Thursday, December 23, 2010

Conformação


E assim o meu mundo ruiu, não tendo nada onde me agarrar. Pensamos que estamos a fazer tudo certo e que estamos no caminho correcto e ao fim de alguns anos apercebemo-nos que a nossa vida foi uma farsa e que tínhamos o conceito de felicidade todo trocado. Pior, já não sabemos viver de outra maneira. Olho para a minha mesa atulhada de papeis do trabalho e forço-me a trabalhar, forço-me a pensar naqueles papeis e não no aperto que tenho no peito e não no mal-estar interior e não no dia de amanhã nem na próxima semana nem no próximo ano. Forço-me sabendo que por mais que tente estes anos continuam cá dentro, o passado continua presente e não posso simplesmente apaga-lo e fazer de conta que nada se passou. Como fazemos para mudar de direcção quando olhamos para todos os lados e não conhecemos mais nenhum caminho? Podia virar para a direita ou para a esquerda mas são lados completamente desconhecidos por mim… Podia subir ou descer mas esqueci-me como movimentar as pernas. O que fazer quando há uma quebra de rotina tal que te sentes cortada a meio também?

Volta para mim… prometo que te deixo ser e fazer o que quiseres, só quero ter aquela cara familiar que me habituei a ver todos os dias. Volta que eu não conheço outro caminho e apesar do nosso ser atribulado e sem cor prefiro este a não ter nenhum. Prefiro este do que andar à deriva, prefiro ter uma felicidade falsa do que ter uma infelicidade assumida. Prefiro-te a ti e à nossa vida rotineira e sem interesse, procurar um novo caminho e tentar ser feliz dá tanto trabalho... Eu só quero o conforto e a normalidade de volta.

(Tudo o que é errado pensar. Detesto a conformação e a falta de força de vontade.)

Saturday, December 18, 2010

Conto de Natal


Toda a minha vida tinha tido Natais de treta. Cresci num colégio e isso diz logo tudo. A família para mim sempre fora constituída por vinte miúdas e três ou quatro mulheres que tentavam fazer de nossas mães ou tias. Portanto, o Natal não me dizia nada…até conhecer o Leonel.

Acho que posso dizer com toda a certeza que ele foi a melhor coisa que me aconteceu. Ensinou-me imensa coisa e enriqueceu a minha vida de uma maneira indescritível.

Este Natal foi o único que fez realmente sentido.

O Leonel convidou-me, imagine-se, para ir com ele para Nova Iorque passar o Natal. Confessou-me que há muito tempo que andava a juntar dinheiro para fazer uma viagem mas que estava à espera da companhia certa.

Eu, como é claro, não podia ter ficado mais feliz com a proposta dele… Ao saber que ia deixar de passar o Natal com a família para passar comigo, fiquei sem palavras.

Quando chegámos a Nova Iorque, vê-la com todas aquelas luzes foi mágico. E estando ao lado dele que era uma pessoa tão especial tornou tudo inesquecível.

Passámos a véspera de Natal na rua de Nova Iorque que tinha a maior árvore de Natal. A rua estava deserta mas as luzes e a decoração continuavam lá a manter toda a magia.

Trocámos prendas, e principalmente, trocámos amor e carinho e à 1 da manhã em ponto começou a nevar, eu nunca tinha visto nevar… Foi fantástico, fizemos um boneco de neve e depois começámos a atirar bolas de neve um ao outro.

Mesmo com aquele frio de rachar foi uma noite inesquecível, e lá para o fim da noite o Leonel disse uma grande verdade:

O Natal não é feito de muita gente do mesmo sangue, nem das prendas em si, nem mesmo de um grande jantar e almoço em casa.

O Natal devia ser para se passar com as pessoas que considerássemos mais importantes e devíamos passá-lo da maneira que nos sentíssemos melhor e no local que mais gostássemos. O Natal devia ser feito, exclusivamente, de espírito e magia. E a magia somos nós que a criamos.

Não pude concordar mais com ele. Quem faz o Natal são as pessoas e o Leonel fez o meu Natal, foi a minha maior e melhor prenda, ele fez a magia, ele é que foi o Natal.

Aquela música da Whitney “All I want for Christmas is you…” não podia se adequar melhor ao momento.

Amei, obrigada Leonel por dares sentido ao Natal e à minha vida.

Friday, November 26, 2010

Hum...


Na vida há coisas que nos deixam perplexos. Acontece tanta coisa para a qual não temos explicação...arranjamos tantas explicações erradas para as coisas...
Pensamos que percebemos o que estamos a fazer, o que vemos, o que lemos, o que ouvimos, mas tantas e tantas vezes que não percebemos nem metade da complexidade de todas estas coisas. Assim como, raramente, percebemos totalmente a complexidade de uma pessoa.

O mundo ás vezes assusta-me mas continuo a ter a certeza que vale a pena viver nele.
Gosto de ter certezas, sabendo que é uma ilusão achar que tenho essas certezas. Nada é certo, nada é garantido, o verdadeiro é duvidoso, a mentira tem várias caras, o bom pode ser mau e o mau não tem sempre de ser horrível.


Não pretendo concluir nada, não pretendo ensinar nada, nem partilhar nada. Na verdade não pretendo nada.
Certos objectivos são tão difíceis de cumprir, as aspirações que temos, por vezes, tornam-se tão complicadas de atingir.
E quando tudo se mistura e envolve-se de uma maneira irreconhecível temos bom remédio: respirar fundo e esquecer.

Eu vou me esquecer um bocadinho e já volto.

Saturday, October 23, 2010

Empatia


Ali estava ele, sereno e frio, a olhar para o mar. Tive medo de me aproximar, aquela figura dele deixava-me a tremer por todos os lados.

Aproximei-me devagar e sentia que quebrava um muro a cada passo.

