contigo sei que és assim.

Isto é o que as pessoas que vivem à parte da sociedade fazem. Vivem pelos outros. Pelos seus olhares, pelos seus gestos, pelas suas expressões...
E aprendem. Aprendem o quanto as pessoas enganam quando não vistas com olhos de ver. Quando não ouvidas com atenção, quando não interpretadas da maneira correcta.

Eu conheço-te. Não o TU superficial que mostras a toda a gente mas o TU que pouca gente sabe que existe, aquele que TU realmente és.
Eu conheço-te, será que algum dia alguém me conhecerá a mim?

Friday, August 21, 2009

O mais importante

Finalmente consegui escrever um texto optimista! Espero que gostem... ^^




No outro dia estava eu sozinha a passear no shopping, para variar, quando vi uma cara conhecida.
Era uma mulher com os seus 1,75 de altura, magricela, ar desleixado e uma cara de poucos amigos.

Tive uns segundos a olhar para ela e foi o que bastou para lembrar-me de onde a conhecia. Era uma antiga amiga de escola.
Bolas ao olhar para ela apercebi-me como o tempo tinha passado. Já não éramos aquelas meninas que liamos Witch e passávamos horas ao telefone a falar de coisas sem o mínimo interesse.
Agora éramos duas mulheres e tínhamos seguido caminhos separados.


Há anos que não falava com ela. Já nem me lembro qual foi o momento exacto em que deixámos de falar, penso que foi quando tivemos uma discussão sobre as companhias dela.
Ao lembrar-me disto dirigi-me a ela:
- Olá! - disse eu com um sorriso de orelha a orelha feliz por a reencontrar.
Ela ficou uns segundos a olhar para mim e depois respondeu:
- Ah eu conheço-te... Sara! Estás tão diferente!
E sentámo-nos num café a conversar.


Passei umas boas 2 horas a ouvi-la. Contou-me tudo. Contou-me que não tinha acabado o 12ºano, contou-me que se tinha metido nas drogas no ano a seguir a ter deixado de falar comigo. Contou-me que fez uma desintoxicação há uns anos e que agora tem andado melhor. Contou-me que tinha 2 filhas a viver com o pai porque ainda não se sentia capaz de cuidar delas.
Depois de dizer isto caiu-lhe uma lágrima do olho e admitiu que não tinha era coragem de enfrentar o pai depois de tudo o que aconteceu.
Tentei dar-lhe alguns conselhos e animá-la um bocado. Acho que tive sucesso porque quando nos despedimos ela já tinha um sorriso na cara.


Cheguei a casa e não pude deixar de pensar o quanto mudámos. Sempre fomos muito alegres, grandes amantes da vida, fazíamos dela uma festa todos os dias.
Hoje em dia já não é bem assim. Nem do meu lado nem do dela. Ficámos mais carrancudas e mais pessimistas com o tempo.
Eu deixei de viver a vida e ela estragou a dela. Mas ainda não é tarde demais.
Hoje à noite vou lhe ligar para conversarmos de coisas sem o mínimo interesse e nem quero saber da conta do telefone. Pode ser que ainda vá a tempo e não deixe escapar de vez a criança que há em nós.


Pensamos que o mais importante é termos dinheiro para as nossas coisas e uns quantos amigos e talvez um namorado...
Não. O mais importante é acharmos a felicidade nas pequenas coisas. O mais importante é não deixar escapar a nossa criança. E sermos um pouco crianças para sempre.


Final feliz:


Liguei-lhe no outro dia e no dia a seguir e a seguir. Vou ajudá-la a criar as filhas que agora já vivem com ela. Porque apesar de não querermos que a nossa criança fuja, existem as verdadeiras crianças que ainda precisam de nós.
Ontem fomos passear as 4 e íamos aos pulinhos até ao jardim, nunca reparei no quanto é bom saltar.
E quem olhava para nós perguntava-se:
- A onde é que está a mãe daquelas 4 crianças?
E nós riamos e continuávamos a saltar.

