Sentei-me ao volante do meu carro e sabia para onde devia ir, no entanto sentia-me presa à rotina. Decidindo quebrá-la, comecei a conduzir guiando-me pelo instinto...
Parei perto do rio Tejo num dos sítios mais bonitos de Lisboa e segui em rumo ao rio a correr como se fosse lá que estivesse a minha salvação.Quando já o avistava por entre os prédios começaram-me a cair lágrimas dos olhos, uma atrás da outra, cada vez mais pesadas e difíceis de suportar.
Chegada ao rio atirei-me de joelhos para o chão, levei as mãos à cara e lavei a alma que estava em sofrimento há meses. E fiquei ali quase sem me mexer durante imenso tempo. Não sei quanto ao certo só sei que quando me levantei senti os músculos a falharem-me como que também quisessem desistir. Palavra que o meu psicólogo tinha me proibido de dizer e pensar. (Como se fosse possível controlar o nosso pensamento...) Naquele momento era só essa palavra que me fazia sentido...
Olhei para o rio e tudo me parecia calmo e sereno. Pensei para mim mesma que era assim que queria que fosse o fim. Sereno e calmo.
Há meses que tinha perdido o rumo à vida, há meses que andava-me a arrastar para ir para um trabalho que não me dizia nada, para ir a jantares de família que não me diziam nada, cafés com supostos amigos que já nada me diziam.
A vida simplesmente tinha deixado de ter significado.
E todos os esforços dos outros, ao tentarem colocar significado na minha vida, pioravam a situação. Pois havia uma coisa que, por mais que quisessem, ninguém conseguia entender: o vazio que sentia de cada vez que acordava, que saía à rua, que via um ser humano igual a mim em estrutura, totalmente diferente em conteúdo.
Ninguém conseguia perceber o quanto me custava respirar todos os dias, o esforço que fazia para sorrir de maneira a que ninguém ficasse preocupado comigo.
- Se vale a pena viver? Vale. Mas não esta vida. - E este foi um dos meus últimos pensamentos antes de fazer uma corrida e atirar-me de cabeça ao rio. Nunca aprendi a nadar, sempre tive pavor a água. Porém, naqueles últimos meses tinha dito e feito coisas que não eram minhas, não era eu.
Estava-me a tornar uma pessoa sem sentimentos e sem coração. Odiava a pessoa que via, todos os dias, a apoderar-se do meu corpo, já não conseguia viver mais com ela e não tinha forças para lutar contra a transformação que via em mim.
Atirei-me então para o rio Tejo e foi como se me libertassem. Passou tudo pela minha memória numa questão de segundos. Vi a filha que me morreu nos braços, o homem que sempre amei a virar-me as costas, os olhos de incompreensão dos meus pais, a voz de pena dos meus amigos... Vi uma vida carregada de sofrimento e senti o aconchego de saber que nunca mais lembrar-me-ia disso, nunca mais.
O alívio e a paz envolveram o meu corpo e eu não batalhei mais na água para manter-me viva.
Rendi-me então à morte e a todo o sossego que sabia que ela traria.
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