Sunday, February 6, 2011

Lágrimas de uma andorinha


Sigo a batida como se não houvesse mais amanhã. Danço e mexo-me sem saber muito bem o que estou a fazer, sem ter regras nem procedimentos certos a cumprir. Tento ser livre e espontânea como nunca fui e libertar-me de mim, essencialmente de mim. Não culpo mais nada nem ninguém sem ser eu própria para tudo o que tem acontecido na minha vida.

Ouço a música a tocar e pela primeira vez desde que me lembro que realmente danço sem posições certas nem fios invisíveis a prender-me os movimentos. Sabe bem…

E canto, muito alto, quase a gritar: You go on, I´ll be happier. Faço-me acreditar que a verdade do mundo está naquela música e naquelas palavras que nada me dizem de concreto, até porque eu nem percebo inglês.

No entanto, agarro-me àquelas palavras, àquele som, àquele ambiente, agarro-me como se não houvesse mais nada. Pesando bem, de momento, não existe mesmo mais nada…

Cai-me uma lágrima do olho esquerdo, de seguida do olho direito, depois duas lágrimas caiem, ao mesmo tempo, uma de cada olho chegando ao final da minha face unindo-se numa só.

Quando me apercebi que já tinha bebido demais e que estava toda a gente a olhar para mim, naquele barzito no meio de nenhures, saí dali.

Pela primeira vez sentei-me no carro sem saber para onde ia, sem querer realmente ir para algum lado. Pela primeira vez não tinha um plano e isso tanto me assustava como me entusiasmava de uma maneira inacreditável.

Liguei o carro, e comecei a guiar em frente ao desconhecido.

A noite passou-se e parte da manhã também, passei tantas terrinhas que perdi a conta até que vim ter a uma aldeia que tinha como nome Andorinhas. Parei nela e a primeira coisa que vi foi um rio lindíssimo e até que era bastante grande. Pareceu-me um pequeno paraíso no meio do nada, fiquei deslumbrada.

Parei ali porque quando era pequena a minha alcunha era andorinha, diziam que era por ser elegante e por ser uma sonhadora, acreditando que um dia havia de voar. Associavam-me a uma andorinha…

Tenho pena que tenha deixado de falar com estas pessoas que me acarinharam desta maneira, eram bons amigos, estes que tive quando era mais miúda.

Ao olhar para aquele rio perguntava-me porque é que tinha deixado de falar com eles, porque é que tinha deixado para trás pessoas que sempre gostei e que sempre me trataram tão bem.

O rio, esse, continuava sereno à espera que eu própria chegasse à resposta que eu tão bem sabia mas que não queria dizer: Eu mudei, fui eu que mudei, já não sou mais uma andorinha. A minha elegância perdeu-se com os sobressaltos da vida e o sonho de um dia voar acabou por deixar de fazer sentido.

Saí do carro e vim a correr para a beira do rio, depois como uma criança triste sentei-me na relva agarrando com muita força as minhas pernas, olhando de soslaio para a água do rio, como que à espera que ela me dissesse uma palavra de consolação e concluísse com: Pronto já passou.

Como é óbvio a água não falou comigo e eu fiquei ainda mais triste esfregando a minha cara nas minhas pernas para que as lágrimas não tivessem tempo sequer de se aperceberem de terem nascido.

No entanto, elas aperceberam-se, e tal como crianças inocentes e sonhadoras não se deixaram levar pelas complicações sem sentido do mundo, então mesmo sendo sacudidas logo à nascença continuavam a nascer, sempre com mais força. Elas estavam sempre prontas para sair cá para fora, para fora da prisão que eu me tornei para mim mesma. Ao caírem, ao escorrerem pela minha cara, acariciavam-me com os seus movimentos que se tornavam mais elegantes a cada lágrima. Parei de as querer sacudir e deixei-as à vontade.

De repente começaram-se a aproximar nuvens negras, muitas nuvens negras e eu escondi a cara não querendo que também o céu começasse a chorar. Queria um sinal de esperança, queria arranjar forças para mudar, queria ser feliz.

Olhei a medo o céu e ele estava limpo, totalmente limpo com um sol radiante já a fugir para o horizonte. E foi aí exactamente que soube que podia mudar o rumo à minha história. Perguntava-me apenas se arranjaria forças para o fazer.

E quando finalizei esse meu pensamento um bando de andorinhas cruzou os céus voando com uma elegância incrível…

As minhas lágrimas, naquele momento, perceberam que não precisavam mais de sair, que estavam confortáveis lá dentro outra vez.

Fiquei de boca aberta a olhar para as andorinhas e por momentos senti que havia ali uma quebra entre tudo o que já tinha sido e tudo o que ainda podia ser.

Vou ser feliz e vou acreditar que comigo munda o mundo. Pode não ser o mundo real mas é aquele que mais me importa, o meu. E nele mando eu. – Peguei no carro e segui o bando de andorinhas só para ver a onde é que ele me levava.

Fui levada pelo sonho, como fazia quando era miúda. É assim que quero voltar a ser, é isto que quero que faça parte de mim. Só quero voltar a ser uma andorinha…


Texto que me deu um gozo enorme escrever, principalmente, porque tive a ajuda de uma pessoa que me tem apoiado incondicionalmente e a quem agradeço do fundo do coração por isso. ^^

1 comment:

Anonymous said...

"Tento ser livre e espontânea como nunca fui e libertar-me de mim, essencialmente de mim. Não culpo mais nada nem ninguém sem ser eu própria para tudo o que tem acontecido na minha vida."


De onde te brotam estas narrativas?! É como se seguisses as pessoas! (no bom sentido, claro)

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"...o meu coração é uma floresta cheia de nevoeiro - guarda tudo e não encontra nada. Sou uma recordadora profissional. Vivo de recordações, mesmo daquilo que ainda não fiz.E repito infinitamente os mesmos truques. Iludo-me. Penso sempre que amanhã é que vai ser. Desenvolvi um erotismo futurista: deleito me com o puro prazer dos meus sonhos.De certa maneira, já vivi tudo, porque em sonhos consigo projectar-me inteira nos corpos, nos sentimentos e nas experiências dos outros. Tenho uma capacidade estereofónica; posso ter ao mesmo tempo cem e dezoito anos. O que é um cansaço..." IP