Há sempre momentos destes, em que sentimos que uma enorme energia está à nossa volta e sentimo-nos envolvidos por ela. E há pessoas assim que transmitem uma energia tremenda em qualquer lado e em qualquer altura, energia tal que não cabe nelas que não cabe em nós, que se espalha de tal modo que chega aos confins da Terra.

Quando cheguei ao pé dele queria tanto falar… mas a voz não me saia. Encostei-me ao corrimão e fixei o mesmo ponto que ele (fosse ele qual fosse). Um turbilhão de pensamentos passaram pela minha cabeça e nada me parecia correcto dizer.

Também há pessoas assim, que nos fazem perder as palavras e que nos fazem perder num labirinto, que nem sabíamos que existia, dentro de nós.

Olhei para o céu à procura de algum tipo de inspiração divina e começou a pingar. Ele riu-se e disse:

- Trouxeste a chuva contigo.

Cabisbaixa e tímida respondi:

- Desculpa.

- Eu adoro chuva. – Afirmou com um sorriso sincero.

E eu sorri também. Começou a chover violentamente e ele riu-se à gargalhada e rimo-nos os dois. Ficámos então, ali à chuva a rirmo-nos, de nada e ao mesmo tempo, de tudo.

Não foi preciso mais nada para saber que estávamos unidos por uma força maior que se chama empatia. E contra a empatia todas as armas são fracas, não há nada no mundo que quebre tal ligação. Acredito piamente nisso. Assim como acredito que podemos não ficar juntos mas sim, criamos outro mundo quando o estamos.


Foto de: Luís Bravo.

Friday, October 15, 2010

Para ti meu amor

Querida Neta, Neta querida,


Escrevo-te esta carta de despedida para que um dia, quando tenhas idade suficiente para a ler e a entender, possas ficar com um pouco de mim.

Espero que a minha filha e o homem que ela escolheu para ser teu pai cuidem bem de ti e te ensinem a ser aquilo que és. Eu confio na minha filha, sei que ela vai se esforçar para ser uma boa mãe para ti.



Não nos conhecemos mas sinto, sempre que toco na barriga da tua mãe, que vais ser parecida comigo. Estás sempre muito quieta e raramente chateias a tua mãe e quando o fazes é por uma boa razão, no entanto o teu batimento cardíaco é acelerado para um ser com o teu tempo de vida, como se vivesses sempre com grande entusiasmo cada instante do teu tempo...

Agora minha neta queria dar-te os conselhos de avó que todos nós devíamos ter tido. Não pretendo que te tornes perfeita apenas pretendo que te esforces para ser sempre uma pessoa melhor.


Quero que saibas que há coisas absolutamente magníficas na vida e elas são as mais puras e simples. Nunca te esqueças disto.

Não tenhas pressa e a vida vai te saber muito melhor. Não stresses, não vale a pena, contraria a maneira de ser da tua mãe nesse aspecto por favor. Respira fundo sempre que for preciso e desemaranha-te de tudo o que te prende.

Sorri, esquece, grita, chora, perdoa, ama… Acima de tudo tenta encontrar um ponto de equilíbrio na tua vida, promete-me que não vais parar de tentar…


Tem frio, acorda, tem calor, vai dormir, salta, pula, ridiculariza-te, dá-te valor, esperneia, observa, distrai-te, atenta, vive. Finge que sabes voar, voa mesmo.

Sê feliz da maneira mais fácil, sê tu mesma. Não sejas uma versão falsa de ti. Prometes-me isso?

Sabes…O bom do final da vida é saber que ficam cá outros para fazer melhor que nós, para ser mais que nós…

Querida neta, eu acredito que vais ser muito melhor que eu. Mas o mais importante é acreditares em tu mesma, nunca deixes de acreditar em ti. Acredita que o mundo se molda aos teus olhos e nas tuas mãos. Acredita! O segredo está no Acreditar. Acredita com um sorriso na cara e terás o mundo a teus pés.

Até qualquer dia amor.

Da tua avó Matilde que estará sempre contigo.

Saturday, October 9, 2010

O Livro do desassossego (95)

"Durei horas incógnitas, momentos sucessivos sem relação, no passeio em que fui, de noite, à beira sozinha do mar. Todos os pensamentos, que têm feito viver homens, todas as emoções, que os homens têm deixado de viver, passaram por minha mente, como um resumo escuro da história, nessa minha meditação andada à beira-mar.

Sofri em mim, comigo, as aspirações de todas as eras, e comigo passearam, à beira ouvida do mar, os desassossegos de todos os tempos. O que os homens quiseram e não fizeram, o que mataram fazendo-o, o que as almas foram e ninguém disse - de tudo isto se formou a alma sensível com que passeei de noite à beira-mar. E o que os amantes estranharam no outro amante, o que a mulher ocultou sempre ao marido de quem é, o que a mãe pensa do filho que não teve, o que teve forma só num sorriso ou numa oportunidade, num tempo que não foi esse ou numa emoção que falta - tudo isso, no meu passeio à beira-mar, foi comigo e voltou comigo, e as ondas estorciam magnamente o acompanhamento que me fazia dormi-lo.


Somos quem não somos, e a vida é pronta e triste, O som das ondas à noite é um som da noite; e quantos o ouviram na própria alma, como a esperança constante que se desfaz no escuro com um som surdo de espuma funda! Que lágrimas choraram os que obtiveram, que lágrimas perderam os que conseguiram! E tudo isto, no passeio à beira-mar, se me tornou o segredo da noite e da confidência do abismo. Quantos somos! Quantos nos enganamos! Que mares soam em nós, na noite de sermos, pelas praias que nos sentimos nos alagamentos da emoção! Aquilo que se perdeu, aquilo que se deveria ter querido, aquilo que se obteve e satisfez por erro, o que amámos e perdemos e, depois de perder, vimos, amando por tê-lo perdido, que o não havíamos amado; o que julgávamos que pensávamos quando sentíamos; o que era uma memória e críamos que era uma emoção; e o mar todo, vindo lá, rumoroso e fresco, do grande fundo de toda a noite, a estuar fino na praia, no decurso nocturno do meu passeio à beira-mar...


