Wednesday, December 23, 2009

O som do piano


Entrei na festa cabisbaixo e cheio de vontade de sair de imediato. Porém, o som de um piano que vinha da sala capturou a minha atenção mal comecei a ouvir as primeiras notas.
Nessa sala havia um grupo de pessoas à volta do piano, grupo este que estava muito atento ao som daquele maravilhoso instrumento. Quem o tocava era uma mulher, o que tornava tudo ainda mais mágico. As suas mãos eram delicadas nas melodias calmas e fortes como trovões nas melodias mais mexidas.
Ás tantas estava sentado na mesa mais próxima do piano juntamente com algumas pessoas que não conhecia. A música cada vez encantava mais os convidados e cada vez eram mais as pessoas que faziam silêncio para ouvir aquela bela criatura tocar piano. Conseguia perceber isso porque o som do piano era mais nítido e não se ouvia tanto barulho de conversas formais que não interessam a ninguém (ou não deviam interessar).

Durante uns minutos fechei os olhos e concentrei-me apenas na melodia. Como era indescritível aquela sensação...
No final, todos aplaudiram até as suas palmas das mãos começarem a ficar roxas. Eu nem um membro do meu corpo consegui mexer...
A bela mulher fez uma vénia como agradecimento e saiu pelas portas da cozinha.

Perguntei às pessoas estranhas que estavam na mesa onde me tinha sentado se ela ainda iria tocar mais alguma vez. Ao que me responderam: - Esperemos que venha tocar mesmo desta vez.
Surpreso com o que tinha acabado de ouvir disse: - O quê?
- Sim, porque realmente sentar-se ao piano e não tocar é uma parvoíce. Não sei quem a convidou para actuar neste evento mas fez uma péssima escolha ... Olha lá vem ela.
Decidida, sentou-se ao piano e começou a tocar a mesma melodia maravilhosa que me tinha aprisionado naquela sala mal entrei na festa.

Deja-vú...Aconteceu tudo exactamente como me parecia ter acontecido há uns minutos atrás.
Não percebi o que aconteceu esta noite mas fico feliz por ter acontecido.


E mais uma vez vi a senhora a sair pela porta da cozinha quando acabou de tocar, e mais uma vez perguntei se ela viria tocar outra vez. Ao que me responderam: - Vem sim, depois do jantar.
Nem imaginam a minha cara de alegria e o sossego do meu coração...

Friday, December 18, 2009

Estrela que estais no céu...


As montanhas estão longe, por detrás delas uma luz avermelhada de pôr-de-sol única.
O céu tem imensas cores, do amarelo ao azul claro... Um azul mais escuro é a cor da maior parte do céu. Maravilham, a mistura de cores. O vermelho funde-se com o amarelo que por sua vez funde-se com o azul. Lá pelo meio está o branco, que é imprescindível na natureza e em tudo. O branco de paz, de equilíbrio, de calma. O maravilhoso branco.
Lá bem em cima uma estrela brilha, sozinha no céu inteiro. Não se vê mais nenhuma...
Se olharmos para cima apenas ela se destaca.
E já não vejo mais nada, nem cores, nem montanhas, nem luzes, nem nada... Apenas aquele ponto brilhante na imensidão do céu. As cores vão desaparecendo, os contornos das montanhas também, mas a estrela essa mantém o seu brilho e o seu lugar.

À pouco tempo era a única estrela no céu, agora já começaram a aparecer outras estrelas iguais a elas. Parecidas... Esta continua a brilhar mais.
E mesmo que não brilhasse seria especial para mim, pois foi a estrela que me maravilhou, aquela que me deu esperança, que me aqueceu apesar do frio da noite. Uma simples estrela pode fazer tudo isto?!

Pode, e muito mais... Assim como todos os elementos da natureza. Se lhes dedicarmos tempo e atenção, se soubermos ver e ouvir, se não tivermos medo de estar sozinhos...

Num mundo perfeito a Natureza seria o nosso deus.

Sunday, December 13, 2009

Aterrorizada...


Ela olhava para mim como se alguém tivesse morrido. Nem precisou de dizer nada, bastou-me uns segundos para entender o terror que via nos seus olhos. Entendi que estava perdida num labirinto, sozinha e sem voz para gritar por ajuda.
Ela não conseguia pronunciar uma palavra porém, nem foi preciso. Conheço-a melhor que ninguém, conheço todos os seus defeitos e qualidades, sei melhor que ninguém as suas capacidades e os seus limites.
Tinha chegado ao seu limite e eu conseguia ver, só de olhar para ela, o abismo que tinha mesmo à sua frente.

Toquei-lhe na mão, apertei-a e apeteceu-me poder entrar no seu mundo e tirá-la daquele sítio horrível do qual ela não estava a conseguir sair.
Apesar de a conhecer bem, ela sempre teve uma parte de si que era só dela e foi nessa parte que ela se escondeu, não me deixando entrar.
Dentro de um labirinto com um abismo à sua frente numa parte da sua mente onde ninguém podia entrar... Ela estava desolada e só ela podia salvar-se a si própria.

Um tempo depois o terror saiu-lhe dos olhos e a indiferença instalou-se na sua alma. Começou a não ter expressões e quando sorria eram só os lábios que mexiam para agradar os outros. Os seus olhos não brilhavam nunca, nem quando alguém a elogiava...
Ela limitou-se a sair da frente do abismo e a sentar-se uns metros mais atrás.
Com o tempo foi voltando ao normal, o abismo já tinha desaparecido de vista e o labirinto também. A palavra perdida já não se adequava à sua realidade, adequava-se mais a palavra solitária... O labirinto tinha deixado as suas marcas.

Sempre ouvi dizer que é com as crises que aprendemos a ser fortes e são elas que engrandecem a nossa personalidade. "O que não nos mata, deixa-nos mais fortes."
Assim foi! É uma das pessoas mais corajosas e fortes que conheço, já se perdeu, já se encontrou, sobreviveu, venceu.
E é disto que se faz uma vida.

Gostava de ter esse tipo de problemas, gostava de me perder...
No fundo nem sei de que material sou feita. Nem quem sou eu, nem o que é a vida.
..

Saturday, December 5, 2009

Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
Em que as coisas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Porque sequer atribuo eu
Beleza às coisas.

Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe
Que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então porque digo eu das coisas: são belas?

Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as coisas,
Perante as coisas que simplesmente existem.

Que difícil ser próprio e não ser senão o visível!

Alberto Caeiro

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"...o meu coração é uma floresta cheia de nevoeiro - guarda tudo e não encontra nada. Sou uma recordadora profissional. Vivo de recordações, mesmo daquilo que ainda não fiz.E repito infinitamente os mesmos truques. Iludo-me. Penso sempre que amanhã é que vai ser. Desenvolvi um erotismo futurista: deleito me com o puro prazer dos meus sonhos.De certa maneira, já vivi tudo, porque em sonhos consigo projectar-me inteira nos corpos, nos sentimentos e nas experiências dos outros. Tenho uma capacidade estereofónica; posso ter ao mesmo tempo cem e dezoito anos. O que é um cansaço..." IP