Wednesday, June 24, 2009

O meu ursinho


Ontem lembrei-me do meu ursinho de peluche, aquele que a minha tia me deu quando fiz 11 anos.
Hoje tenho 55 mas continuo a pensar no que será que lhe aconteceu.

Tinha eu 13 anos quando ele desapareceu do meu quarto. Nunca o cheguei a encontrar.
E ainda hoje me pergunto para onde foi o peluche.
Lembro-me de chorar muito na altura.
Lembro-me de ficar destroçada.
Lembro-me de nunca mais me apegar a nenhum brinquedo.
Lembro-me de nunca mais me apegar a nada.
Foi a primeira vez que fiquei mesmo triste.
E a seguir a essa vieram muitas outras.
Hoje estou internada com uma depressão que já dura há alguns anos.
Nunca ninguém percebeu o que tinha...
Também nunca ninguém me ajudou a procurar o meu ursinho de peluche...



O Mundo não é apenas o que vemos.
É principalmente o que sentimos.

A sociedade faz-nos acreditar que só importa a aparência quando há muito para além disso.
Gostava de ser cega e ser guiada apenas pela voz, pelo tacto, pelo nosso sexto sentido.
Gostava de puder dizer que as boas pessoas são sempre lindas e maravilhosas e acreditar verdadeiramente no que digo.
Gostava que ninguém fosse julgado pelo seu exterior.
Tantas vezes perdemos a oportunidade de conhecer pessoas divertidas e únicas.
Gostava realmente de ser cega em relação ás pessoas...
Mas não sou...
E isso modifica tudo o que acredito.

A verdade é que a aparência é uma parte importante e nunca conseguiremos mudar isso.
Por mais que nos custe.
Por mais que custe aos outros.
A primeira impressão irá ser sempre feita a partir do que vemos.

Apenas podemos esperar que as pessoas não se fiquem por essa impressão. E que consigam ver para além disso. Ou que pelo menos tentem.

Wednesday, June 10, 2009

Um sentimento sem nome


Conheço uma mulher chamada Sandra que trabalha comigo já algum tempo mas mesmo assim, de vez em quando, não a consigo perceber.
Ela é diferente de todas as pessoas que conheço. Sente as coisas de uma maneira diferente, vive para ela quase exclusivamente.

Tem um bom coração mas vive muito no seu mundo. Raramente se apercebe do mundo exterior.
É uma pessoa espectacular quando conhecida a pormenor.
Pelo menos foi o que a Manuela disse, que é a única pessoa que a conhece mesmo bem, são amigas quase desde que nasceram.


Na verdade, admiro-a. Essa tal Sandra tem uma personalidade muito própria, não sendo realmente complexa mas não se dando a conhecer. O que é realmente engraçado.
Pode-se estar a conversar horas com ela, mesmo assim ficas a saber o mesmo sobre ela que sabias no início da conversa. Apenas sabendo pequenas coisas sobre a sua vida que não dizem grande coisa sobre uma pessoa.

Bem isto tudo para contar a relação que ela tem com um homem que trabalha no segundo andar lá dos escritórios.
Toda a gente diz que eles são marido e mulher porém, nunca os vi darem beijos, nem trocarem chaves de casa, nem nunca os vi discutir. E isso é o que os casais normais fazem.
Saem todos os dias juntos cá do trabalho e estão se sempre a rir quando estão um com o outro e algumas vezes estão ao pé um do outro na cantina e passam o tempo todo sem falar, não deixando os sorrisos de lado.
Como se tivessem uma relação de cumplicidade para além dos toques, dos beijos, de tudo.
O que não se compreende.
O que me espanta são os olhares, os olhares que fazem um ao outro. São cheios de brilho, cheios de significados.
No outro dia tentei perguntar-lhe afinal o que sentia por ele, que relação é que tinha com aquele misterioso homem, que era tão misterioso quanto ela.
E ela apenas sorriu para mim e disse:
- Nem eu sei explicar. Mas na verdade não penso muito nisso.
Fiquei algum tempo a olhar para ela, a pensar.
Fiquei sem perceber, como alguém vivia assim. Sem saber o que sentia por uma pessoa com quem convivia constantemente.