Quem sabe sequer o que pensa ou o que deseja? Quem sabe o que é para si-mesmo? Quantas coisas a música sugere e nos sabe bem que não possam ser! Quantas a noite recorda e choramos e não foram nunca! Como uma voz solta da paz deitada ao comprido, a enrolação da onda estoira e esfria e há um salivar audível pela praia invisível fora.


Quanto morro se sinto por tudo! Quanto sinto se assim vagueio, incorpóreo e humano, com o coração parado como uma praia, e todo o mar de tudo, na noite em que vivemos, batendo alto, chasco, e esfria-se, no meu eterno passeio nocturno à beira-mar!"

Bernardo Soares

Saturday, September 25, 2010

Os meus fantasmas

A minha cabeça está cheia de nada. Tento construir frases que façam sentido mas já nada me faz sentido.

Bem, a minha vida nunca foi fácil mas ela também não é exemplo para ninguém. Vou falar dos meus fantasmas...

Quando era pequeno o meu pai batia-me e a minha mãe estava constantemente a deitar-me abaixo. Cresci a achar que era lixo, que não era nada. Cheguei a perguntar-me porque raio tinham eles os dois me posto no mundo.

Quando já tinha os meus 26 anos encontrei uma mulher lindíssima por fora e por dentro que me quis aturar, supostamente, até ao resto da vida dela (Foste tu Madalena, pobre de ti.)

Eu que nunca fui líder de coisa nenhuma e nunca fui superior a nada comecei a sentir-me poderoso quando lhe batia e via o medo nos seus olhos. Isso, incrivelmente, fazia-me sentir melhor comigo mesmo e com o mundo.

Durante anos a minha rotina era: acordar, comer, ir trabalhar, chegar a casa, bater nela, petiscar e ir dormir. A minha consciência estava adormecida e eu tornei-me naquilo que sempre pensei ser, lixo.

Escrevo-te agora Madalena para te pedir desculpa pelo trauma que te causei e pedir-te que afastes o nosso filho de mim.

Desculpa por ser como sou... Há coisas que são quase impossíveis de mudar, é algo que já vem nos genes e que se entranha tão fundo que se mistura com a nossa essência... Isto se já não fizer parte dela.

Parvoíces que estou para aqui a dizer, a tentar desculpar-me por algo que não tem desculpa.

Sou culpado. Condenado a ser lixo desde que nasci. E o destino ninguém muda. O meu sempre foi negro…

Amanhã me matarei Madalena. Amanhã será o dia do alívio, finalmente.

Wednesday, September 8, 2010

Não era bom?


Cristina sentara-se para ver a multidão a dançar, ao ver tantos pares uma parte dela sentiu-se mal por estar só. Começou a pensar nas vezes que tinha sido verdadeiramente feliz e apercebeu-se que nunca tinha sido assim com alguém ao lado dela. Mergulhada na sua infelicidade olhava a multidão com olhos baços e fixos num só ponto. Até que um homem misterioso com um penteado invulgar senta-se ao lado dela sem que ela se aperceba.
Quando uma música calma começa a tocar o homem levanta-se e sem dizer uma palavra estende-lhe a mão.
Cristina incrédula pensa que aquele homem é fruto da sua imaginação e demora um tempo a juntar a sua mão à dele. Aquele homem baixo com um olhar profundo e gestos decididos dançou com Cristina encostando a sua cabeça à dela e empurrando o corpo de Cristina contra o seu. Cristina estava tão chocada que não conseguiu sair dali e continuo a dançar. Parecia que aquele homem desconhecido estava a jogar com ela um jogo de sedução. E ela estava a cair. A mão dele encontrado-se 1 cm a cima do rabo dela e o seu nariz encostado à sua orelha, eram gestos de intimidade e estranhos entre desconhecidos. Noutro dia qualquer ela tinha-se afastado daquele homem e fugido a sete pés, no entanto naquele momento ela não se conseguia deslargar daqueles braços fortes e do ambiente, estranho e ao mesmo tempo ternurento, que a abraçava.

Quando a música terminou o estranho homem pegou na mão de Cristina e saiu com ela daquela sala de hotel. Fora da sala encosto-a à parede e deu-lhe um beijo prologando. Cristina sentiu-se em casa com aquele beijo e não percebeu bem como e porquê. Sentiu-se tão em casa que quando ele a levou lá para cima para o quarto dela ela nem se perguntou como é que ele sabia qual era o seu quarto. Deito-a na cama e não lhe deixando respirar dava-lhe beijos e tocava nela de uma maneira familiar. A Cristina estava anestesiada com tudo aquilo e nem conseguia pensar. Começou a ir na onda dele e o tempo passou a correr. Cristina já estava exausta antes daquilo tudo acontecer portanto não foi de admirar o ter adormecido logo a seguir a ele ter saído dentro dela. A meio da noite acordou e pensou que tudo aquilo tinha sido um sonho porém, quando olhou para o lado viu o estranho homem deitado a respirar calmamente e com um ar angelical. Cristina pensava que ainda estava a sonhar e por isso agarrou-se com muita força ao braço dele querendo com essa mesma força continuar naquele sonho mais um bocadinho. E voltou a adormecer. De manhã acordou muito bem disposta, levantou-se e foi à janela respirar o ar puro matinal. Fechou a janela e olhou para a cama, estava lá um envelope com o seu nome escrito. Cristina pegou nele, abriu-o e leu o que nele continha: - Não desistas nunca de encontrar alguém que te faça feliz.

Não era bom se estas coisas acontecessem na vida real? Não era bom se ás vezes bastasse um olhar para perceber o que os outros precisam? Não era bom se tivéssemos a iniciativa de ajudar desconhecidos?


