Monday, November 30, 2009

Nas ruas de Estrasburgo

9:25 em Portugal

10.25 em Estrasburgo, França


As luzes de Natal iluminam as ruas de uma maneira que só apetece percorrê-las todas.

O espírito natalício nota-se na cara das pessoas e sente-se no ar. Tudo parece ter um aspecto mais leve, tudo parece tão mais bonito…

Reparo que os franceses são pessoas alegres que gostam de passear à noite. Vejo pessoas a passear com os bebés e crianças a brincarem com balões. Apetece-me juntar-me a elas...

Os franceses são diferentes de nós em vários aspectos e na verdade nunca os vi tão bem como os vejo agora.

Parecem ser pessoas bastante simples e divertidas. Talvez achem que são um pouco superiores mas isso não se nota nas ruas de Estrasburgo. Apenas noto que são pessoas muito educadas e parecem saber viver a vida…

De uma maneira que nós portugueses não sabemos. Andam de bicicleta, brincam com os filhos na rua e fazem passeios à noite apenas pelo passeio em si... São pacientes e determinados e se há quem diga que são pessoas frias apenas posso dizer que para com a família o não são.

Nem o frio que se sente na rua faz as pessoas ficarem em casa e isso é espectacular. Mesmo cheia de frio tenho vontade de me juntar a eles, de ir andar de bicicleta e não ter hora para voltar a casa, de sorrir como eles sorriem e de brincar como as crianças brincam aqui na praça.

A esta hora Portugal estaria fechado em casa à frente de um PC ou de uma TV, no máximo à frente de uma tela de cinema. Os mais jovens provavelmente estariam fechados num bar ou numa discoteca.

Por aqui com uns 11º graus passeamos na rua e maravilhamo-nos com as luzes de Natal.

Não sei se é das pessoas ou se é apenas o espírito natalício, só sei que era bom que as pessoas fossem sempre assim, em todo o lado.

Pedaços de mim


Explica-me isto! Explica-me o que acabaste de fazer.
De repente fiquei com um calor insuportável, e uma tempestade de emoções e sentimentos atacou-me. Apetece-me chorar e perguntar porque é que o fizeste...

Oh como te detesto!
Como detesto o teu cheiro que me faz sentir no céu, como odeio o teu toque que me paralisa, como abomino o teu olhar que me deixa fixada em ti…
Não sei o que estavas a fazer nem o que estavas a pensar, apenas sei que estás a dar comigo em doida. Preciso que pares de ser assim. Preciso que fiques comigo toda ou que não fiques com nada de mim.
Aos pedaços não, pedaços de mim é que não!
Eu sou uma toda e por ti já me desintegrei mais do que uma vez...

Não sou a mesma sem ti, não sou a mesma contigo, mudaste tudo o que alguma vez fui e tudo o que alguma vez poderia ter sido. Deixaste-me dependente. Uma coisa que sempre detestei ser, que nunca julguei ser capaz de ser. Acabaste com a minha essência e sabes, cheguei a pensar que isso era uma coisa boa. Mas sabes, acabei por perceber que não houve tempo para formar uma outra essência.
Não tenho essência, sou apenas pedaços do que fui e do que poderia ter sido. Não sou nada. Simplesmente nada...
Despedaçada quase totalmente como quem chama por ti quase desesperadamente.

Mentiras não!



Era a última coisa que me podias ter feito. Desculpava-te tudo menos isto.

Não podias ter feito o que fizeste, não podias ter-me enganado desta maneira.

Mentiste tanto que chegaste a mentir com o coração, que chegaste a mentir impulsivamente, chegaste a mentir para ti próprio…

A mentira cegou a tua vida de tal maneira que já nem sabes distingui-la da verdade.


Podia ter pena de ti, apoiar e ajudar-te a ultrapassar isto. Mas eu sempre fui sincera contigo, sempre te disse o quanto o meu bem-estar é mais importante que tudo o resto.

Sempre soubeste que sou uma egoísta inata... Por isso, não vou desculpar-te nem vou estar lá para ti. E por isso, acabou tudo aqui.

Thursday, November 19, 2009

Obrigada Portos de abrigo*


1- Escrever uma lista com 8 características;
Minhas?
Extrovertida mas na verdade introvertida. Simpática mas na verdade um bocadinho antipática. Tímida mas na verdade bastante ousada. Sincera porém, uma mentirosa nata...

2- Convidar 8 bloggers para receber o selo;
I Wonder...
Livro de reclamações.
E estes são os que merecem nota 10 ^^ (Possivelmente existem mais um ou dois mas de momento não me recordo deles)

3- Comentar no blog de quem lhe deu o selo;

4- Comentar no blog de quem escolheu.