Wednesday, August 12, 2009


Tenho um objectivo: escrever um texto optimista com um final feliz nas próximas semanas.
Vai ser difícil (o meu interior não é muito dado a finais felizes, apesar de já ter escrito textos que não são completamente pessimistas).
Para alguns dos meus seguidores isto também é um desafio.
Para esses, sintam-se desafiados. ^^
E agora passo ao texto de hoje:




Tom sentia-se bem.
Tinha concretizado o seu sonho, estava a "viajar" sozinho. E ainda por cima o sítio que teve como destino era indescritível.
Tom só tinha 13 anos mas o seu espírito aventureiro sempre o levava para longe.
Desta vez tinha ultrapassado as suas expectativas, tinha tido coragem de andar Kms sem a permissão dos pais, estava em pulgas.
Ele não conhecia o local onde tinha ido parar mas já o adorava.
A paisagem para as montanhas era espectacular. Tudo naquele lugar lhe parecia mágico.
Estava um belo dia de sol e não se via ninguém nas casas da redondeza. Tom achou que deviam ter ido todos para a praia visto que não ficava muito longe.
Preferia assim pois era como se toda a beleza daquele sítio fosse só dedicada a ele.

Tom olhou para o seu lado direito e viu um bosque com árvores cheias de pinhas que lhe fez lembrar o sítio onde costumava fazer piqueniques com os avós quando era mais novo.
Quando voltou a olhar para a paisagem ficou perplexo, já tinha anoitecido.
A lua cheia brilhava e iluminava as montanhas, as estrelas eram impossíveis de contar.
Tom ficou maravilhado com a beleza do céu. Sentou-se no chão, depois deitou-se e ficou ali.
Numa certa altura fechou os olhos por um momento, quando os voltou a abrir deu um salto como nunca tinha dado.
Tom encontrava-se na sua cama, no seu quarto, na sua casa.
Levantou-se e foi à janela. O céu estava preto, a lua não se via e as estrelas tinham desaparecido com ela.

- Como pode aquilo ter sido um sonho? - perguntava-se Tom. - Como? Se foi a viagem mais real que fiz até hoje. Se foram os momentos mais felizes. Se foram as paisagens mais espectaculares que eu já vi. Como? Se nunca me senti tão acordado...

Tom, desanimado, voltou para a sua cama...e adormeceu...e nunca mais voltou a acordar.

Monday, July 27, 2009

Divagando


Acredito que sou múltipla. Assim como antes de mim outros acreditaram que o eram também.
Penso que uma pessoa não é completa sendo uma só, por vezes tem de se ser a outra face.
Acredito que há dias em que acordamos pessoas diferentes. Ás vezes melhores, outras bastante piores. Acredito principalmente que podemos escolher ser a pessoa de hoje ou a mesma que fomos ontem.

A vida é moldável aos nossos desejos e capacidades. O poder da mente é sim bastante poderoso.
O Mundo e tudo o que conhecemos é apenas uma ilusão de tudo, quando na verdade pode ser nada.
As Pessoas dentro do mundo são miragens do que achamos ser o mais importante.

O mais importante é estares Aqui e Agora e teres a capacidade de moldares a tua vida e o mundo da maneira que Tu quiseres. E com isso puderes destruí-lo ou melhorá-lo.
O mais importante é nos ser permitido Escolher, é sermos Livres.
É isso que nos faz sentir Vivos.

E é essa liberdade que nos vai matando aos poucos.


Há uns tempos li o livro "Dezanove minutos" de Jodie Picoult, o qual recomendo vivamente a leitura (principalmente aos adolescentes). Mas não irei falar do livro, apenas deixarei aqui um excerto que gostava de partilhar:

"Acho que a vida de uma pessoa deve ser como um DVD. Podemos ver a versão que toda a gente vê, ou podemos escolher a versão editada pelo realizador - a forma como ele desejava que a víssemos, antes de tudo o resto se ter metido no caminho.
Provavelmente há menus, para podermos começar nas partes melhores sem ter de reviver as piores. Podemos quantificar a nossa vida através do número de cenas a que sobrevivemos, ou através dos minutos em que ficámos lá presos.
No entanto, a nossa vida provavelmente assemelha-se mais a um daqueles aborrecidos vídeos de vigilância. Pouco nítido, por muito que o observemos com atenção. E circular: a mesma coisa, vezes sem conta."