Thursday, August 12, 2010

Compreensão/Incompreensão

No conforto de minha casa estava a olhar pela janela e a ver as estrelas no céu. Fui interrompida pelo telefone a tocar.
- Estou? - E fiquei perplexa ao ouvir a voz do outro lado. Queria-se encontrar comigo. E eu pensei: Porquê? Depois da confusão em que o tinha posto, depois de o ter decepcionado mais do que uma vez... Porquê?
Fiquei uns segundos em silêncio e depois disse-lhe que sim, que iria encontrar-me com ele. Perguntei o sítio e a hora e ele respondeu-me que dali a 10 minutos estava em minha casa. E desligou o telefone.

Nesses 10 minutos eu fiquei exactamente no mesmo local, à janela a ver as estrelas no céu, não mudei de roupa, não me maquilhei, nem ajeitei o cabelo. Estava cansada de o fazer, não me apetecia ser boneca só me apetecia ser eu.
Tocaram à campainha e eu, muito calmamente, fui abrir a porta.
Lá estava ele com um olhar preenchido de mil e uma palavras, e não vazio como tinha estado nos últimos dias.
Eu fiz um gesto com a mão para que ele percebesse que podia entrar e um sorriso ao de leve para que ele percebesse que seria sempre bem-vindo e que podia sempre voltar.
Entrou e sentou-se no sofá. De seguida sussurrou um: - Nunca entrei em tua casa. E eu sussurrei um: - Pois não.
E ficámos em silêncio, um silêncio cheio de coisas que queriam ser ditas e não saiam das nossas bocas. Ao mesmo tempo pedíamos desculpa um ao outro. Às tantas sem saber quem era o mais estúpido ali.
Ele aproximou-se de mim, olhou nos meus olhos, tocou ao de leve nos meus lábios com os seus dedos carinhosos e deu-me um beijo de um segundo: - Desculpa ter-te exigido algo que não podias dar.
Segurei-lhe na mão, olhei nos seus lindos olhos: - Desculpa ter fingido que te conseguia amar.
E abraça-mo-nos, sabendo que aquele momento continha toda a verdade sobre os últimos meses.
Desabraça-mo-nos e o que as bocas não queriam dizer os olhos diziam: aquela seria a última vez que estaríamos juntos.

Ele não disse mas os seus lábios pareciam mexer-se para comunicar-me um desejo dele: queria que eu fosse feliz.
Levantei-me e fui abrir-lhe a porta. Levantou-se e foi em direcção à porta.
Antes dele sair cheguei-me ao ouvido dele e agradeci por tudo. Ele respondeu-me com um sorriso suave e foi-se embora.
Fechei a porta, respirei fundo, pensei na sorte que tive por encontrar pelo caminho uma pessoa tão espectacular e fui dormir. Passando-me ao lado todo o seu sofrimento, passando-me ao lado toda a sua realidade que não era a minha.

Sunday, July 18, 2010

Falar a mesma língua (200 posts)

O tempo corre, e assim já passaram mais de 3 anos que tenho este blog. Muito de mim está nestes textos e muito de mim por cá ficou, muito de mim continua cá, escondido nas entrelinhas.
Obrigado àqueles que se juntaram a mim e aos meus pensamentos e àqueles que continuam por cá a respirar comigo. Obrigada aos que mesmo escondidos continuam a acompanhar-me sorrateiramente e dando-me, de vez em quando, oxigénio para que continue a viver.

Estou a escrever uma história que temo demorar a terminar. Por isso coloco aqui um texto escrito há pouco tempo sobre a compreensão e a empatia:


Pensa-se que basta falarmos o mesmo dialecto para nos entendermos, mas comprova-se, tantas vezes, que não é bem assim.

Todos nós falamos a nossa própria língua, temos as nossas próprias expressões, o nosso tom de voz, uma maneira muito própria de nos dirigirmos aos outros. A nossa maneira de ser molda a nossa maneira de falar e o nosso discurso.

Podemos falar todos português porém, encontrar alguém que fale a nossa própria língua pode ser bastante complicado, assim como pode-se tornar deveras complicado compreender outras línguas diferentes da nossa. Para compreender plenamente é preciso falar da mesma maneira, ou seja, rir das mesmas expressões, imitar as mesmas palavras, falar com o mesmo tom de voz, é preciso criar uma sintonia de palavras e, simultaneamente, pensamentos (a isso se chama empatia). “Empatizar” nem sempre é fácil, logo não é fácil compreender plenamente.

Sabe-se que uma pessoa está a tentar falar a nossa língua, quando imita os nossos gestos. Mas do tentar ao conseguir vai uma longa distância. Uma pessoa só consegue falar a nossa língua quando o que lhe sai é natural, quando o que diz e a maneira como o diz é igual a nossa desde sempre. Ou melhor quando duas linguagens conseguem se fundir numa só.

Mais uma vez repito, encontrar esse alguém não é nada fácil, por isso quando o encontramos é normal que fiquemos um pouco viciados nele, já nos custando fazer um esforço para entender a linguagem dos outros. Custando-nos ainda mais adaptar a nossa língua a outra que não é a nossa.

Podem pensar e dizer o que quiserem (somos todos livres de o fazer) mas, para mim, o interesse não é esforçarmo-nos por falar a língua do outro, o interesse está em quando não precisamos de fazer esse esforço e compreendemos naturalmente a linguagem do outro. O interesse é quando descobrimos uma linguagem que, no fundo, é a mesma que a nossa.

Eu falo a língua do Ar e sei que há quem, não só fale como respire como eu e não há nada mais gratificante que isso.

Sunday, July 11, 2010

Random thoughts

Tem sido difícil arranjar tempo para escrever em todos os meus blogs e por serem cada vez mais e eu não ter muito tempo de momento, acabo por deixar o meu blog base, Ar puro, um bocadinho sozinho. A inspiração também não tem sido muita e os pensamentos estão a ser concentrados noutras coisas, no entanto não quero deixar este blog de lado de maneira nenhuma.

