Querias mudar, disseste-me tu naquele dia enevoado. Querias também que eu
mudasse contigo. Que juntos mudássemos o mundo que nos rodeia.
Quando disseste a palavra mudar eu assustei-me. Tínhamos já a nossa
vida feita e no entanto, tu acreditavas que o caminho era outro e que nada
daquilo fazia sentido.
Tentei perceber o teu sentido mas não entendia a tua necessidade, a
tua força, a tua coragem. Não entendia a necessidade da constante mudança.
Exclamaste que estava tudo a morrer à nossa volta e eu dei um salto para
trás com medo de morrer também. Fazias todas aquelas perguntas que nunca
ninguém faz: - És feliz? Sentes-te concretizado? Qual é o teu objectivo na
vida? Por quem ou pelo que é que morrerias? Salvarias a humanidade oferecendo a
tua própria vida?
E continuaste, direccionando-te para o canto da alma que tentamos
esconder, sem dó nem piedade: Quais são os teus defeitos? O que já fizeste para os melhorar e torná-los
qualidades? O que aconteceu na tua vida que não ficou resolvido? Porque é que não
o resolveste? O que fazes aqui e agora? E porque é que o fazes? O que te
move?
Uma atrás da outra, as palavras eram recebidas no meu cérebro como
pancadas. Fiquei a olhar para ti sem saber o que te dizer. As respostas não
eram certas, nada era concreto. Nunca me tinha cultivado a esse ponto.
Não sabia se era feliz, nunca tinha pensado no verdadeiro significado dessa
palavra. O conceito de concretização era algo que me deixava confuso. Os meus
objectivos eram acabar os dias, as semanas e os meses e continuar vivo. Morrer
era algo que me assustava e deixava-me com arrepios nos ossos. Nunca fui
herói, nunca acreditei nisso, não acredito que eles existam. Sei que
tenho defeitos mas tentava não pensar neles.
E na minha vida tanta coisa que não tinha ficado resolvida… Não sei o que
faço nem porque o faço e talvez o que me mova é só o sentimento de estar vivo e
ter tarefas para realizar.
Mudar parecia-me demasiado arriscado. A meus olhos, todas as mudanças o
são.
Via muitos obstáculos no caminho e via-me sempre a cair em todas as
versões da mudança. Já tinha pensado sim em fazer algo que me fizesse
sentir...sentir. Porém, perdi-me nas pedras desse mesmo pensamento.
Vejo sempre tantos muros, tantas poças, tanta chuva, tanta lama. Não
consigo tornar esse pensamento real porque… Porque talvez não tenha coragem
suficiente. Talvez seja mesmo piegas como a minha mãe sempre me disse que era.
Um assunto não resolvido.
Percebo que tens razão. Tudo o que disseste interessa e tem
grande significado. Percebo que é um caminho que temos de percorrer e se não o
fizermos, mais tarde, isso virar-se-á contra nós. Nem que mais tarde seja
quando tivermos a morrer. Não morreremos em paz se não clarificarmos tudo, se
não soubermos que fizemos alguma coisa que realmente nos interessa, se não
sentirmos que a nossa vida teve significado.
Isso tudo interessa bastante, diria até que é fulcral. E eu prometo que vou
tentar mudar.
Ajudas-me?