Monday, February 4, 2013

Não és meu - Parte III

Cheguei a casa da Sónia e já lá tinha a família toda, incluindo o Artur. Fui directamente ter com ela e dei-lhe um abraço apertado.
- Sabes que estarei aqui para o que precisares, a tua mãe era uma pessoa de coragem e vai ficar para sempre contigo. Sabes disso não sabes? - Deixando-me levar pelas emoções caiu-me uma lágrima do olho quando a vi.
- Obrigada amiga. Ela era uma pessoa maravilhosa e isto tudo está-me a custar imenso. - Sentei-me ao lado dela e preparei-me para ficar ali o resto da tarde.
- Queres que te vá buscar alguma coisa?  - Perguntei eu não conseguindo ficar ali quieta.
- Sim, podes ir à cozinha fazer-me um chá? Tu sabes onde estão as coisas.
- Claro, chá de camomila?
- Ainda te lembras qual é o meu favorito... - Disse-me ela sorrindo.
Retribui o sorriso e fui para a cozinha.

A tristeza chegou à minha alma quando vi uma foto dela com a mãe em cima de uma cómoda que estava na sala. 
Sei que a mãe dela era uma figura importante na sua vida e ver aquelas pessoas todas ali fez-me perceber que não era só importante para a Sónia mas também para muito mais pessoas.

Comecei a lembrar-me de momentos da nossa adolescência, em que eu vinha para casa da Sónia e a mãe dela preparava-nos sempre um lanche que mais parecia um banquete dos céus.
Lembro-me das suas pizzas caseiras que eram divinas e do seu sorriso que era sempre tão sincero...
Quando dei por mim, estava a olhar para o chá já feito com lágrimas tímidas a caírem em cima do balcão. 
Ouvi alguém a entrar na cozinha e, rapidamente, limpo as lágrimas e pego na chávena de chá virando-me em direcção à porta.
- Está tu... Ai desculpa! - Era o Artur e tinha acabado de chocar contra mim e de fazer com que deixasse cair a chávena no chão.
- Oh fantástico! - Exclamei eu zangada por ele não ter tido mais cuidado e ter feito com que a chávena se tivesse partido em mil bocados.
- Eu ajudo-te. - Disse ele, baixando-se para me ajudar a apanhar os cacos.
Apanhámos tudo em silêncio e quando o chão ficou limpo comecei a fazer outro chá.
Ele veio ter comigo e ficou ao meu lado, sem dizer uma palavra ficou a olhar para o que estava a fazer como se a magia da vida estivesse no acto de fazer um chá.
- Não devias estar ao lado da tua namorada? - Comentei eu amargamente enquanto estava a colocar o chá em outra chávena.
- Não digas isso dessa maneira. - Respondeu ele com um tom triste virando a cabeça para o lado.
- Então queres que diga de quê maneira? - Perguntei eu esperando que ele não respondesse e me deixasse ir embora.
- Acho que preferia que não dissesses nada.
- Pronto então eu não digo. - E peguei na chávena com o intuito de sair daquela cozinha diabólica. Porém, o Artur pegou no meu braço e olhou no fundo dos meus olhos. Pensava que ele ia dizer alguma coisa mas após uns segundos, que pareceram uma eternidade, ele largou-me e disse que achava que também ia fazer um chá para ele.

Eu sem saber o que dizer, virei-me, definitivamente, para a porta e fui em direcção à Sónia com a alma pesada.
- Desculpa Sónia ter demorado tanto tempo, sem querer deixei cair a chávena no chão e tive que ir fazer outro chá. - Justificando-me antes que ela perguntasse.
- Oh não faz mal Emília. Obrigada por estares aqui. - Agradeceu-me segurando-me na mão com força e esse gesto só me fez sentir ainda pior. 
Senti, mesmo sem ter feito nada, que a tinha traído. Tinha traído a nossa amizade de tantos anos que era tão importante para mim.

Apertei a mão dela com a mesma força e disse-lhe:
- Eu vou estar sempre aqui. - Dando o meu melhor sorriso e sentindo-me uma hipócrita.

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"...o meu coração é uma floresta cheia de nevoeiro - guarda tudo e não encontra nada. Sou uma recordadora profissional. Vivo de recordações, mesmo daquilo que ainda não fiz.E repito infinitamente os mesmos truques. Iludo-me. Penso sempre que amanhã é que vai ser. Desenvolvi um erotismo futurista: deleito me com o puro prazer dos meus sonhos.De certa maneira, já vivi tudo, porque em sonhos consigo projectar-me inteira nos corpos, nos sentimentos e nas experiências dos outros. Tenho uma capacidade estereofónica; posso ter ao mesmo tempo cem e dezoito anos. O que é um cansaço..." IP