Hoje não vou escrever uma história, random thoughts it will be.



Sair. Fugir. Longe. Daqui.
Sorrir. Para ti. Para mim. Por mim.

Viver. Assim. Viver. Nada. Tudo. Nada. Tudo. Nada.
Querer. Basta. Querer. O resto. Detalhes.
Sonho. E sonho. E volto a sonhar. Imagino que a Vida há-de voltar. Não só ela mas a esperança também. E a liberdade. E a felicidade. E a alegria. E tudo o que me foi tirado no decorrer desta "vida".

O próximo post será o 200 deste blog. Será especial. Espero que o consiga tornar especial.

Friday, June 18, 2010

Just passing by



Há anos que vivia sozinha com a minha mãe. O meu pai deixou-me a mim e à minha mãe quando era pequena, disse que ia arranjar dinheiro e nunca mais voltou. Tem sido difícil viver sem ele, a minha mãe chora todos os dias e eu costumo dizer aos meus amigos que vão lá a casa que ele tem um trabalho muito importante e que está em casa poucas vezes. Ele abandonou-nos e nem se despediu como deve ser. Há 1 ano a mãe arranjou namorado, e eu estava quase a esquecer que não tinha pai, até porque o namorado dela é simpático... Quando o meu pai apareceu do nada e deu-me um grande abraço. Disse que tinha tido muitas saudades minhas e que tinha uma foto minha na carteira para a qual olhava todos os dias. Ficou um dia inteiro comigo e fomos a montes de sítios desde jardins a parques, até passeámos pela costa e tudo. Gostei muito. No fim a minha mãe deixou-o jantar connosco. No final do jantar ouviu-os a discutir imenso e fiquei triste. Depois o meu pai foi-me aconchegar à cama, afirmou que gostava muito de mim e que eu estaria sempre no seu coração e pediu desculpa por todo o tempo que esteve sem aparecer. E eu pedi-lhe "Pai promete-me que desta vez não vais, promete que ficas connosco." Agarrando-lhe na mão firmemente. E ele com uma lágrima no canto do olho disse "Prometo princesa, o pai nunca mais vai sair daqui, agora dorme descansada." E deu-me um beijinho na testa. Eu dormi como um anjo, com aquelas palavras dentro de mim. No dia seguinte acordei com um sorriso nos lábios, saltei da cama e procurei por ele... "Pai, pai, paiii." E nada, ninguém respondia. Quando apareceu a minha mãe e com muito cuidado disse que o meu pai tinha ido embora outra vez. Eu muito espantada exclamei "Não, não pode ser, ele disse-me que ficava..." E chorei, chorei muito.

Foi a partir daí que nunca mais acreditei em ninguém...

Sunday, May 23, 2010

Caminho para a felicidade


Era uma pessoa de ideias fixas, e era teimosa, muito teimosa. Portanto quando eu disse, em voz alta, que não queria ter filhos pensava mesmo que nunca iria mudar de ideias. Porém a vida é demasiado incerta para usarmos a palavra nunca com a intenção que ela perdure. É como a palavra sempre, que raramente é dita de modo totalmente verdadeiro, há sempre o sempre que não é sempre, é só a maior parte das vezes ou muitas vezes...

Hoje talvez perceba o porquê dessa ideia, tinha o exemplo dos meus pais e achava que se fosse para tratar os filhos da mesma maneira que eles me trataram a mim mais valia não os ter.

Depois mudei de ideias, comecei a adorar crianças mais do que a própria vida e achava que devia adoptar pois haviam imensas crianças que precisavam de uma família. Não percebi bem esta mudança radical só sei que elas tornaram-se muito mais especiais do que alguma vez pensei que pudessem ser.

Mas não ficou por aí, acabei por mudar outra vez de ideias. E há uns anos atrás decidi que queria ter filhos, não um mas mais do que um, decidi que custasse o que custasse queria ter uma família grande. Daquelas que têm de tudo desde avós chatos a tios babados e filhos e irmãos que andam sempre à porrada. Descobri que esse era um dos meus grandes sonhos, ter uma família como nunca tive.
Claro que para isso tinha que me juntar com um homem que já tivesse uma família grande.
Por isso quando conheci o Lourenço fiquei a jubilar de alegria. Ele era especial e tinha uma família enorme, muitos irmãos, sobrinhos, tios e primos que eram como irmãos e avós que eram como pais...
Para além de tudo isto adorava a sua família, a maioria eram pessoas incríveis.

Éramos novos mas ambos tinhamos a cabeça, mais ao menos, no sítio. Tínhamos 18 anos e andávamos os 2 na universidade quando aconteceu...
Quando falei com ele ficámos os dois a olhar um para o outro sem saber o que fazer.
Ficámos umas semanas um bocado sem rumo, principalmente quando soubemos que eram gémeos... Eu fiquei tão feliz e ao mesmo tempo tão confusa e baralhada. Ele sorria e chorava, demonstrando um lado inseguro dele que não conhecia.

Sabíamos que era uma responsabilidade tremenda e por isso decidimos contar à família dele. Eu fui um bocado a medo mas o Lourenço tinha a certeza que eles nos iam apoiar. E tinha razão. Disseram-nos para termos aqueles filhos e que sempre que precisássemos eles estariam ali.

Então nós pedimos dinheiro aos pais dele para comprarmos uma casa ali ao pé deles e arranjámos os dois um emprego ao mesmo tempo que estudávamos à noite.
Enquanto eles não nasceram deu para juntar algum dinheiro para comprar os brinquedos, os berços, as fraldas e tudo o mais. Mas quando eles nasceram tornou-se complicado gerir tudo aquilo. Começámos a pensar nas várias hipóteses que tínhamos e percebemos que íamos ter de desistir de alguma coisa. Felizmente que eles nasceram no Verão e todos os problemas pareciam mais pequenos devido ao sol e ao calor.
O Lourenço parou de estudar, com alguma pena dele, e foi trabalhar com o pai na sua empresa de jardinagem. E eu depois de estar dois meses em casa com os meus filhos fui para o meu segundo ano no curso de gestão.