Wednesday, July 15, 2009

Meias-pessoas

"Os homens saem para fazer turismo, para admirar o pico das montanhas, o marulho das ondas dos mares, o fácil e copioso curso dos rios, as revoluções e giros dos astros. Entretanto, não olham para si mesmos."(Santo Agostinho)

É muito importante sentirmo-nos bem sozinhos.
Gostar de nós próprios e conseguir sobreviver uns tempos sem mais ninguém é essencial para uma formação plena da nossa pessoa, da nossa personalidade, do nosso “eu”.

Muitos de nós só se encontram nos outros, não se encontram em si próprios. Muitos de nós precisam dos “amigos” para sentirem que existem.
Quando estão sozinhos ficam deprimidos e não conseguem viver no sentido completo da palavra.


A solidão é vista como uma palavra negativa na nossa sociedade.
No entanto, se não for muito prolongada é bastante positiva. É nesse tempo que conseguimos pensar no que somos, é nesse tempo que podemos reflectir sobre os nossos actos, sobre o que dizemos e o que deixamos de dizer, sobre a nossa maneira de ser, sobre os nossos defeitos...
É a solidão que abre-nos a porta para a nossa “alma”. É a solidão que faz-nos pensar verdadeiramente em nós mesmos.

Fazem-me impressão as pessoas que precisam de outras para sentirem-se bem.
Aquelas que só se encontram nos outros. Aquelas que sozinhas não são nada. Fazem-me impressão porque não são pessoas são meias pessoas.

Infelizmente o mundo está cheio de meias pessoas.

Perdi-te a ti


Fechei a porta de casa com a sensação que me faltava alguma coisa.
Depois lembrei-me que costumávamos sair sempre juntos, sempre aos risinhos e cheios de vontade de enfrentar o dia.
Faltavas tu.
A tua presença fazia parte da minha rotina há meses. Habituei-me a ter-te por perto.
Demorei minutos a sair do prédio tal e qual o tempo que demorávamos por estarmos sempre a embirrar um com o outro.
Quando sai lá para fora os meus lábios secaram. Imaginei-te ali de mão dada com a minha a dizeres ao meu ouvido que ias sentir saudades minhas dali a 5 minutos.
Lembrei-me que nunca mais ia ouvir essas palavras, lembrei-me que nunca mais ia sentir o teu toque.
Uma lágrima caiu-me do olho e a seguir a essa outra e mais outra…


Parei de chorar quando vi o parque onde todos os dias á tarde sentávamos-nos a falar.
Tudo o que tu alguma vez me disseste passou pela minha cabeça.
Até que uma frase se destacou:
-“Não fiques triste porque acabou fica feliz porque aconteceu.”- Tinhas me dito tu num dia em que eu estava triste já nem sei bem porquê.
A partir daí não chorei mais. E sempre que me lembrava de ti sorria.
Sei que era isso que querias, sei que isso tinha te feito feliz…


Mas a verdade é que durante a noite encharco a minha almofada de lágrimas.
Já não posso ficar horas a ver-te dormir, já não tenho o corpo que me embalava.
Então, só durante a noite, choro por tudo o que eu perdi.
Metade de mim. Perdi-te a ti.

Wednesday, June 24, 2009

O meu ursinho


Ontem lembrei-me do meu ursinho de peluche, aquele que a minha tia me deu quando fiz 11 anos.
Hoje tenho 55 mas continuo a pensar no que será que lhe aconteceu.

