Tuesday, January 8, 2013

Teorias da razão

Lá fora está a chover, cá dentro está quente e confortável. Mas quantas vezes é que o conforto é viver uma vida monótona? 

Esquecemo-nos das raízes, esquecemo-nos do que é que realmente nos apaixonava na vida quando começámos a criar conceitos como: conforto, conformação, sucesso, estabilidade, poder...
Este pensamento dilacerou-me o coração e tive que sair daquelas quatro paredes. A minha mãe aos gritos a dizer que era tarde e estava a chover para eu não sair de casa. E eu a ir na mesma, a fechar a porta e a sentir as pingas da chuva a tocarem-me na cara.
 Não me preocupei se ia ficar constipada ou se ia ficar sem maquilhagem, senti e comecei a andar sem direcção aparente. 
 Pensei na razão que gostamos que tudo tenha e senti-me oca. Aquela sensação que passamos anos e anos a fazer, dizer e sentir coisas que nos são impostas pela razão, deixando de parte as coisas que são ditas por impulso que são as mais verdadeiras, deixando de parte as coisas que fazemos por impulso que, por vezes, são as que nos dão mais prazer e, principalmente, deixando de parte sentimentos que são irracionais apenas por isso mesmo. Sentimentos e emoções que deveriam ser o que comanda a vida.
 Se todos tivessemos isso em conta, acredito que seriamos pessoas bastante diferentes e, claro, mais felizes.
Ia reparando à minha volta e viasse poucas pessoas, algumas a pares a partilhar o guarda-chuva, outras a olhar para o chão com um guarda-chuva pequeno, as poucas crianças que se via na rua eram as únicas que brincavam a saltar em cima das poças, os pais, claro, sempre a reclamarem, a dizerem-lhes para virem para debaixo do guarda-chuva.

Tornámo-nos ao longo dos anos superprotectores da nossa espécie, e cresceu o medo por todos as pequenas coisas que podem matar e destruir vidas humanas. Como se fossemos um género de espécie sagrada mais valiosa que a própria natureza. Que a própria natureza...

Parou de chover sem eu me ter apercebido, as nuvens começaram a dispersar, e a noite ficou maravilhosamente estrelada. 
Valia a pena estar ali naquele momento, valia a pena ter passado pela tempestade para ver a bonança, vale a pena conhecer todos os lados da natureza. 

Ao longe vi uma cara que me parecia familiar. Olhei melhor e era uma boa amiga que já não via há muito tempo, quando ela me viu fez um sorriso enorme e começou a andar na minha direcção. Foi aí que soube que, arrumando todas as teorias sobre o mundo, a vida e a nossa espécie e parando de pensar de uma forma geral, aquilo, aquele momento e aquele sorriso era o que realmente importava. Aqui e agora, a partilha. Pois algo que tinha aprendido há pouco tempo é que nada era tão essencial como partilhar a felicidade com alguém. 
 É só isso que nós, espécie humana, procuramos e realmente queremos. O resto são pormenores. Mesmo a própria natureza.
E é por procurarmos tanto e querermos tanto a felicidade que fazemos muitas vezes as coisas mais estúpidas que se possa imaginar. 
A razão irá ser sempre um conceito desconhecido para todos os outros seres. 
Somos, o que se diz, os seres mais perfeitamente parvos à face da Terra e agora, também, no espaço. 

Confudimos equilíbrio com estagnação e confudimos felicidade com destruição do Planeta, confudimos tudo
Quando queremos culpar, culpamos a razão. E por racionalizarmos tudo é que não percebemos muita coisa.

Abracei a minha amiga com um daqueles abraços onde cabia o mundo, fiz-lhe um grande sorriso e disse-lhe que era pela natureza ter criado seres como ela que hoje eu era mais feliz.
Ela riu-se e disse que lá estava eu com as minhas frases filosóficas. 
Começámos a caminhar as duas, sem ligar ao caminho, pois no fundo sabiamos que o que tinhamos encontrado era já o suficiente.

Saturday, January 5, 2013

O passar dos anos

- O difícil é começar - dizia-me ele com os seus olhos esbugalhados e a sua pele de cor mulata.
Eu sabia que já muita água tinha passado naquele rio, sabia que a mesma água não voltaria a passar e sentia-me presa a um passado que nada tinha de puro. Virei as costas como que magoada pelas verdades que ele sempre soube transmitir quando assim o tinha de ser, sabia e não sabia o que era a verdade. Sabia que a água do rio passava, não sabia o processo que a tinha feito chegar até ali, pensava nela vezes e vezes sem conta até doerem-me os neurónios de tanto pensar.
Pensei que ele viria atrás de mim para me dar um sermão por fazer tudo menos aquilo que tinha de ser feito, pensei que, apesar de ser eu uma pessoa tão obliqua e trémula, ele não iria desistir de fazer-me ver a realidade. Porém, a água do rio já era muita e eu sei que não te querias afogar também, compreendo sabes, compreendo e fui-me embora sem ressentimentos.
No fundo não me importo de me afogar sozinha, importar-me-ia mais se levasse alguém comigo. Morreria uma segunda vez de culpa.
 Estava naquela fase de transição, num estado de transe em que não sabia mais em que acreditar quando olho para o céu e vejo luzes coloridas, ouço estrondos enormes e veio-me à memória algo familiar.
Então, fechei os olhos e lembrei-me da razão de ser das luzes no céu: O planeta fazia anos, 4,5 biliões de anos. Para nós que só começamos a contar a partir de uma certa altura, para nós eram 2013 anos, o que não é nada, o que é muito pouco. No entanto, nestes 2013 anos já viveram biliões de pessoas, nestes 4,5 biliões de anos já cresceram e morreram muitas espécies de fauna e flora, algumas dessas foram extintas e, provavelmente, nunca voltarão a aparecer...
Um fim que todos temos, se não como espécie como ser simples e único que somos.
Ao ver tantas luzes, de certa maneira, deu-me forças, forças que não tinham grande razão de ser mas eram forças. Levantei-me e aceitando que existe sempre um fim, comecei, comecei a viver. E a partir do passo que dei tudo me pareceu mais fácil.

Feliz 2013.

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"...o meu coração é uma floresta cheia de nevoeiro - guarda tudo e não encontra nada. Sou uma recordadora profissional. Vivo de recordações, mesmo daquilo que ainda não fiz.E repito infinitamente os mesmos truques. Iludo-me. Penso sempre que amanhã é que vai ser. Desenvolvi um erotismo futurista: deleito me com o puro prazer dos meus sonhos.De certa maneira, já vivi tudo, porque em sonhos consigo projectar-me inteira nos corpos, nos sentimentos e nas experiências dos outros. Tenho uma capacidade estereofónica; posso ter ao mesmo tempo cem e dezoito anos. O que é um cansaço..." IP