Mas se calhar ela sabe, se calhar ele também. Apenas não têm um nome para dar ao sentimento deles. Apenas criaram um sentimento novo.
E isso eu consigo compreender.

E por isso eu admiro-a. E por isso quase que a invejo.
E por isso sempre que os vejo juntos também sorrio.

Monday, June 8, 2009

Viajando pela vida


Já estava atrasada para o Check-in.
No aeroporto, por entre a multidão de pessoas, tentava passar.
Havia tantos corredores...
Porém, ela sabia bem para onde tinha de ir, já tinha feito aquele percurso milhares de vezes.
Chegou ao Check-in e finalmente conseguiu respirar.
As viagens eram um pesadelo para ela, no entanto não as deixava de fazer.
Considerava-as um mal necessário.
De vez em quando fazia-lhe bem sentir-se livre e enfrentar os seus medos era algo importante. - dizia ela.
Agora podia descansar um pouco, então sentou-se ao pé da janela numa das 1500 cadeiras que o aeroporto tinha.
Olhou para o céu e lembrou-se que se tinha esquecido da escova de dentes, suspirou e sussurrou:
-Tenho sempre de me esquecer de alguma coisa.
Depois viu as horas e desejou que o tempo parasse para poder ir buscar a escova a casa e voltar.
-É só uma escova de dentes. -Pensou ela de seguida.

Uma senhora com uma voz irritante chamou pelo voo dela, última chamada.
Ela ouviu a senhora e teve vontade de lhe dar um tiro.
Caminhou para a sua "gate" e quando estava quase a chegar olhou para trás.
Sentiu-se pressionada por algo maior, como se não fosse realmente aquilo que estava destinado para ela.
Olhou outra vez para a frente e mais uma vez suspirou.
Não sabia que fazer. Não sabia o que queria. Queria ir, mas para onde? Onde talvez não fosse a pergunta certa, mas porquê?
Qual seria o verdadeiro porquê de viajar todos os meses tendo pesadelos de todas essas vezes?
Liberdade? Treta! E ela sabia-o.

Ao último segundo entrou no avião pedindo desculpas pela demora.
Sentou-se no lugar e fechou os olhos, apetecia-lhe dormir.
Sabia que a viagem ia ser longa portanto não pensou duas vezes, adormeceu.
E sonhou, sonhou que tinha ficado por terra.
Sonhou que um homem tinha metido conversa com ela.
Sonhou que se tinha apaixonado por ele na primeira conversa.
Sonhou que era feliz.
Acordou sobressaltada com tanta felicidade, desejando logo de seguida voltar àquele sonho.
E ficou triste por saber que era praticamente impossível isso acontecer.
De repente a pressão da altura começou a atacar, dando-lhe fortes dores de cabeça.
E para fugir disso, ela não fez nada.
Deixou as dores percorrerem-lhe todos os pedaços da sua cabeça, da sua mente...
Deixou que lhe atacassem o espírito.
Ela simplesmente não queria saber.

Um bebé desatou a chorar...
Ela olhou pela janela e só viu mar.
-Porquê é que o avião está a descer tanto?!- Pensou ela.
O piloto disse para se preparem para a aterragem porém, não havia terra debaixo deles.
Ela achou estranho, toda a gente achou estranho.
Mal ela sabia que ia ser no dia seguinte que o seu sonho ia se tornar realidade.
Mal ela sabia que esse dia nunca ia chegar.



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"...o meu coração é uma floresta cheia de nevoeiro - guarda tudo e não encontra nada. Sou uma recordadora profissional. Vivo de recordações, mesmo daquilo que ainda não fiz.E repito infinitamente os mesmos truques. Iludo-me. Penso sempre que amanhã é que vai ser. Desenvolvi um erotismo futurista: deleito me com o puro prazer dos meus sonhos.De certa maneira, já vivi tudo, porque em sonhos consigo projectar-me inteira nos corpos, nos sentimentos e nas experiências dos outros. Tenho uma capacidade estereofónica; posso ter ao mesmo tempo cem e dezoito anos. O que é um cansaço..." IP