Tinha eu 13 anos quando ele desapareceu do meu quarto. Nunca o cheguei a encontrar.
E ainda hoje me pergunto para onde foi o peluche.
Lembro-me de chorar muito na altura.
Lembro-me de ficar destroçada.
Lembro-me de nunca mais me apegar a nenhum brinquedo.
Lembro-me de nunca mais me apegar a nada.
Foi a primeira vez que fiquei mesmo triste.
E a seguir a essa vieram muitas outras.
Hoje estou internada com uma depressão que já dura há alguns anos.
Nunca ninguém percebeu o que tinha...
Também nunca ninguém me ajudou a procurar o meu ursinho de peluche...



O Mundo não é apenas o que vemos.
É principalmente o que sentimos.

A sociedade faz-nos acreditar que só importa a aparência quando há muito para além disso.
Gostava de ser cega e ser guiada apenas pela voz, pelo tacto, pelo nosso sexto sentido.
Gostava de puder dizer que as boas pessoas são sempre lindas e maravilhosas e acreditar verdadeiramente no que digo.
Gostava que ninguém fosse julgado pelo seu exterior.
Tantas vezes perdemos a oportunidade de conhecer pessoas divertidas e únicas.
Gostava realmente de ser cega em relação ás pessoas...
Mas não sou...
E isso modifica tudo o que acredito.

A verdade é que a aparência é uma parte importante e nunca conseguiremos mudar isso.
Por mais que nos custe.
Por mais que custe aos outros.
A primeira impressão irá ser sempre feita a partir do que vemos.

Apenas podemos esperar que as pessoas não se fiquem por essa impressão. E que consigam ver para além disso. Ou que pelo menos tentem.

Wednesday, June 10, 2009

Um sentimento sem nome


Conheço uma mulher chamada Sandra que trabalha comigo já algum tempo mas mesmo assim, de vez em quando, não a consigo perceber.
Ela é diferente de todas as pessoas que conheço. Sente as coisas de uma maneira diferente, vive para ela quase exclusivamente.

Tem um bom coração mas vive muito no seu mundo. Raramente se apercebe do mundo exterior.
É uma pessoa espectacular quando conhecida a pormenor.
Pelo menos foi o que a Manuela disse, que é a única pessoa que a conhece mesmo bem, são amigas quase desde que nasceram.


Na verdade, admiro-a. Essa tal Sandra tem uma personalidade muito própria, não sendo realmente complexa mas não se dando a conhecer. O que é realmente engraçado.
Pode-se estar a conversar horas com ela, mesmo assim ficas a saber o mesmo sobre ela que sabias no início da conversa. Apenas sabendo pequenas coisas sobre a sua vida que não dizem grande coisa sobre uma pessoa.

Bem isto tudo para contar a relação que ela tem com um homem que trabalha no segundo andar lá dos escritórios.
Toda a gente diz que eles são marido e mulher porém, nunca os vi darem beijos, nem trocarem chaves de casa, nem nunca os vi discutir. E isso é o que os casais normais fazem.
Saem todos os dias juntos cá do trabalho e estão se sempre a rir quando estão um com o outro e algumas vezes estão ao pé um do outro na cantina e passam o tempo todo sem falar, não deixando os sorrisos de lado.
Como se tivessem uma relação de cumplicidade para além dos toques, dos beijos, de tudo.
O que não se compreende.
O que me espanta são os olhares, os olhares que fazem um ao outro. São cheios de brilho, cheios de significados.
No outro dia tentei perguntar-lhe afinal o que sentia por ele, que relação é que tinha com aquele misterioso homem, que era tão misterioso quanto ela.
E ela apenas sorriu para mim e disse:
- Nem eu sei explicar. Mas na verdade não penso muito nisso.
Fiquei algum tempo a olhar para ela, a pensar.
Fiquei sem perceber, como alguém vivia assim. Sem saber o que sentia por uma pessoa com quem convivia constantemente.


