Friday, January 29, 2010

Vidas passadas


Reparei nos olhos dele e foi engraçado. Senti um deja-vu, como se já tivesse passado horas a olhar para aqueles olhos... Mas não, era a primeira vez que via aquele homem. E no entanto todo o movimento do seu corpo fazia-me lembrar alguém.
Quando ele se aproximou de mim e começou a falar o tom de voz dele era-me familiar e todas as suas palavras entravam em mim de uma maneira especial. Pensei que estava-me a apaixonar por aquele homem, fiz cruzes para que isso fosse mentira... Estava casada com um homem que adorava, não podia apaixonar-me por outra pessoa.

Enquanto falava com este estranho e adorável homem fui reparando nos seus gestos e todos eles eram parecidos com os meus, ele tinha alguns tiques e manias que pareciam derivar dos meus tiques e manias.
Tive uma hora com ele a ter uma conversa bastante agradável e pareceu-me, desde o primeiro segundo em que o vi, que o conhecia bem e que já tínhamos passado muito tempo juntos. Tudo o que ele dizia tinha passado pela minha cabeça uns segundos antes, todas as perguntas que lhe fazia eram como retóricas sabendo todas as respostas. Era tudo muito estranho, sentia verdadeiramente que numa vida passada eu tinha conhecido aquele homem e ele tinha sido alguém muito especial na minha vida.
Naquele dia voltei para casa com uma sensação de vida dupla e com o número do homem, que se chamava José (adivinhei o seu nome mal olhei para a sua cara).


Falamos muito ao telefone agora, não estando muito tempo juntos (ele vive longe). Mas sempre que estamos juntos é como se nunca nos tivéssemos separado.

Somos só amigos claro, eu sou casada e ele também... Porém, a sensação nunca desapareceu e ainda hoje penso: Será que numa vida passada estivemos juntos? Será que fomos apaixonados e vivemos felizes?

Sinto, com cada osso do meu corpo, cada nervo, cada músculo, que eu e ele já fomos um só.
Se fazia sentido a história repetir-se? Não sei, isso só o tempo o dirá. Eu amo o meu marido e ele ama a sua mulher... E entre nós existe uma ligação para lá do tempo e da vida, para além desta vida.


Dedicado a uma amiga que acredita em vidas passadas. ^^

Saturday, January 23, 2010

Filho meu (Final)

V

Podia ter sido diferente. Podia ter tido coragem e força de vontade, podia ter ouvido o meu coração. O meu destino podia ter sido outro...
Esta decisão mudou a minha vida. Fez-me sonhar todas as noites com o filho que nunca tive, que se chama Hércules e é forte como o pai e amável como a mãe, que cresceu saudável apesar de todas as doenças mentais do pai e de todos os traumas da mãe. E tornou-se uma pessoa que eu nunca irei ser...Uma pessoa corajosa.
Pode ser que um dia eu goste mais do presente do que este passado que nunca existiu. Talvez um dia em que tenha um filho e lhe dê o nome de Hércules.
..

Filho meu

IV

Não sei se me sinto preparada. Preparada para todas as mudanças que a minha vida vai ter. Agora tenho algumas dúvidas, agora que a sensação de preenchimento já não está presente e o que está presente é uma confusão de emoções e muitos enjoos... Mas quando coloco a mão na barriga parece que a confiança volta. E apesar de tudo decido ir para a frente com isto.

Passados uns anos.

Adoro o meu filho. Não é só por ser parte de mim mas por ter conseguido fazer com que apenas as qualidades do pai se destacassem. Dei o meu melhor para educá-lo, li tudo o que havia para ler sobre crianças e educação e penso que saí-me bastante bem. Hoje sinto-me feliz por ter tomado esta decisão.
O meu filho chama-se Hércules e tem 7 anos e foi a coisa mais bonita que eu já fiz.

Friday, January 22, 2010

Quase nada

“Escritor rima com desamor. Rima com espera, com quimera, com desejo, com vontade. Escritor quase nunca rima com verdade, embora a verdade esteja lá, quase sempre, no fundo do fundo de todas as ideias e de todos os medos. Escritor rima com secretária, mas não rima com escritório. Rima com trabalho, não rima com emprego. Rima mais com sonho do que com pesadelo. E com a morte do que com a vida. E quando rima com a vida, é uma vida perdida, esquecida atrás de livros e livros, prateleiras imensas e infinitas, altas, escuras e opacas como toda a escrita. Escrita rima com a alma, com medo, com solidão. E fala mais alto sempre que ouve a palavra não. A escrita tem medo de muitas palavras. Talvez é uma delas. Hoje talvez escreva. Talvez este romance seja o tal, talvez venda muito, talvez não. E se é outra que tal. E se nunca mais conseguir escrever? E se me esquecer como é? Se perder a mão e de repente, como se me apagassem a cabeça com uma borracha e me esquecesse como nascem as ideias, como crescem os personagens, como se constrói uma história? E se tudo o que fiz até agora não me servir de nada?


