Sabia que ela o amava profundamente
e o meu coração encolhia de todas as vezes que a via sorrir para ele. Amigos
desde sempre, cedo se tornaram namorados por conveniência, no entanto eu sabia
que ela gostava realmente dele de uma maneira incrivelmente intensa.
Sempre soube disso e
estava feliz com a felicidade dela... Até um dia.
Estávamos, num bar,
numa festa de anos de uma amiga, eu sentei-me ao balcão e ia pedir uma bebida
quando o namorado dela se aproxima de mim e cumprimenta-me. No início estava tudo
certo, sem problemas, ele sempre tinha sido simpático. Porém naquela noite
começou a fazer mais perguntas que o costume e a criar uma conversa que nunca
mais acabava. Às tantas comecei a estranhar e perguntei-lhe se ele não ia para
ao pé da Sónia, a resposta dele foi estranha, a cara mudou logo de expressão e
saiu de ao pé de mim com um ar de cão abatido.
E este foi o primeiro
acontecimento que viria a mudar tudo.
Uma semana depois
cruzámo-nos na rua e ele convidou-me para ir lanchar com ele, eu como não tinha
nada para fazer disse que sim, que me parecia bem. E começámos à conversa sobre
temas abstractos, ambos tínhamos perspectivas diferentes o que tornava a
conversa interessante e engraçada. Quando me despedi dele senti-me culpada. E logo
apercebi-me que algo de muito errado estava a acontecer, estava a começar a
gostar do namorado da minha melhor amiga.
Não sabia o que fazer, não
queria magoá-la de maneira nenhuma e por uns tempos tentei afastar-me dele, mas
o destino tinha outra ideia...
O nosso terceiro
encontro foi numa discoteca, ambos tínhamos ido por diferentes razões e não
estávamos a contar encontrarmo-nos. A Sónia tinha ido para casa da mãe cuidar
dela por uns tempos.
Quando nos vimos houve logo um sorriso sincero, uma troca de palavras
breves sobre o porquê de estarmos ali e depois começou uma música que ambos
gostávamos. Começámos a dançar e esquecemo-nos que havia um mundo para além de
nós. Cantávamos e dançávamos, sorriamos imenso e riamo-nos por alguma coisa que
nem nós sabíamos explicar o que era.
Até que os meus amigos me encontraram e
puxaram-me para ir de volta ter com eles, despedi-me do Artur e quando
voltei à realidade só me apetecia dar uma estalada a mim própria.
Sai mais cedo da
discoteca dando a desculpa que estava com dores de cabeça e que ia para casa.
Mal sai da discoteca vi o Artur cá fora a
olhar para o nada, quis ir-me embora sem que ele me visse mas o meu carro
estava mesmo à frente dele. Aproximei-me e como já estava um bocado tocada com
a bebida disse-lhe que gostava muito da Sónia. Ele assustou-se comigo e ficou a
olhar para o chão. Como não dizia nada e eu não estava em condições de falar,
peguei nas chaves do carro e comecei a ir em direcção a ele.
O Artur pegou-me no braço, puxou-me para
junto dele, olhou-me nos olhos e abraçou-me. Eu fiquei estática, encostada ao
seu peito a ouvir o seu coração bater...
O que deve ter sido minutos
pareceram-me meses, e eu já não tinha vontade de sair dali.
Caiu-me uma lágrima do olho e ele ao ver a
minha lágrima apercebeu-se do quanto aquilo era demasiado pesado para mim.
Perguntou-me se eu estava bem para conduzir e eu acenei que não com a cabeça,
ele pegou nas minhas chaves, sentou-me no carro e conduziu-me até casa.
Quando lá chegámos eu agradeci-lhe e
perguntei-lhe como é que ele ia para casa, respondeu-me que ia chamar um táxi
para eu não me preocupar.
Levou-me até à porta e dando-me a mão disse
que queria tornar aquilo real e possível, eu sem saber o que dizer dei-lhe um
beijo na cara e entrei em casa.