Monday, November 16, 2009

Ideias metafísicas do Livro do Desassossego


"A única realidade para mim são as minhas sensações. Eu sou uma sensação minha. Portanto nem da minha própria existência estou certo. Posso está-lo apenas daquelas sensações a que eu chamo minhas.
A verdade? É uma coisa exterior? Não posso ter a certeza dela, porque não é uma sensação minha, e eu só destas tenho a certeza. Uma sensação minha? De quê? Procurar o sonho é pois procurar a verdade, visto que a única verdade para mim sou eu próprio. Isolar-me tanto quanto possível dos outros é respeitar a verdade.
Toda a metafísica é a procura da verdade, entendendo por Verdade a verdade absoluta. Ora a Verdade, seja ela o que for, e admitindo que seja qualquer coisa, se existe existe ou dentro das minhas sensações, ou fora delas ou tanto dentro como fora delas. Se existe fora das minhas sensações, é uma coisa de que eu nunca posso estar certo, não existe para mim portanto, é, para mim, não só o contrário da Certeza, porque só das minhas sensações estou certo, mas o contrário de ser, porque a única coisa que existe para mim são as minhas sensações. De modo que, a existir fora das minhas sensações, a Verdade é para mim igual à Incerteza e não-ser - não existe e não é a verdade, portanto. Mas concedamos o absurdo de que as minhas sensações possam ser o erro, e o não-ser (o que é absurdo, visto que elas, com certeza, existem) – nesse caso a verdade é o ser e existe fora das minhas sensações totalmente. Mas a ideia Verdade é uma ideia minha; existe, por isso, dentro das minhas sensações: portanto, no que Verdade abstracta e fora de mim, a verdade existe dentro de mim - contradição, portanto; e erro, consequentemente.


(...)


Portanto, a verdade não existe.


Mas nós temos a ideia...
Temos, mas vemos que não corresponde a "Realidade" nenhuma, suposto que realidade significa qualquer coisa. A Verdade é, portanto, uma ideia ou sensação nossa, não sabemos de quê, sem significado, portanto sem valor, como qualquer outra sensação nossa.
Ficamos, portanto, com as nossas sensações por única "realidade", realidade que "realmente" até tem aqui certo valor, mas é uma conveniência para frasear. De "real" temos apenas as nossas sensações, mas "real" (que é uma sensação nossa) não significa nada, nem mesmo "significa" significa qualquer coisa, nem "sensação" tem um sentido, nem "tem um sentido" é coisa que tenha sentido algum. Tudo é o mesmo mistério. Reparo, porém, em que nem tudo pode significar coisa alguma, ou "mistério" é palavra que tenha significação."


Bernardo Soares

Sunday, November 8, 2009

Ectopia Cordis (Um defeito no coração)


"Em má hora ela falou. Disse que mais valia arrancarem-lhe o coração. Tinham acabado de lhe arrancar o filho dos braços. Neste lugar, tudo se entende à letra. O guarda riu-se, espetou-lhe uma faca no peito. Nevava. Ela caiu, ele ajoelhou-se na neve ao lado dela, rasgou-lhe a carne, puxou-me e atirou-me para o chão. Deixei de ser o coração dela. A neve cobriu-me depressa. Se não nevasse, eu já teria morrido. Ou alguém me teria comido; é esse o destino de qualquer resto de coisa carnal que surja na lama. Duas aurículas, dois ventrículos, envolvidos por uma espécie de túnica que se chama pericárdio. As cavidades internas estão forradas por uma membrana delgada que se chama endocárdio; à zona muscular dá-se o nome de miocárdio. Ela deixou de sofrer. Eu também - esse é o privilégio do cérebro. Ao coração, músculo involuntário, pede-se-lhe apenas que bombeie o sangue. Que estremeça e lute pela vida. Acabou a minha luta. Silêncio. Continuarão os gritos finais dos que morrem nas câmaras de gás. Não ouço. O cheiro específico dos corpos que se derretem sob o fogo. Não sinto. Apenas um rumor de vida; o dos pequenos riachos de sangue que se infiltram na lama e na neve, depois dos fuzilamentos. Os prisioneiros são chamados para cobrirem de terra os poços de sangue. Debaixo da terra o sangue pode sobreviver umas horas mais. Talvez um dia nasçam aqui flores cor de sangue, flores grossas, belas e inúteis como corações. Procuro recordar a coreografia da vida, continuar a vibrar. Não sei porquê - para que há-de bater um coração sem corpo? Para que há-de sobreviver? O domínio das perguntas não é meu. O cérebro da minha dona estava sempre a fazer perguntas. Era professora de astronomia. Embalava o filho com canções sobre a lua, dizia-lhe que um dia haviam de lá ir os três - ele, ela e o pai do bebé. Não era um devaneio romântico. A Sara não era desse tipo. Era do género controlado. Quando me sentia agitado, trémulo a bombear-lhe uma excessiva quantidade de sangue para o rosto ou para o sexo, zangava-se comigo e dava-me ordem para que me controlasse. Era uma excelente criadora de ordens. Queria que o universo tivesse um sentido. Estudava para que o universo se organizasse. Não se dispersava. Só se apaixonou uma vez, pelo pai do bebé. Todas as amigas dela se apaixonavam com frequência. É uma das actividades favoritas das pessoas, em situações de guerra: perder a cabeça e seguir o coração, dizem elas. Na verdade é exactamente o contrário:decidem apaixonar-se para preservarem a cabeça e o corpo, para não verem a comida que não têm e as possibilidades da existência que se fecham, como cercas de arame farpado, ao seu redor. As pessoas enganam-se de propósito, para terem a ilusão de que poderiam controlar a vida, se quisessem fazer um esforço de não se enganarem. Desejam aqueles que nunca as desejarão, desdenham o que lhes é dado para obterem esse prémio superior, o sublime prazer da infelicidade conquistada. A Sara, essa brincadeira infinita dos afectos causava-lhe dó. Ou, ás vezes, riso. Era fácil viver no peito dela. Uma vida tranquila, apenas agitada pela descoberta de uma nova estrela nessa névoa sem limite a que se chama céu. Sara acabou - eu sou tudo o que dela resta, e por pouco tempo. Um coração sensato a cristalizar sensatamente em gelo, no silêncio do sangue. Não ter ouvidos nem olhos. Nem ossos que se possam quebrar, nem nervos. A minha felicidade é essa.

