Estava sentada na esplanada do costume, a ver o mar como fazia todos os domingos, pedi um sumo de laranja natural e fiquei a olhar para as ondas a bater na areia sem ligar ao meu telemóvel que de um em um minuto vibrava.
Comecei a pensar em como a vida era irónica e em como se tinha tornado muito diferente daquilo que eu há 20 anos tinha sonhado. Não era que fosse uma má vida, longe disso, era só radicalmente diferente do que eu tinha desejado para mim quando era miúda.
Olhava para o mar e captava compreensão, sei que o mar não fala nem ouve mas tinha sido a olhar para ele que tinha tomado as decisões mais difíceis da minha vida. Quando fiquei grávida foi aqui que decidi que ia ter o filho sozinha, quando o meu pai se matou foi aqui que decidi que não me ia culpar a mim pelo acontecido, quando tive que ser operada foi aqui que decidi que não ia avisar ninguém até já estar fora de perigo...
E de todas as decisões não me arrependi de nenhuma.
Naquele dia estava mergulhada em pensamentos. Tinha há pouco tempo deixado de falar com uma amiga e queria decidir se valia a pena lutar pela nossa amizade.
Na vida há muita coisa que vai deixando de valer a pena com o decorrer dos anos e por vezes é difícil perceber aquilo por que ainda faz sentido lutar.
Tinha lutado por poucas coisas na vida, por sorte e porque poucas vezes me fazia sentido lutar por aquilo ou por aquela pessoa...
Depois de uma longa conversa com o mar percebi que por esta amizade não fazia sentido lutar e que talvez nunca tivesse tido qualquer tipo de significado.
Antes de sair da esplanada fixei o mar, o meu confidente, com os meus grandes olhos pretos e conclui o meu raciocínio:
Para uma coisa ter significado tem de fazer sentido e se tem significado e faz sentido é então uma obrigação nossa lutar por isso, pois o sentido e o significado não se encontram em todo o lado aliás, raramente se encontram e por isso é importante lutar por mantê-los vivos em nós e ao nosso redor.
Pelo menos enquanto temos forças.
E despedi-me daquela enorme quantidade de água com um sorriso e uma promessa de regresso.
Para ali voltaria sempre...
O sentido e o significado transbordam na natureza e, principalmente, no mar.
1 comment:
Lembrei-me disto:
"Mar, metade da minha alma é feita de maresia, pois é pela mesma inquietação e nostalgia que há no vasto clamor da maré cheia, que nunca nenhum bem me satisfez."
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