Mas se calhar ela sabe, se calhar ele também. Apenas não têm um nome para dar ao sentimento deles. Apenas criaram um sentimento novo.
E isso eu consigo compreender.

E por isso eu admiro-a. E por isso quase que a invejo.
E por isso sempre que os vejo juntos também sorrio.

Monday, June 8, 2009

Viajando pela vida


Já estava atrasada para o Check-in.
No aeroporto, por entre a multidão de pessoas, tentava passar.
Havia tantos corredores...
Porém, ela sabia bem para onde tinha de ir, já tinha feito aquele percurso milhares de vezes.
Chegou ao Check-in e finalmente conseguiu respirar.
As viagens eram um pesadelo para ela, no entanto não as deixava de fazer.
Considerava-as um mal necessário.
De vez em quando fazia-lhe bem sentir-se livre e enfrentar os seus medos era algo importante. - dizia ela.
Agora podia descansar um pouco, então sentou-se ao pé da janela numa das 1500 cadeiras que o aeroporto tinha.
Olhou para o céu e lembrou-se que se tinha esquecido da escova de dentes, suspirou e sussurrou:
-Tenho sempre de me esquecer de alguma coisa.
Depois viu as horas e desejou que o tempo parasse para poder ir buscar a escova a casa e voltar.
-É só uma escova de dentes. -Pensou ela de seguida.

Uma senhora com uma voz irritante chamou pelo voo dela, última chamada.
Ela ouviu a senhora e teve vontade de lhe dar um tiro.
Caminhou para a sua "gate" e quando estava quase a chegar olhou para trás.
Sentiu-se pressionada por algo maior, como se não fosse realmente aquilo que estava destinado para ela.
Olhou outra vez para a frente e mais uma vez suspirou.
Não sabia que fazer. Não sabia o que queria. Queria ir, mas para onde? Onde talvez não fosse a pergunta certa, mas porquê?
Qual seria o verdadeiro porquê de viajar todos os meses tendo pesadelos de todas essas vezes?
Liberdade? Treta! E ela sabia-o.

Ao último segundo entrou no avião pedindo desculpas pela demora.
Sentou-se no lugar e fechou os olhos, apetecia-lhe dormir.
Sabia que a viagem ia ser longa portanto não pensou duas vezes, adormeceu.
E sonhou, sonhou que tinha ficado por terra.
Sonhou que um homem tinha metido conversa com ela.
Sonhou que se tinha apaixonado por ele na primeira conversa.
Sonhou que era feliz.
Acordou sobressaltada com tanta felicidade, desejando logo de seguida voltar àquele sonho.
E ficou triste por saber que era praticamente impossível isso acontecer.
De repente a pressão da altura começou a atacar, dando-lhe fortes dores de cabeça.
E para fugir disso, ela não fez nada.
Deixou as dores percorrerem-lhe todos os pedaços da sua cabeça, da sua mente...
Deixou que lhe atacassem o espírito.
Ela simplesmente não queria saber.

Um bebé desatou a chorar...
Ela olhou pela janela e só viu mar.
-Porquê é que o avião está a descer tanto?!- Pensou ela.
O piloto disse para se preparem para a aterragem porém, não havia terra debaixo deles.
Ela achou estranho, toda a gente achou estranho.
Mal ela sabia que ia ser no dia seguinte que o seu sonho ia se tornar realidade.
Mal ela sabia que esse dia nunca ia chegar.



Wednesday, May 20, 2009

Não gostamos de que nos digam o que devemos fazer


"Não gostamos de que nos digam o que devemos fazer. Preferimos que os outros se metam apenas na sua vida e que não nos dêem conselhos. Vamos pelo nosso caminho, muito direitos e com o nariz no ar, respirando os ventos de uma liberdade que nos livrou de séculos de pó e bafio, que libertou de rótulos e grilhetas os nossos actos, tornando-os bons pelo simples facto de serem nossos.