Eram um menino e uma menina lindíssimos, o Diogo era muito parecido comigo e a Inês tinha uns traços do pai e dos avós. Não me arrependo das decisões que tomámos por eles e o Lourenço também não. Ele disse que nada era mais importante que os nossos filhos, e para mim foi a maior prova de amor que nos podia dar.

Valeu a pena todos os esforços que fizemos!
Hoje em dia, o Diogo e a Inês têm 3 anos e eu não podia estar mais feliz. A família dele está sempre lá em casa, que ainda só tem os móveis principais e as coisas dos miúdos, e ajudam-nos imenso.
Hoje penso no passado e sei que se não fosse a família dele não teríamos conseguido, provavelmente nem tínhamos tido o Diogo e a Inês... E este pensamento faz-me adorar ter escolhido o Lourenço para pai dos meus filhos, se não fosse ele e a sua família não estaria tão feliz como estou agora.
Ter filhos é o melhor que podemos fazer por nós próprios, eles ensinam-nos a viver de novo, de uma maneira especial e única.

Muitas das vezes os verbos mais importantes são o querer e o gostar. São eles que movem montanhas.
Nós queríamos e gostávamos e, melhor, tínhamos quem quisesse e gostasse connosco.

Só queria que soubesses...II


Eu disse... Eu disse que não podia, eu disse... Arrisquei, porque já não conseguia mais viver com esta insatisfação, mas lá no fundo sabia que isto não ia dar em nada...
(Nunca deu.) Estou chateada sim! Tenho uma vontade enorme de me bater. Devia ter ficado quieta e não ter ido atrás de ti. Devia ter dito que não.
Mas como é possível dizer que não a alguém como tu?


Só queria que soubesses que gosto de ti...
Porém, sei-o agora mais do que nunca, não posso dar-te aquilo que mereces e precisas. Apesar de querer, não posso. Não consigo...

Eu, sou toda, algo irracional, algo estranho, algo impossível. Gostar de mim é um desperdício de tempo. Eu, nunca conseguirei corresponder.

Wednesday, May 12, 2010

Um Ninguém


Matilde tinha ficado a fazer horas extra no hospital, como de costume, e sentia-se extremamente cansada, tinha sido uma noite longa e ela só queria ir para casa deitar-se.
Quando entra um paciente pelas portas da urgência a dentro ela suspirou, chegando à conclusão que ainda não era naquele momento que ia para casa.
- Qual é o seu estado? - perguntou Matilde.

- Este senhor foi encontrado na rua a cortar os próprios pulsos, não tem identificação e já perdeu demasiado sangue. - diz um dos paramédicos que o trouxe.


Este senhor de barba rija e comprida, com buracos evidentes em toda a sua vestimenta, desde os sapatos até ao boné que usava, entrou na sala de operações a delirar. Os médicos conseguiram parar a hemorragia e tratar-lhe dos cortes. Quando estava estabilizado foi levado para os cuidados intensivos. Sobreviveu. Tinha perdido muito sangue mas não o suficiente para se cumprir o seu desejo.

Matilde começou a pensar o que levaria uma pessoa a cortar os pulsos, o que levaria uma pessoa a desistir de viver... E enquanto pensava nisto ia-se vestindo para ir para casa. Mas antes de ir decidiu passar pelo quarto deste senhor... Estava ela a olhar pela janela para dentro do quarto dele quando viu que o seu ritmo cardíaco tinha começado a acelerar. Entrou para dentro do quarto para tentar perceber o que se passava quando o senhor acordou:
-
O quê? Eu ainda estou vivo? Bolas! Nem matar-me como deve ser consigo... - disse desiludido e com uma voz baixa quase imperceptível.
- Boa tarde, eu sou a enfermeira Matilde. Tem algum familiar que queira contactar?

-
Eu não tenho ninguém minha senhora. Nem casa, nem emprego, nem nada de valor. Os meus amigos são uns amigos da onça que à mínima oportunidade roubam-me o pão que tanto me custa a comprar. Eu não acredito que ainda estou neste mundo que nada me diz e a quem já não tenho nada a dizer... - disse o senhor já numa voz mais audível.
- Não diga isso, existe sempre esperança.

- A minha já se perdeu... Os meus pais mandaram-me para fora de casa há muitos anos e desde aí que tenho vivido nas ruas. Sendo um parasita para a sociedade, não sendo sequer considerado uma pessoa para a maioria. Gostava tanto de ter estudado e me ter tornado alguém na vida. E de ter tido uma mulher e dois filhos...
Enfim, nasci e o meu destino já estava traçado para ser ninguém.(pausa para suspirar) E ninguém morrerei. - desabafou já com uma voz perfeitamente normal.


Matilde já muito atrapalhada com tal desabafo e sem saber o que dizer, saiu da sala e foi buscar um psicólogo que pudesse ajudar aquele pobre homem.

Quando voltou a máquina estava a apitar fervorosamente e o senhor não se encontrava no quarto. Foi uma questão de segundos até toda a ala dos cuidados intensivos ouvir um grito de um homem. Era a voz do senhor sem identificação.

Matilde foi a correr até onde pensou ter vindo o grito e encontrou o homem moribundo no chão, com sangue a esguichar da garganta. Ele tinha partido o espelho da casa de banho e tinha cortado a sua própria garganta. O grito que se tinha ouvido tinha de ter sido feito antes de ter cortado a garganta, como uma despedida do mundo.
Matilde estava boquiaberta com este fim tão trágico e começou a pensar em como alguém podia passar pela vida sendo Ninguém e Ninguém morrer.

