Monday, March 26, 2012

Para sempre.

Os meus lábios secaram, e juntamente com eles o meu coração parou. Os meus olhos fixaram o nada, o meu nariz deixou de exercer as suas funções: não sentia ar a entrar. Os meus ouvidos eram os únicos que ainda tinham alguma actividade ouvindo ao longe alguém a chamar por mim. O meu cérebro continuava a trabalhar e obrigava-me a fazer interligações entre tudo: presente, passado, futuro, o que sou, o que os outros são, realidades, sonhos...
Aos poucos e poucos, depois do choque, a realidade voltava. E eras tu que estavas à minha frente. Toquei-te para ver se eras real. Eras. Abracei-te e senti uma felicidade indescritível. Fechava os olhos e abria e tu continuavas lá, tu inteiro, a tua voz a dirigir-se a mim, os teus braços a segurarem o meu corpo, tu e tudo o que é teu ali. 
Então, de corpo e alma, segredaste aos meus ouvidos: É para sempre.  

Queria ter reagido, ter dito alguma coisa, no entanto fiquei quieta à espera de acordar de um sonho. Apercebendo-me que era tudo real houve qualquer coisa no meu corpo que mudou: o meu coração palpitava a 100 à hora e cada vez mais rápido… 
Com o sorriso mais sincero que alguma vez tinha feito ia agradecer-te por existires, quando de repente a escuridão devorou-me por inteira. Desmaiei.   

Acordei no outro dia no hospital, tinha tido um ataque cardíaco. Vi-te a meu lado e foi como nada tivesse acontecido. Agarrei-te a mão e disse para mim mesma: É para sempre.
 Quando o médico veio para me explicar o que tinha acontecido eu já sabia, não precisava de explicações. O meu coração tinha renascido, tinha-me sido dada uma nova vida. De repente tudo me fazia sentido, mesmo o não sentido do sentido.
A felicidade, essa, que tantas vezes tinha sido uma ilusão era agora algo límpido, claro, irrefutável e puro.
Sem ses e sem dúvidas sabia que esta tinha sido a simplicidade que sempre tinha procurado. Já não via conceitos, palavras, materiais, realidades... O que via agora era todo o significado que estava por detrás de tudo isso... 

Olhei para os teus olhos e vi-me reflectida neles, senti que tu olhavas para dentro de mim, dentro da minha essência, para o que realmente sou...
(É esse o exacto significado de pureza e de vida que lutamos uma vida inteira para encontrar.)

Wednesday, March 14, 2012

Miscelânea da manhã


     Ouço o barulho frenético da cidade e espanto-me. Já não tinha lembrança de como era viver no centro de uma cidade, mesmo sendo esta pequena. 
    Acordei e levantei-me de um salto, não conseguia estar naquela cama se não conseguia dormir. 
   Sentia-me doente mesmo não tendo sintomas de nenhuma doença. Era uma sensação de alma débil e fraca, a vontade era de ficar o dia todo em casa a limpar e arrumar para não ter que pensar muito. De repente ouvi o elevador e lembrei-me de quando era criança ir sempre de escada, a correr, fosse qual fosse o andar e ficava toda contente quando chegava lá primeiro. Humano versus machine. Olhava pela janela para a rua e o dia estava cinzento como eu já não o via há algum tempo e fez-me sentir que não gostava de estar doente com o tempo cinzento mas ao mesmo tempo até que fazia sentido estar doente com o tempo cinzento. Se é para estar doente que seja assim com o tempo cinzento e não quando o sol brilha e a praia chama por nós. Já me tinha vestido e ia tomar o pequeno-almoço quando comecei a pensar que esta era a única refeição do dia que gostava de tomar sozinha. Juntamente com este pensamento começou-se a ouvir o cão da minha vizinha a ladrar, ela detesta que ele ladre a esta hora e por isso sorri ao saber que ela poderia ter acordado já chateada. Então fiquei à janela para ver se a minha previsão estava correcta, e lá veio ela com um jornal na mão, toda despenteada, já aos berros com o cão como se ele fosse uma criança mal comportada. O cão ficou a olhar para ela com um ar como quem diz: Já é dia é para levantar.
    Há muito que tentamos ao máximo esquecer as horas aos fins-de-semana, de modo a ter paz. Gostamos de, de vez em quando, deixar-nos ir e não fazer nada, e por isso ficamos a dormir até tarde, e por isso limpamos a casa quando podíamos sair, e por isso acordamos sem vontade de pensar. Não queremos lembrar-nos do que sabemos sobre o mundo, sobre a vida e sobre nós mesmos. A sobrecarga de toda a complexidade que somos faz-nos sentir exaustos de viver.  Mas claro que os cães não percebem isso, é dia é para ladrar, falar com outros cães, comer, brincar... e também dormir a sesta, com a total descontracção de quem o pode fazer, de quem não está preso a nada. E entretanto já tinha tomado o pequeno-almoço e já tinha feito a cama e começado a ter dores de cabeça. Olho outra vez lá para fora com a esperança que o tempo tenha mudado de cor mas ao vê-lo na mesma, cinzento, lembrei-me que a terra precisava de chuva e fiquei feliz por vê-lo cinzento. Mesmo que não pareça bonito é preciso que chova, é preciso que o céu chore para libertar  o que tem guardado há muito. E isso eu entendo perfeitamente, e então fico a olhar feita parva para o céu a dizer-lhe que pode chorar que ninguém está a ver, que irão sempre haver pessoas que sentirão as suas lágrimas e sorrirão. Porque a tristeza de uns é a felicidade de outros. O que é, simultaneamente, bom e mau. Mas tu céu não pensas e portanto isto não interessa para nada. De repente o céu fica ainda mais cinzento havendo uma pequena parte dele em que o sol brilha e isso faz-me pensar em algo que já sabia: existe sempre esperança, existe sempre esperança. 
    Começando a chover, assim do nada, sem ninguém estar à espera...