A moral, que indicava regras de comportamento, passou de moda. Os amigos - por serem agora pessoas a quem não admitimos intromissões no sentido que damos aos nossos passos - passaram a ser apenas aqueles que circunstancialmente nos acompanham na paródia: paisagem fugidia de uma viagem alucinante.

Passámos, quase todos, a viver em cidades enormes, onde se tornou muito fácil proteger a nossa liberdade de olhares alheios. Ninguém nos conhece, ninguém tem tempo para se desviar por nossa causa, todos andam igualmente ocupados com o seu direito à liberdade.
(...)
Não gostamos de que nos digam o que devemos fazer... a não ser que estejamos perdidos, ou desorientados, e queiramos muito chegar a um certo lugar. Agradecemos que alguém tenha colocado na estrada uma placa que indique o caminho a seguir até onde queremos chegar.A moral servia para isso. As pessoas perguntavam: "Que devo fazer nesta situação?; Será bom fazer isto que agora me apetece?". Perguntavam como quem pergunta o caminho para certo lugar. Queriam ser felizes.

E eram livres, sim. Homem livre é aquele que quer ir a um lugar e procura o caminho, e vai mesmo que encontre obstáculos e dificuldades.
A tristeza é um sinal evidente de que andamos perdidos. Não a tristeza passageira que, sem o podermos evitar, nos enche os olhos de lágrimas, mas a outra: a desilusão crónica, o descontentamento permanente; a falta de sentido profundo para os êxitos e para os fracassos, para as dores e para o bem-estar, para as coisas pequenas e para as grandes.

Costumas ver - pela rua, em casa, no trabalho - muitas pessoas a transbordar felicidade?

Qualquer que tenha sido o trajecto percorrido, chegámos a um estado no qual se pretendeu desvincular a felicidade do comportamento. A felicidade foi associada, em vez disso, a ter coisas, a ter comodidade, a ter prazer. O que se conseguiu com isso foi esta multidão feita de pessoas tristes, apesar do altivo aspecto exterior. E uma vida superficialmente mais fácil, mas dolorosamente amarga no interior do coração: tantos suicídios, tanta droga, tanta necessidade de barulho e de agitação, tantas pessoas incapazes de estarem a sós consigo mesmas...

Ainda dizemos aos nossos filhos "Não faças isso", mas já o dizemos sem convicção, visto não admitirmos que alguém nos diga isso a nós. Cada vez mais o dizemos apenas para evitar que façam coisas que nos incomodem, e não para que venham a ser felizes..."

(Paulo Geraldo)

Só porque me apetece. xD

Conversa entre pai e filho:

- Olha uma estrela!
- A onde?
- Ali papá!
- Mas eu não estou a ver nada.
- Está mesmo ali, ao pé daquele gato voador. Não estás a ver?
- Não!
- Não tens mesmo imaginação nenhuma! -.-

xD xD xD

Friday, May 15, 2009

Sinais

Sei que normalmente não meto vídeos aqui. Até porque não gosto muito mas quando vi este no blog "Não compreendo as mulheres" fiquei um pouco apaixonada. xD
O meu lado sentimental falou mais alto e aqui está o resultado:



Friday, May 8, 2009

A flor e o vento


As pétalas da flor são macias e têm uma cor maravilhosa.
Esta flor era linda há uns minutos atrás.

Agora...
Já perdeu mais de metade do seu encanto.
Mas quando posta ao sol, o seu encanto volta.
E brilha, brilha muito, como se estivesse a agarrar-se à sua última réstia de vida.

Não sei se mencionei que a matei á bocado.
Pois foi, um acto cruel eu sei. Mas é só uma flor certo?
Quando a descobri não conseguia parar de olhar para ela...
Agora...

Desculpa florzinha mas o vento roubo-me a minha atenção.
É que sabes, tu apenas fazes bem aos meus olhos.
O vento esse, faz bem ao meu coração.
Foto tirada pela professora Rosa.

