Monday, February 13, 2012

Lutar pelo sentido e significado

Estava sentada na esplanada do costume, a ver o mar como fazia todos os domingos, pedi um sumo de laranja natural e fiquei a olhar para as ondas a bater na areia sem ligar ao meu telemóvel que de um em um minuto vibrava.
Comecei a pensar em como a vida era irónica e em como se tinha tornado muito diferente daquilo que eu há 20 anos tinha sonhado. Não era que fosse uma má vida, longe disso, era só radicalmente diferente do que eu tinha desejado para mim quando era miúda. 

Olhava para o mar e captava compreensão, sei que o mar não fala nem ouve mas tinha sido a olhar para ele que tinha tomado as decisões mais difíceis da minha vida. Quando fiquei grávida foi aqui que decidi que ia ter o filho sozinha, quando o meu pai se matou foi aqui que decidi que não me ia culpar a mim pelo acontecido, quando tive que ser operada foi aqui que decidi que não ia avisar ninguém até já estar fora de perigo...       
E de todas as decisões não me arrependi de nenhuma. 

Naquele dia estava mergulhada em pensamentos. Tinha há pouco tempo deixado de falar com uma amiga e queria decidir se valia  a pena lutar pela nossa amizade. 
Na vida há muita coisa que vai deixando de valer a pena com o decorrer dos anos e por vezes é difícil perceber aquilo por que ainda faz sentido lutar.
Tinha lutado por poucas coisas na vida, por sorte e porque poucas vezes me fazia sentido lutar por aquilo ou por aquela pessoa... 
Depois de uma longa conversa com o mar percebi que por esta amizade não fazia sentido lutar e que talvez nunca tivesse tido qualquer tipo de significado.
Antes de sair da esplanada fixei o mar, o meu confidente, com os meus grandes olhos pretos e conclui o meu raciocínio: 

Para uma coisa ter significado tem de fazer sentido e se tem significado e faz sentido é então uma obrigação nossa lutar por isso, pois o sentido e o significado não se encontram em todo o lado aliás, raramente se encontram e por isso é importante lutar por mantê-los vivos em nós e ao nosso redor.
Pelo menos enquanto temos forças.

E despedi-me daquela enorme quantidade de água com um sorriso e uma promessa de regresso.
Para ali voltaria sempre... 
O sentido e o significado transbordam na natureza e, principalmente, no mar.

Thursday, February 2, 2012

Imaginação


Nós, humanos, temos este dom (eu digo que é um dom) de imaginar, de criar na nossa cabeça tudo e mais algumas botas. 
Então imaginamos uma carroça à nossa frente e nós vestidos de alta realeza a entrar nela tendo atrás de nós um castelo daqueles dos filmes. Sendo tudo aquilo real na nossa cabeça, tão real que sentimos que aquele castelo faz parte das nossas memórias. 
Imaginamos uma criança a dar-nos a mão e a sermos avós ou avôs quando nunca tivemos filhos.
Imaginamos uma paisagem lindíssima por detrás de uma montanha e nós com a câmara fotográfica a tirar uma foto espectacular que vai ganhar prémios internacionais. 
Imaginamos Nova Iorque com todos os seus arranha-céus a tocar nas nuvens e o caos de pessoas, carros e barulhos estridentes que é característico da cidade. 
Imaginamos que somos um peixe e que não respiramos ar aliás, morremos se não estivermos na água. Imaginamos que realmente existe um Deus, somos nós próprios com todas os nossos defeitos e imperfeições.
Imaginamos um mundo completamente diferente do que aquele que conhecemos, vivendo memórias jamais experienciadas, sentido o que nunca nos fez sentido, nos emocionando com coisas superficiais que jamais nos emocionariam, conhecendo o que nunca poderemos conhecer, viajando a locais que já não existem ou talvez nunca tenham existido…  
É este o poder da imaginação. 
E é por isto que digo que é um dom, um imprescindível que coloca magia na nossa vivência, dando-lhe um brilho diferente.Um dom que nos permite ser o que nunca fomos, viver o que, lá no fundo, queríamos, intensamente, viver. 
Fica na imaginação aquilo que temos medo de fazer, cobardia para construir, receio de dizer ou ser...
A imaginação faz-nos sentir melhor com a vida que levamos, que muitas vezes fica aquém do que sempre imaginámos que seria.

