Tuesday, November 15, 2011

A perder o rumo


    Antigamente não existia quase nenhum tipo de comunicação, se não estivéssemos frente a frente com a pessoa só mesmo por carta é que podíamos comunicar com os outros. E mesmo a correspondência era feita só entre pessoas que se conheciam, era impossível nesses tempos conhecer pessoas para além daquelas que, eram da nossa família, nossos vizinhos, que nos eram apresentadas ou aquelas que esbarrávamos no decorrer da vida. Isto levava a um conhecimento de um grupo pequeno de pessoas, a não ser que fossemos alguém bastante importante como o rei ou alguém por parte da nobreza.

    Hoje em dia quase toda a gente conhece uma data de pessoas, pessoas que são amigos de amigos, pessoas do café, pessoas do trabalho, pessoas da família, pessoas da internet, pessoas do outro lado do mundo que conhecemos quando fomos de férias e mantivemos contacto…
   É que é muito mais fácil manter o contacto, os meios de transporte e de comunicação ajudam-nos a continuar ligados a mil e uma pessoas que antigamente, ou nunca chegaríamos a conhecer, ou facilmente desapareceriam da nossa vida.
   O progresso acabou por aproximar o mundo todo.
No entanto, também acabou por transformar a vida numa confusão: pois em vez de só conhecermos o rapaz lá da terra que é o mais bonito e charmoso, temos como referência um actor americano que vive do outro lado do oceano e o nosso grau de exigência já não é o mesmo, pois em vez de termos sempre o mesmo grupo de amigos que praticamente nasceram connosco, acabamos por ter durante a nossa vida toda três ou quatro grupos diferentes de amigos consoante as escolas onde andámos ou os sítios onde vivemos.

    Já não é nada fácil e simples e puro, é tudo uma grandessíssima trapalhada… E depois dizem que as crianças de hoje em dia não se comparam às de antigamente, que falta-lhes pureza e ingenuidade, dizem que os adolescentes são seres difíceis de descodificar, que são uns rebeldes, que já não sabem o que é educação… Claro que as pessoas não podem ser as mesmas que eram, se tudo mudou as pessoas também mudaram.

    O progresso, a evolução, o desenvolvimento, ou só os humanos a inventarem coisas, como quiserem chamar, tudo isso é bom, claro, mas também tem os seus aspectos péssimos. E um deles é a falta de nitidez e clareza que agora temos, apesar de toda a nitidez e clareza que muitas pessoas pensam ter.
   Não é que antes não houvesse mentes confusas, pessoas sem chão, sem sanidade, pessoas sem rumo, claro que existiam, mas hoje tudo isso se agrava, porque as pessoas sabem da existência das outras milhares de pessoas que existem, porque sabem dos milhares de perigos que correm, porque têm muitas escolhas sobre o que podem comer, onde podem ir, o que podem fazer, etc.
    Hoje é tudo à grande, como diz o Nilton, e isso nem sempre é algo positivo, por inúmeras razões, mas a principal é: já não somos tão puros, tão ingénuos, tão sinceros, já não temos tanta confiança nas pessoas e na vida, já não sabemos apreciar uma flor que está à porta de nossa casa, porque sabemos que existe uma mais bonita no Algarve ou Espanha ou na Costa Rica. Não conseguimos manter os nossos pés no chão, porque sabemos que nas nuvens existe um mundo melhor… E podia continuar infinitamente.
    Tenho pena disto. Tenho pena que os anos tenham passado e tenhamos deixado de lado todas as nossas qualidades-base, as qualidades do povo que eram as únicas como deve ser. A humildade, a generosidade, a bondade, o espírito de sacrifício, a transparência, e todas essas qualidades que muitos dizem que existia muito mais do que existe agora. É só disso que tenho pena. Que estejamos a perder a nossa humanidade e o gosto pelas coisas simples da vida, que deveriam ser sempre as mais importantes. E com isso estejamos a perder também um pouco o rumo á vida e ao que realmente devíamos fazer dela.


1 comment:

Lunática said...

A evolução aproximou-nos do mundo e afastou-nos uns dos outros. Tornou-nos seres isolados ao mesmo tempo que cria pontes de conexão com pessoas de todo o mundo. Permitiu-nos ser seres mais informados sobre as tragédias que afectam os demais e ao mesmo tempo tirou-nos a compaixão e o respeito pelo próximo. Tudo na vida vem vantagens e desvantagens.

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"...o meu coração é uma floresta cheia de nevoeiro - guarda tudo e não encontra nada. Sou uma recordadora profissional. Vivo de recordações, mesmo daquilo que ainda não fiz.E repito infinitamente os mesmos truques. Iludo-me. Penso sempre que amanhã é que vai ser. Desenvolvi um erotismo futurista: deleito me com o puro prazer dos meus sonhos.De certa maneira, já vivi tudo, porque em sonhos consigo projectar-me inteira nos corpos, nos sentimentos e nas experiências dos outros. Tenho uma capacidade estereofónica; posso ter ao mesmo tempo cem e dezoito anos. O que é um cansaço..." IP