 Bem-vinda chuva, há tanto tempo que não te via...

(Uma das minhas vizinhas tinha acabado de estender a roupa, rio-me da correria dela para a apanhar...) 


Sunday, March 11, 2012

A única luz possível num caminho improvável e incoerente.



Quando te vi fiquei perplexa com o quanto tinhas mudado. Parecia que tinham tirado um peso de cima dos teus ombros. 
Quando me dirigiste a palavra fiquei sem saber o que dizer. Tinha passado imenso tempo desde a última vez que tínhamos posto os olhos em cima um do outro (entre outras coisas). E tendo passado tanto tempo estava com problemas em processar tudo o que fomos, para além de não conseguir perceber se ainda havia esperança para nós. 
   Havia qualquer coisa no teu sorriso que me impossibilitava de pensar a fundo, de chegar a uma conclusão sobre o que realmente queria.

   Para ti era como se o tempo não tivesse passado, para ti o tempo era moldável à tua vontade.
 Ora eu nunca tive esse poder, e o tempo era real aos meus olhos e aos meus sentidos, e portanto tudo isto era difícil para mim. 
Tu eras algo difícil de resolver.  Não por não saber o que quero, que também é verdade, mas por ver esperança sempre que os teus olhos olhavam nos meus. Essa esperança parecia-me uma miragem e baralhava-me o sistema nervoso, de modo que já não sabia qual era a minha posição, quais eram os meus princípios... Aquilo em que acreditava começou a desvanecer-se e só te via a ti como a única luz possível num caminho improvável e incoerente.

   Escolho-te a ti, com o medo estampado em cada passo que dou. Escolho-te a ti. 

Não me faças arrepender da minha escolha.

Friday, March 9, 2012

Estado de alma:

Encontrava-me num estado de sonambulismo apesar de estar acordado, sentia que estava num género de sonho em que a realidade não fazia sentido. Não sabendo bem se a realidade era na verdade a minha vida ou se era aquele género de realidade que presenciava naquele exacto momento em que tudo me parecia vindo de um filme qualquer, pois ás tantas já nada me fazia sentido. Os meus gestos eram tremidos, não conseguia estar quieto, a minha cabeça estava pesada, as minhas palavras saiam todas cheias de mel e tinha sempre um sorriso na boca como se tivesse snifado alguma coisa. Olhava em volta e o mundo parecia diferente do normal,ouvia dentro da minha cabeça duas vozes, como se fossem os bonequinhos do diabo e do anjo tal e qual como se vê nos filmes. Ambos me puxavam para lados diferentes e não conseguia distinguir o bom do mal, e mesmo que os distinguisse não sei se não escolheria o mal só para chatear. Entrei em parafuso, uma guerra comigo mesmo, não conseguia distinguir a verdade da mentira, a realidade da ficção. E tinha esta impressão de que aquele momento era tudo o que interessava, fosse mentira, verdade ou assim-assim. Aquele instante onde me sentia estranho,  e no entanto vivo, era real. Uma certa realidade paralela porém, era real e só isso importava. A verdade é um conceito do passado, as verdades estão em todo o lado e ao mesmo tempo em nenhum. A mentira nem sempre é o contrário da verdade, por vezes é uma verdade distorcida. Não deixa de ser uma verdade. A realidade existe para quem se considera real. Eu, a minha pessoa, este ser que se encontra aqui, neste momento, não é real. Mas é ao mesmo tempo puro e de certa maneira tem o seu lado real. Porque estou vivo, e não preciso de ser realmente verdadeiro para estar vivo. Basta mexer-me e respirar. Isto é a realidade?  É só parte dela. Isto é a verdade? Podia ser mas a verdade não existe e portanto se eu fosse a verdade eu não existiria. E por isso sou a mentira no seu estado mais linear, que é o mesmo que dizer que sou alguma coisa que não sei explicar, provavelmente uma realidade distorcida.

Thursday, March 1, 2012

?


O que é que fazemos quando perdemos a verdade? O que fazer quando o tempo já deu tantas voltas que já não sabemos em que época é que estamos e quem é que ainda está vivo? O que fazer se já nada faz sentido? E o sentido que conheciamos também se perdeu no labirinto da vida? O que fazer?

Eu grito pela verdade mas de todas as vezes aparece-me alguém a dizer que ela não existe.
Eu grito para que o tempo páre de me pregar brincadeiras mas ele ri-se na minha cara e continua a gozar comigo sem piedade. 
Eu grito pelo sentido mas não sei para onde me virar para chamar por ele, não sei para onde olhar nem sei como o chamar. 

Só sei que sinto falta dele, assim como sinto falta da verdade que sempre foi nossa e do tempo que preenchemos de boas memórias apesar de não as termos sabido preservar.

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"...o meu coração é uma floresta cheia de nevoeiro - guarda tudo e não encontra nada. Sou uma recordadora profissional. Vivo de recordações, mesmo daquilo que ainda não fiz.E repito infinitamente os mesmos truques. Iludo-me. Penso sempre que amanhã é que vai ser. Desenvolvi um erotismo futurista: deleito me com o puro prazer dos meus sonhos.De certa maneira, já vivi tudo, porque em sonhos consigo projectar-me inteira nos corpos, nos sentimentos e nas experiências dos outros. Tenho uma capacidade estereofónica; posso ter ao mesmo tempo cem e dezoito anos. O que é um cansaço..." IP