Lições leva-as o vento


Tenho problemas com o padrão de vida da sociedade porém, por vezes, parece-me que o problema não é da sociedade e sim de uma espécie de destino que anda a gozar connosco e mete-nos à frente ostras sem a pérola lá dentro. Parece-me que quer-nos dar uma lição qualquer para que estejamos preparados quando o “jogo” se inverter.
É engraçado como, apesar de tudo, somos capazes de chegar à hora e fazer as mesmas asneiras pelos outros que já vimos outros fazerem por nós. E é bem capaz de só nos apercebermos disso quando já é tarde demais, quando a pérola já está incrustada no nosso coração.
A lição que o destino nos quer passar nunca realmente passa! É como quando os nossos pais nos dizem para não fazer algo que é perigoso, nós ouvimos e até dizemos que vamos ter cuidado mas enfiamo-nos de cabeça na mesma porque esperamos que no final tudo corra bem e que fiquemos com uma grande história para contar!
As lições, na verdade, não servem de nada. Acabamos sempre por, mais tarde ou mais cedo, bater na mesma com a cabeça na parede.
 E sabem uma coisa? Ainda bem! Porque quer dizer, de tanto bater há-de furar! E aí vai ter mais valor do que se tivéssemos ido lá com o berbequim. Disso podem ter a certeza.

Velhice


No decorrer da vida vamos misturando pessoas, situações, locais, expressões, sensações, sentimentos e emoções. E lá mais para o final dela baralhamos tudo, já temos memórias a mais no sistema e as coisas vão-se juntado todas para libertar mais espaço. Não somos assim tão diferentes de um computador.
Mas essa junção causa problemas de processamento, já não sabemos bem o que sentimos em determinado tempo com determinada pessoa, o nome daquele local que odiámos já foi misturado com aquele local que um amigo disse que era perigoso, as memórias do que éramos debatem-se com aquelas que sempre pensávamos que seriamos. Isto leva-nos a uma vida cheia e pouco espaço no disco rígido para processarmos a informação como deve ser. Chegamos a velhos com aquela sensação que o espaço se está a esgotar e o que já foi vivido há muitos anos facilmente se confunde com o presente. 

Não digamos que os velhos são pessoas acabadas e que já não sabem o que estão a dizer. Os velhos são pessoas completas que já viveram tanto, já sonharam tanto, já imaginaram tanto, já experienciaram e sentiram tanto que têm o disco rígido cheio, e por isso baralham tudo e misturam tudo.
Imaginação, realidade, memórias, recordações, sentimentos, pessoas, locais, nomes, objectos, paisagens, viagens, tempo… É muita coisa. E é isto que todos deveríamos ter na cabeça para que quando chegarmos a esta idade não tenhamos raiva de nós próprios e, principalmente, para que agora, neste momento presente, saibamos respeitar quem já viveu tanto que tem o disco rígido cheio e por isso troca o teu nome, e por isso troca o parentesco que tem contigo, e por isso fala-te da sua infância ou adolescência como se fosse ontem mas não se lembra do que lhe disseste há umas horas atrás...

 Ser velho não é ser incapaz, esquecido, menos inteligente ou incoerente, é, acima de tudo, ser uma pessoa cheia, que tem mil e uma coisas para contar e já pouco para viver. 

Um livro aberto sempre pronto para contar a sua história, a história da sua vida, a história do seu “eu” em todas as vertentes, todas as etapas que alcançou, todos os abismos que enfrentou, todos os sonhos que foram realizados e aqueles que, infelizmente, ficaram apenas no pensamento e no coração.

Nós, que adoramos ler livros e ver filmes e séries de vidas humanas não damos a importância devida a estes livros ambulantes virando costas a vidas reais e agarrando-nos à ficção, da qual já não sabemos viver sem.

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"...o meu coração é uma floresta cheia de nevoeiro - guarda tudo e não encontra nada. Sou uma recordadora profissional. Vivo de recordações, mesmo daquilo que ainda não fiz.E repito infinitamente os mesmos truques. Iludo-me. Penso sempre que amanhã é que vai ser. Desenvolvi um erotismo futurista: deleito me com o puro prazer dos meus sonhos.De certa maneira, já vivi tudo, porque em sonhos consigo projectar-me inteira nos corpos, nos sentimentos e nas experiências dos outros. Tenho uma capacidade estereofónica; posso ter ao mesmo tempo cem e dezoito anos. O que é um cansaço..." IP