Duas mesas a um metro de distância uma da outra, suportando uma vara de metal da qual pendia um corpo algemado, de cabeça para baixo, ao qual chicoteavam, com tiras de couro, as costas e as solas dos pés. O balouço de Boger, assim chamado em honra do homem da Gestapo que inventou esta económica máquina de tortura. Já não o vejo. Já não ouço os gritos que soltavam os homens e mulheres durante a tortura. Para abafar os gritos, convocavam a orquestra. Uma orquestra de prisioneiras, exemplarmente dirigida por Alma Rosé, sobrinha de Gustav mahler. Ordenavam-lhes que tocassem marchas alegres, com energia, para que o som da música apagasse todos os outros. Mas Sara não sabia tocar nenhum instrumento, e não havia ali trabalho em que uma astrónoma pudesse ser útil. Uma das funções de Sara era lavar o sangue do chão, depois de terminado isso a que aqui chamam interrogatório. Sara cantava baixinho ao seu bebé: "Amanhã virão salvar-nos e iremos até à lua num avião iluminado". Conseguiu esconder o bebé durante quase um mês. Teve a sorte de chegar num comboio demasiado cheio. Teve a sorte de ter um bebé tranquilo. Teve a sorte de conseguir escondê-lo debaixo de uma manta no fundo do barracão antes de ser inspeccionada, tatuada e tosquiada. Teve a sorte de ser forte e não estar grávida. Sara gostava de enumerar as sortes que tinha. Mas o bebé chorava cada vez mais, e era-lhe cada vez mais difícil arranjar um bocadinho de qualquer coisa alcoólica para o calar. As outras mulheres não conseguiam dormir. Alguma terá acabado por a denunciar - a troco de um bocado de pão, talvez. Na melhor das hipóteses.
O frio entra em mim. Congelo devagar. Muito. Devagar. Se ao menos eu pudesse hibernar até que alguém precisasse de um coração e alguém descobrisse o método de transferir corações de uns corpos para os outros. Alguém. Nem que fosse para acordar num corpo de cão. Se os cães sobreviverem a isto. Ou sobre o tampo de uma mesa de escola, com dedos de criança a mexerem-me, para verem como é composto um coração. Um coração judeu. Duas aurículas, dois ventrículos. Um órgão esponjoso, de cor avermelhada, coberto pelo endotélio, uma capa de células planas que evita a coagulação do sangue. Um coração judeu. Em tudo exactamente igual a qualquer outro coração humano. Abandonado, em excelente estado de conservação, na neve suja de Auschwitz, no último dia do mês de Dezembro de 1944."


Escrito por Inês Pedrosa na revista Egoísta que hoje em dia já não é publicada.

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"...o meu coração é uma floresta cheia de nevoeiro - guarda tudo e não encontra nada. Sou uma recordadora profissional. Vivo de recordações, mesmo daquilo que ainda não fiz.E repito infinitamente os mesmos truques. Iludo-me. Penso sempre que amanhã é que vai ser. Desenvolvi um erotismo futurista: deleito me com o puro prazer dos meus sonhos.De certa maneira, já vivi tudo, porque em sonhos consigo projectar-me inteira nos corpos, nos sentimentos e nas experiências dos outros. Tenho uma capacidade estereofónica; posso ter ao mesmo tempo cem e dezoito anos. O que é um cansaço..." IP