Estava a ouvi-la e entendia muito bem a situação em que
estava, havia um homem que ela, irremediavelmente, gostava e a quem não
conseguia dizer que não. Este homem vi-a como uma grande amiga e amante mas por
alguma razão achava que não fazia sentido comprometer-se numa relação.
É daquelas coisas que a gente ouve e fica com pena.
Por vezes parece que a
vida tem de dar mil voltas para depois entrar no eixo, parece que as pessoas
precisam de ir dar uma volta ao mundo para decidirem o que é melhor para elas.
Lembro-me de estar a ouvi-la e de pensar que se tivesse numa
situação assim, visto que a minha personalidade é muito diferente da dela, iria
achar desesperante.
No fundo tudo se
resume ao que é que estamos dispostos a fazer por amor.
Há pessoas que se dedicam totalmente sem verem se quer se
vale mesmo a pena, e ela era uma delas.
E depois há outro
tipo de pessoas que são aquelas como eu. Não é que de alguma forma desprezemos
o amor, simplesmente temos prioridades e elas passam todas por nós mesmas/os,
de modo que apenas nos dedicamos quando temos a certeza que essa dedicação é
recíproca, quando sabemos que o amor que estamos a dar não é em vão.
Tentei explicar-lhe este mesmo pensamento mas as palavras
ficaram na minha mente e não passaram cá para fora pela simples razão que não queria tirar-lhe já a esperança.
Sei por experiência
própria que quando perdemos a esperança andamos um bocado á deriva até voltar á
costa, ou seja, até arranjar outro objecto
por que esperançar.
Então a única coisa que me saiu da boca foi:
- Eu percebo, tu apenas queres agarrar-te aos momentos de
felicidade que tens com ele.
E ela acenou e disse que era mesmo isso, que preferia ter
isso a não ter nada. E eu calei-me com uma tal compreensão pelo que ela estava
a sentir/passar que ela não podia imaginar.
Procuramos, muitas
vezes, ficar com a felicidade perto de nós, mesmo quando é uma felicidade
incerta. Não posso julgar isso, não podia dizer-lhe para ela esquecer a felicidade
e tentar outro caminho.
Não é fácil virar as costas à luz e apalpar terreno na
escuridão. Eu sei disso e por isso
fiquei calada e apenas lhe disse que o importante era que ela não se esquecesse
dela própria no meio daquilo tudo.
Porém, não foi preciso dizer grande coisa que ela era uma
pessoa com bastante noção de si mesma e dos outros.
Por fim tentando dar um fim aquele tema ela
comentou que não iria ser sempre assim, que estava apenas a dar tempo, em nome
do amor, para ver se ele se decidia. – Para o ano vai ser diferente vou
trabalhar para o Norte e não estou à espera que ele venha comigo, mas estou à
espera que ele tenha saudades minhas e que se aperceba que eu faço falta. Claro
que isso pode não acontecer e se assim for não posso dar mais por este amor e
vou seguir com a minha vida. – A última parte do discurso foi exprimido com um
tom mais baixo e cabisbaixo como seria de esperar.
Muitas mulheres sabem o que têm de fazer só não o querem
fazer.
Com os homens já não é bem assim, penso que eles neste tipo
de assuntos são mais cegos e com menos percepção do que realmente se passa à volta
deles, nem todos claro, falando no geral.
E expressei esta minha opinião à Viviane, com a qual ela
concordou.
Olhei para as horas e já eram 8 horas da noite, ficámos as
duas espantadas como o tempo tinha passado tão depressa. Despedimo-nos uma da
outra prometendo que nos voltaríamos a encontrar, ambas com um pressentimento
de dever cumprido, pois conversas
destas não se têm todos os dias.
Saímos as duas do café, uma para cada lado, e eu senti-me
melancólica.
Passou pela minha cabeça uma frase que tinha lido já não
sabia bem onde: Devíamos estar dispostos
a apostar tudo naquilo que realmente gostamos.
Então e se apostarmos tudo e perdermos tudo? Com o que é que
isso nos resta? Com a esperança? E para onde vai a felicidade quando perdemos
tudo? Não é melhor só apostarmos metade e ir tentando melhorar no jogo? Jogar
pelo seguro? Não?
Depende da sorte que
se tem e de quanto temos para apostar. Foi a conclusão a que cheguei.
No comments:
Post a Comment