E se me perder no labirinto das palavras. Na grande teia dos medos, em dias iguais uns aos outros, todos igualmente tristes quando não escrevo, porque ás vezes é demasiado fácil a ponto de se tornar insuportável? Escrita rima com deserto e os amores são como oásis. Nunca sabemos quem lá está, até podem ser miragens. Lugares demasiado pequenos para se poder lá viver. Falta-lhes espaço e tempo, sobra-lhes a magia dos momentos. Momentos perdidos no tempo como lágrimas na chuva, disse o último replicant, antes de morrer nos braços do herói. Escrever é querer ser herói todos os dias e ser herói todos os dias cansa muito mais do que viver, do que trabalhar na estiva, é quase como estar preso. Querer sair do nosso mundo e não encontrar a porta. Abrem-se muitos janelas quando se escreve e quanto mais se escreve, mais janelas se abrem. Mas as portas, não. Não há portas, há apenas frestas, suficientemente largas para se poder assistir ao espectáculo do mundo, demasiado estreitas para se poder fugir por elas. Estamos presos nos livros que escrevemos, nos livros que amamos, nos livros que nunca vamos conseguir escrever. Vivemos amarrados ás mesmas ideias. O Borges dizia que escrevemos sempre o mesmo livro. O Graham Green era sempre o mesmo malandro de um mesmo triângulo amoroso. O Hemingway disfarçava-se sempre do herói que nunca conseguiu ser. A Yourcenar vestia sempre a pele de um homem. Mentiras, disfarces, vinganças, ajustes de contas. Traumas, ambições, segredos. Só os poetas colam a alma ao papel sem filtros nem pretensões. Esses sim, são heróis verdadeiros, porque antes de heróis, são sempre verdadeiros, antes e depois de se sentarem à secretária. Usam sempre as palavras certas. Nem mais, nem menos. E fazem música com elas. Esses sim, aceitam o exílio como condição natural. Em vez de chorarem, escrevem. E escrevem pouco, porque pouco é muito mais do que muito. Escrevem com o coração, mesmo quando o pedem emprestado. Não roubam nada, não são ladrões como nós. Escrevo sempre, sem parar. Escrevo para não enlouquecer, para nunca me esquecer quem sou, para não me cansar do mundo. Já pensei que escrever era uma forma de tocar a eternidade, mas a eternidade não existe. Nem os deuses lá vivem. Escrevo para não adoecer, para fazer companhia aos outros, mesmo quando os outros se esquecem que antes e depois das palavras, sou uma pessoa igual ás outras. Durmo, escrevo ao acordar, escrevo como uma condenada, como se amanhã fosse crucificada. E quando não escrevo sinto-me vazia. Ou melhor, esvaziada. A minha vida sem escrita é quase nada, quase nada.

Margarida Rebelo Pinto

Friday, January 15, 2010

Filho meu

III

Um filho não é algo que possamos devolver ou deitar fora quando já está em carne e osso nos nossos braços. E não era uma opção a adopção.
Não estou com disposição nem vontade para pensar neste assunto agora, o pior é que nunca estou. Uff.
Há tantos ses nesta história, e falta-me força para fazer isto sozinha.
Não me vou orgulhar de fazer isto mas tem de ser feito.Vou abortar, está decidido.

Filho meu

II

E estava grávida. No inicio foi um choque, mas depois... Existe qualquer coisa na gravidez que nos faz sentir completamente em sintonia com a vida, como se tivéssemos feito a coisa certa engravidando, mesmo quando não foi nada combinado e nem sequer estava nos planos isso acontecer.
Sentia-me bem apesar de tudo, sentia que ia ter aquele filho e tudo ia correr bem. O mais importante era estar sempre lá para ele assim como gostava que tivessem estado sempre lá para mim, dando todo o meu amor e os melhores exemplos àquele ser que no fundo seria sempre uma parte de mim. Que se lixe tudo o resto. Eu não vou matar uma parte de mim.

Sunday, January 10, 2010

Filho meu

I

E estava grávida. Incrivelmente estava um ser a nascer dentro de mim. Um ser que iria ser parte de mim e do outro paspalho sem responsabilidade nenhuma. Nasceria cheio de defeitos (mais de metade devido à personalidade horrível do pai), nasceria feio pois o pai é feio (e eu também não sou lá grande coisa), nasceria uma pessoa triste pois eu não saberia sorrir para ele...

No final de contas o melhor era não ter aquele filho, pois sabe-se lá que ser detestável ele se podia tornar. Como poderei algum dia dar carinho a uma pessoa que vai ser cara chapada de um gajo que hoje em dia nem posso ver à frente?!

Friday, January 8, 2010

Tempestade


Acordei sobressaltada com a ideia que o mundo ia acabar. Os ventos que se debatiam lá fora pareciam gritos de socorro de uma entidade natural. Uma revolta por parte da natureza dizendo que não está a sentir-se muito bem.
Lá fora parecia que já nada estava no sítio e que os ventos fortes já se tinham tornado mini-furacões arrasando com todas as pequenas coisas que apareciam no seu caminho.

- Slash. - ouve-se um estalido e tudo fica ainda mais escuro do que já estava.
Vento, tanto vento...

Acordei de manhã... Um silêncio de morte. O vento tinha parado de soprar e toda a vida animal, chocada com a noite agitada, fazia silêncio com medo de voltar a perturbá-lo.
Caracterizo a noite passada como uma simulação do fim do mundo. Um aviso, uma ameaça...
O mundo podia mesmo ter acabado... Mas não, apenas ficámos sem luz.

Escrito em Dezembro.

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"...o meu coração é uma floresta cheia de nevoeiro - guarda tudo e não encontra nada. Sou uma recordadora profissional. Vivo de recordações, mesmo daquilo que ainda não fiz.E repito infinitamente os mesmos truques. Iludo-me. Penso sempre que amanhã é que vai ser. Desenvolvi um erotismo futurista: deleito me com o puro prazer dos meus sonhos.De certa maneira, já vivi tudo, porque em sonhos consigo projectar-me inteira nos corpos, nos sentimentos e nas experiências dos outros. Tenho uma capacidade estereofónica; posso ter ao mesmo tempo cem e dezoito anos. O que é um cansaço..." IP