Matilde tinha de ligar para a funerária e este senhor tinha de ser enterrado.
- Mas... - perguntou-se ela - ...que nome irá ficar na sua campa? Que mensagem vai lá estar gravada?
Matilde só de pensar numa lápide em branco enchia-se de tristeza e melancolia, e por isso, gastou do seu próprio dinheiro e mandou esculpir na lápide:


- João Maria Ribeiro, Marido carinhoso, Pai dedicado, Um engenheiro brilhante, Deixa saudades.

- Assim, talvez consiga ir em paz, sabendo que deixou a Terra com um nome e com uma família...

Sunday, May 2, 2010

Um Vendedor de Sonhos


Naquele dia, mergulhada nos meus pensamentos, ia para a escola a pé, quando um Senhor interrompe abruptamente o meu mundo e faz-me entrar no dele.

Este Senhor queria saber as direcções para um local que era ali perto, mas mesmo depois de eu lhe dar essas direcções ele não se foi embora e começou a falar.
A falar sobre todo o tipo de coisas, sobre a vida, sobre a família, sobre as pessoas... Ás vezes era difícil perceber o que dizia porque falava muito baixinho e eu sempre fui um bocado surda, mas juntado as partes da conversa que percebi: O Senhor vinha de Goa e trabalhava em Portugal. Não sei bem onde, isso já não consegui perceber.

No meio de tanta conversa, ele falara de como as pessoas de hoje em dia eram oportunistas e de como faltava humanidade e bondade em muitas delas. Ele falou-me do dinheiro que não valia nada e da amizade que era uma das coisas mais importantes na vida.

Este Senhor transbordava simplicidade e transparência. E sabedoria, muita sabedoria, uma sabedoria escondida de quem já viveu muito e passou por muito. Uma sabedoria que não vale grande coisa para a sociedade de hoje, mas que torna a pessoa, absolutamente, mais rica interiormente.
Ele ainda me disse que o ser humano estava-se a perder e que fazia coisas absolutamente abomináveis.
O Senhor falou e falou e continuo a falar como se não tivesse tido ninguém para falar nos últimos anos e precisa-se de partilhar tudo o que estava "lá" dentro.
Disse-me também que não havia pessoas iguais no mundo, e a isso eu respondi: - Pois não, só parecidas. - E ele abraçou-me, como quem abraça um/a irmão/ã, um/a amigo/a. Eu fiquei perplexa mas comecei-me a rir.
A minha natureza é essa, começar-me a rir quando não sei que mais fazer. E ele afirmou que eu era uma óptima pessoa e disse que o que tínhamos nunca ia ter com ninguém. (
Sim continuo a falar de um desconhecido que nunca tinha visto na vida.) Senti-me lisonjeada com tal afirmação e ao mesmo tempo atónita com o que estava a ouvir.
E abraçamo-nos novamente, uma união de almas a despedir-se.
- Prazer em conhecer e até breve.
- Até breve.
____________________________________________________________________________________

Sinto que aprendi muito, aprendi que existem pessoas realmente únicas neste mundo. Aprendi a nunca desistir de encontrar esse tipo de pessoas, que podem não ser iguais a nós mas são, imensamente, parecidas.
(Pelo menos no que importa, cá dentro no coração)
Nunca esquecerei a conversa que tive com aquele Senhor. Assim como sei que ele nunca me esquecerá a mim. (Basta lembrar-me dos momentos em que quase vi lágrimas nos seus olhos.)
Nesses momentos, até eu ficava emocionada.


Foi um privilégio Senhor Mário, a sério que sim. Obrigada por me ter relembrado o que é um ser humano de verdade.
Hoje em dia é tão complicado achar um.

Invictus


Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,

I thank whatever gods may be

For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance

My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears

Looms but the Horror of the shade,

And yet the menace of the years

Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate;
I am the captain of my soul.


by William E Henley

Friday, April 16, 2010

Só queria que soubesses...


Quando eu te disse aquilo estava a brincar, esqueci-me que tu levavas tudo a sério. E disseste que comigo ias até ao fim do mundo. Eu achei aquilo uma loucura mas sempre tinha sido esse teu lado louco que me deixava babada por ti. E não desistias, dizias que querias ir e que querias que eu fosse contigo. Eu chamei-te doido (que é o que tu és). Tu afirmaste que eu era demasiado calculista e pouco extrovertida.
A verdade é que
nunca me deixaram ser o que queria...
Esse tipo de loucuras sempre me atraiu bastante. Tinha muita vontade de ir a onde quer que tu fosses e viver loucuras contigo. Porém, essa vontade dissipava-se quando pensava para além do presente.
Se fosse pela emoção, pela intuição eu ia e ficava contigo até não haver mais sol e não haver mais lua nem estrelas. Se fosse o último dia da minha vida ia certamente ter contigo e fazer todas essas loucuras que nunca fiz por várias razões.
No entanto, o futuro existe e as coisas mudam, e para além de emoções existem sentimentos e esses quando provocam dor não é aguda é grave.


Queria que soubesses que eu queria, mas não posso.
Queria que soubesses que eu queria mesmo puder.

Saturday, March 27, 2010

Batendo no fundo


E perguntava-me, constantemente, para onde tinha ido todo aquele amor. Aquele amor que o Francisco dizia que sentia por mim, para onde tinha ido ele? E será que era mesmo isso que me interessava?
Estava tão cansada e tão triste que quando o Rodrigo (que eu sabia que aproveitava-se de todas) se aproximou de mim a perguntar se estava tudo bem eu beijei-o. Ele claro não se afastou e perguntou-me se eu queria ir para o carro dele. Eu disse que sim nem pensando bem na minha resposta. Mal chegámos lá ele saltou para cima de mim como um animal cheio de fome.
Quando tinha acabado de despir-me a parte de cima eu "acordei", afastei-o, vesti-me à pressa e sai do carro a correr. Parei ao pé de uma igreja e sentei-me cá fora.
Não era religiosa, tinha ido simplesmente lá parar. Aquele sítio estava deserto àquela hora do dia...