Palavras aprisionadas


Pessoa. Humano. Corpo. Físico. Real. Ficção. Filme. História. Conto. Criança. Esperança. Ódio. Amor. Amizade. Carinho. Toque?. Abraço. Aconchego. Paz. Guerra. Destruição. Mortes. Tristeza. Choro. Lágrimas. Olhos. Pupilas. Nervos. Stress. Infelicidade. Sociedade. Complexidade. Horários. Carros. Poluição. Alterações climatéricas. Ambiente. Natureza. Árvores. Ramos. Folhas. Escrever. Imaginação. Mundo Alternativo. Mundos. Planetas. Espaço. Estrelas. Milhões de milhares. Galáxias. Via-láctea. Terra. Nós?. Donos? Habitantes. Apenas. Habitantes. Ambiciosos. Insatisfeitos. Inteligentes?. Vivos?. Futuro?. Evolução?. Ciência?. Progresso?. Ah?. Felicidade? Espontaneidade?. Simplicidade?. Pureza?. Verdade?. Liberdade?.

Humanidade?. Onde?

Pensamos que é fácil,
Abstrairmos-nos de tudo.
Mas não é.

Esquecer toda a complexidade humana,
E tomar atenção simplesmente à natureza,
Nem sempre é fácil.

Fecho os olhos e continuo a ouvir,
Aquelas vozes humanas.
Tapo os ouvidos e continuo a vê-las. (não as vozes, os seres por detrás delas.)

Tapo o nariz,
Deixo de respirar.
E aí, parece que só a natureza importa.

O seu cheiro é puro,
A sua paisagem normalmente bela,
O seu som relaxante.

É pena.
Que apenas nos apercebamos disso ás vezes,
E não sempre.

Saturday, May 2, 2009

A família portuguesa - Parte Final

Epílogo
Susana

O pior é que é toda a nossa sociedade que é assim, sem coragem, sem força de vontade, sem pensamento próprio, sem compreensão pelos outros, sem autenticidade…E podia continuar infinitamente.
Sermos nós próprios dentro desta sociedade que nos torna cada vez mais fracos e cada vez mais igual a todos os outros é travar uma grande batalha.
A qual muitos perdem e nem dão pela sua derrota.

Solidão. É o que sinto.
Sou sim uma pessoa solitária, porém, ao contrário do que dizem, não é por gostar de estar sozinha mas porque tentei misturar-me na nossa sociedade e de todas essas vezes as pessoas desapontaram-me.
Sou diferente, sou estranha, sou fora do normal, sou esquisita.
Eu sou eu, vou para onde quero e não para onde os outros me dizem para ir e luto pelo que quero, sempre.
Tenho as minhas ideias mas sei ouvir as dos outros e não me importo de mudá-las se vir que estavam erradas.
Admito os meus erros porque ninguém é perfeito, sei que tenho defeitos e tento mudá-los.
E se digo que faço uma coisa faço mesmo, pois a minha palavra é igual a mim, verdadeira.
Eu sou assim porque quero, porque acho ser o melhor. Talvez tenha tido algumas influências externas mas principalmente porque a minha vontade é ser assim.
E isso muda tudo.

Fim

Irmãos pequenos do vento


Este texto não é meu, porém, sinto-o como se fosse. Gostava que tivesse vivido tudo isto e agradeço a este homem por ter partilhado as suas memórias connosco.

"Eu e os outros fomos protagonistas de um milagre. Ninguém ainda conseguiu explicar como estamos vivos neste momento... Ninguém encontra uma razão para o facto de termos ultrapassado as fases da infância e da adolescência.

Fazíamos coisas disparatadas sem que alguém nos protegesse. Saíamos em grupo para tomar banho no velho açude, mesmo sem antes termos aprendido a nadar correctamente. Partíamos de bicicleta, sem capacete, para tão longe quanto aguentassem as forças ou a fome. Íamos sem destino. Entrávamos em cavernas e perdíamo-nos lá dentro. Trepávamos muros altos para entrarmos em casas abandonadas, onde estabelecíamos o nosso refúgio. Fazíamos explorações, rasgávamo-nos, sujávamo-nos.

