Os meus lábios secaram, e
juntamente com eles o meu coração parou. Os meus olhos fixaram o nada, o meu
nariz deixou de exercer as suas funções: não sentia ar a entrar. Os meus
ouvidos eram os únicos que ainda tinham alguma actividade ouvindo ao longe
alguém a chamar por mim. O meu cérebro continuava a trabalhar e obrigava-me a
fazer interligações entre tudo: presente, passado, futuro, o que sou, o que os
outros são, realidades, sonhos...
Aos poucos e poucos, depois do
choque, a realidade voltava. E eras tu que estavas à minha frente. Toquei-te
para ver se eras real. Eras. Abracei-te e senti uma felicidade
indescritível. Fechava os olhos e abria e tu continuavas lá, tu inteiro, a tua
voz a dirigir-se a mim, os teus braços a segurarem o meu corpo, tu e tudo o que
é teu ali.
Então, de corpo e alma, segredaste aos meus ouvidos: É
para sempre.
Queria ter reagido, ter dito
alguma coisa, no entanto fiquei quieta à espera de acordar de um sonho. Apercebendo-me
que era tudo real houve qualquer coisa no meu corpo que mudou: o meu coração
palpitava a 100 à hora e cada vez mais rápido…
Com o sorriso mais sincero que
alguma vez tinha feito ia agradecer-te por existires, quando de repente a escuridão
devorou-me por inteira. Desmaiei.
Acordei no outro dia no hospital,
tinha tido um ataque cardíaco. Vi-te a meu lado e foi como nada tivesse
acontecido. Agarrei-te a mão e disse para mim mesma: É para sempre.
Quando o médico veio para me
explicar o que tinha acontecido eu já sabia, não precisava de explicações. O
meu coração tinha renascido, tinha-me sido dada uma nova vida. De repente tudo
me fazia sentido, mesmo o não sentido do sentido.
A felicidade, essa, que tantas
vezes tinha sido uma ilusão era agora algo límpido, claro, irrefutável e puro.
Sem ses e sem dúvidas sabia que
esta tinha sido a simplicidade que sempre tinha procurado. Já não via
conceitos, palavras, materiais, realidades... O que via agora era todo o significado
que estava por detrás de tudo isso...
Olhei para os teus olhos e
vi-me reflectida neles, senti que tu olhavas para dentro de mim, dentro da
minha essência, para o que realmente sou...
(É esse o exacto significado de pureza e de vida que
lutamos uma vida inteira para encontrar.)
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