Eu respirei fundo e começaram a cair-me lágrimas do canto do olho. Tinha batido no fundo, estava tão desesperada que já não sabia mais que havia de fazer.
De repente alguém interrompeu os meus pensamentos. Era um homem que estava sentado demasiado perto de mim. Quando reparei nele comecei a levantar-me. O homem veio ter comigo e perguntou-me as horas.
No exacto instante em que olhei para o relógio ele agarrou-me por trás, tapou-me a boca e pegou-me ao colo. Eu ainda tentei fugir mas foi em vão, o homem era fortíssimo.
Ele levou-me para dentro da igreja, para dentro do confessionário e tirou-me a roupa com uma rapidez impressionante, mas até de uma forma delicada. Eu, em segundos, fiquei completamente nua à frente do desconhecido. O homem pegou na minha cara, olhou-me nos olhos e como se tivesse entrado dentro da minha alma disse:

- Não quero que sofras mais.
E beijou-me como nunca ninguém me tinha beijado, e fez amor comigo ali naquele sitio, naquele momento. Fiquei tão chocada que parei de lutar e deixei-me ir. Ele foi rápido, conseguindo mesmo assim entrar e sair dentro de mim as vezes suficientes para eu ter, incrivelmente, um orgasmo. E no fim vestiu-me quase tão depressa como me tirou a roupa. E foi-se embora... Mas não sem antes me lançar um olhar intenso. Um olhar como nunca tinha visto antes, um olhar que parecia estar cheio de significado e valor.

Vestida com sangue à minha volta, estava absolutamente perplexa com o que tinha acontecido.
Quando finalmente consegui mexer-me sai do confessionário. Continuava sem ver uma única pessoa.
Sentei-me num banco da igreja e comecei a tentar formar frases na minha cabeça.

O homem... Violo-me. Mas... As suas palavras... O seu olhar... Mas... Como?! O homem... Salvou-me.

Saturday, March 13, 2010

Invisível aos teus olhos


E lá estava ela, decidida nos seus passos mas, ao mesmo tempo, com um pouco de indecisão no seu olhar. Sempre que a via o meu coração parecia que ia sair do peito. A sua beleza era estonteante, o seu sorriso um outro mundo...Ela brilhava com cada movimento que fazia.
Não a conhecia sem ser de vista, contudo desejava ardentemente falar com ela, estar ao pé dela e puder olha-la de perto.


Um dia vi-a deixar cair uma folha no chão e achei que era a minha hipótese, fui a correr apanhar a folha e levei-a até ela:
- Olha descu-lpa deixaste cair isto - disse eu a medo.

Ela sorriu e agradeceu e eu fiquei parado naquele mesmo sítio a reviver aquele momento como se fosse um filme. Era tudo demasiado parvo mas eu não conseguia resistir, não conseguia parar de olhar para ela a ir embora com o seu cabelo a esvoaçar...

Quando acordei deste sonho que tinha sido real, tive que dar uma estalada a mim mesmo para ter a certeza que não estava sonhar.

Uns dias depois vi-a sozinha sentada num banco, tive muito tempo de volta daquele banco até ganhar coragem para ir falar com ela. Quando fui disse tudo mal e tudo trocado, as palavras saíram todas erradas da minha boca. Ela mesmo assim não me tratou mal e disse-me o seu nome: Sónia...
Depois disse-me que queria estar sozinha e pediu-me para falarmos outro dia. Eu saí de ao pé dela aos pulos de alegria por ter falado com ela, por ter tido o privilégio de ouvir a sua voz a dirigir-se a mim.


Nos dias seguintes ela dizia-me olá mas não dizia mais nada. Como estava sempre com as amigas também não a queria chatear e por isso também não dizia mais nada.
Até um dia que ela passou por mim e cumprimentou-me com dois beijinhos (ainda os devo ter gravados nas minhas bochechas). Nessa altura pedi-lhe o email, a pensar que ia conseguir falar mais com ela. Porém, depois de termos falado algumas vezes no msn ela deixou de lá ir. E as vezes que me dizia alguma coisa lá na escola eram cada vez menos. Ás tantas começou a já não me dizer nada quando passava por mim.
Fiquei destroçado pelo desprezo, por ter deixado de falar comigo assim do nada. Fiquei tão perplexo que até hoje ainda não tive coragem para ir falar com ela sobre isso. Mas gostava de saber porquê... Porquê?!

Ainda há pouco tempo vi-a sozinha outra vez, sentada no mesmo banco onde me disse o seu nome e me permitiu entrar na sua vida (mesmo que tenha sido por pouco tempo). Nesse dia sentei-me no banco ao lado do dela e fiquei ali muito quieto, ela nem se apercebeu da minha presença... Até que uma amiga dela chamou-a e ela levantou-se e foi ter com a amiga.
No momento em que se levantou reparou que eu estava ali mas desviou logo o olhar e continuou a sua vida... Como se eu fosse um mero desconhecido, como se nunca nos tivéssemos cruzado, nem falado, nem nada.
Como se fosse invisível.

Detesto-a! E detesto-a porque, apesar de tudo, continua a brilhar.
E brilha, brilha, brilha...

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"...o meu coração é uma floresta cheia de nevoeiro - guarda tudo e não encontra nada. Sou uma recordadora profissional. Vivo de recordações, mesmo daquilo que ainda não fiz.E repito infinitamente os mesmos truques. Iludo-me. Penso sempre que amanhã é que vai ser. Desenvolvi um erotismo futurista: deleito me com o puro prazer dos meus sonhos.De certa maneira, já vivi tudo, porque em sonhos consigo projectar-me inteira nos corpos, nos sentimentos e nas experiências dos outros. Tenho uma capacidade estereofónica; posso ter ao mesmo tempo cem e dezoito anos. O que é um cansaço..." IP