Pensava todos os dias em como tinha chegado àquele momento, àquela não-vida.
Como é que não conseguia arranjar forças para sair de casa?
Como é que cheguei ao ponto de já nada me dizer nada?
Lembro-me da minha juventude, de ser, imensamente, feliz no mundo do álcool e das drogas.
Era um puto terrível eu, fiz a vida dos meus pais um inferno.
Mas do que mais me lembro desses tempos era da vivacidade que tinha. E pergunto-me, constantemente, para onde é que ela foi.
Quando somos novos temos uma tendência para achar que somos invenciveis e que a vida se deve curvar perante nós... Quando chegamos a velhos percebemos que durante todos estes anos fomos nós que nos curvámos perante a vida. Acabámos por ter acidentes, por quase matar pessoas, por terminas relações boas e magoar pessoas que nem queríamos.
Hoje sentado no meu sofá aos 75 anos apercebo-me que pouca coisa valeu a pena, que não soube colher as amizades certas, não soube aproveitar os pormenores da vida quando podia, não viajei o suficiente dentro de mim ao ponto de fazer e dizer coisas por impulso, coisas que hoje em dia me arrependo.
Fui um puto feliz, cresci e tornei-me um adulto detestável, um velho ainda pior.
Faltaram-me alicerces, faltou-me ter percebido quando devia ter parado de ser irresponsável e estúpido.
Não vi o sinal de STOP, e agora com 75 anos sinto falta de alicerces. Sinto falta de ter uma família e amigos a quem possa ligar de vez em quando, uma mulher que me ame incondicionalmente a meu lado, filhos de quem me possa orgulhar...
Não fiz nada decente na vida e foi preciso chegar a velho e estar reformado para perceber isso.
Para perceber que a única coisa que realmente importa na vida são as pessoas que nós amamos e vice-versa. Foi preciso chegar a esta idade para começar a ter juízo e começar a pensar, verdadeiramente, nas coisas.
Agora, que já não vale de nada. Agora, que a vida já passou por mim.
Pensava que tinha tido uma boa vida...
Os meus 75 anos dizem-me que nunca cheguei a viver inteiramente e completamente.
Acho que vou ligar ás minhas irmãs e pedir-lhes desculpa por ter sido um péssimo irmão, e vou pedir desculpa a ex-amigos e ex-namoradas. E vou esperar que haja alguém que tenha chegado a velho com o dom de perdoar e que me dê uma oportunidade de ser tudo o que nunca fui nestes anos que me restam. Uma pessoa melhor, um amigo verdadeiro, alguém que valha a pena lembrar.
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- "...o meu coração é uma floresta cheia de nevoeiro - guarda tudo e não encontra nada. Sou uma recordadora profissional. Vivo de recordações, mesmo daquilo que ainda não fiz.E repito infinitamente os mesmos truques. Iludo-me. Penso sempre que amanhã é que vai ser. Desenvolvi um erotismo futurista: deleito me com o puro prazer dos meus sonhos.De certa maneira, já vivi tudo, porque em sonhos consigo projectar-me inteira nos corpos, nos sentimentos e nas experiências dos outros. Tenho uma capacidade estereofónica; posso ter ao mesmo tempo cem e dezoito anos. O que é um cansaço..." IP
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