Íamos a pé para a escola, mesmo quando estava a chover, mesmo quando ficava longe.
E lutávamos uns com os outros. Esmurrávamo-nos. Partíamos, por vezes, ossos e dentes. Organizávamos, na mata do castelo, grandes combates, nos quais utilizávamos espadas de madeira que tínhamos construído. Sabíamos bem - por experiência própria, e não apenas porque nos tivessem dito - que uma ferida profunda doía e demorava algum tempo a cicatrizar. Viver, para nós, não podia ser sem correr riscos. Ou éramos de todo inconscientes ou pensávamos que um anjo cuidava de nós.

Não havia um animador que viesse ensinar-nos modos correctos de brincar. Nem organizações que fabricassem para nós formas de ocupação dos tempos livres. Não tínhamos tempos livres. Não sei, aliás, como pudemos sobreviver a tanta actividade.
Não parávamos. Tínhamos apetite: comíamos como cavalos e não ficávamos obesos. O Sol alojava-se em nós e fazia-se cor e saúde.

Inventávamos as nossas brincadeiras e nunca precisámos de comprar jogos caros. Usávamos paus, pedras, velhos pneus, uma corda... Não tivemos jogos electrónicos, 99 canais a cabo, filmes em vídeo, telemóveis, computadores ou Internet.
Tivemos amigos.

Passávamos horas e horas a brincar lá fora com eles. Como não havia os telemóveis, muitas vezes ninguém sabia exactamente onde estávamos. Resolvíamos os nossos problemas. Lidávamos sozinhos com um pneu furado na bicicleta, com um dia de tempestade, com um objecto perdido. Descobríamos a maneira de arranjar uma bola de futebol, de apanhar um grilo, de fazer uma fogueira. Aprendíamos a lidar com cada um dos nossos companheiros, com as nossas capacidades, com as circunstâncias mais variadas.
Crescíamos.

Nem em casa sossegávamos muito, porque tínhamos irmãos.
Os nossos pais ainda não conheciam as novas regras sobre o trabalho infantil. Mas também conseguimos sobreviver ao facto de termos de fazer a cama, cozinhar algumas das nossas refeições, ajudar a pintar a casa, preparar a roupa para vestir no dia seguinte, varrer a sala, lavar a louça.

Fazíamos loucuras. Brincávamos com cães não vacinados, bebíamos todos pela mesma garrafa, secávamos a roupa no corpo. Dávamo-nos com gente pouco recomendável. Pedíamos boleias. Entrávamos em acampamentos de ciganos e tínhamos lá amigos. Aprendíamos coisas com eles.
Mil vezes podíamos ter morrido, mil vezes podíamos ter sido assaltados, mil vezes podíamos ter adoecido gravemente. Mas sempre que superávamos uma dificuldade tornávamo-nos mais fortes, mais capazes de enfrentar o que viesse. Servíamo-nos dos nossos adversários para crescer. A dor tornava-nos resistentes à dor; a necessidade de nos esforçarmos aumentava a nossa força; uma derrota levava a que nos conhecêssemos melhor.

Sobrevivemos. Éramos os irmãos pequenos do vento. Gostávamos de sentir a chuva a escorrer do cabelo para a face."

Paulo Geraldo

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"...o meu coração é uma floresta cheia de nevoeiro - guarda tudo e não encontra nada. Sou uma recordadora profissional. Vivo de recordações, mesmo daquilo que ainda não fiz.E repito infinitamente os mesmos truques. Iludo-me. Penso sempre que amanhã é que vai ser. Desenvolvi um erotismo futurista: deleito me com o puro prazer dos meus sonhos.De certa maneira, já vivi tudo, porque em sonhos consigo projectar-me inteira nos corpos, nos sentimentos e nas experiências dos outros. Tenho uma capacidade estereofónica; posso ter ao mesmo tempo cem e dezoito anos. O que é um cansaço..." IP