Lembro-me de um passado,
relativamente, recente em que tudo era, radicalmente, diferente.
Emoções profundas esquecidas na
linha do tempo.
Pessoas com vida, mortas agora pelo
abismo que, aos poucos, se foi construído.
Momentos radiantes, vistos pela
sombra de quem os deixou para trás sem nenhuma intenção intencionada. Por medo,
por impossibilidade de manutenção dos mesmos, por, por, por… Tic-tac tic-tac…
O toque: O que fica. Sentido da mesma maneira em qualquer um dos
tempos, com um extra de nostalgia a cada dia que passa.
Uma realidade que já fez sentido
outrora, hoje parece-me estranha.
Uma palavra que mudou tudo, um
passo que fez a diferença, uma decisão que podia ter sido melhor. Ou não.
Um mundo, em suma, igual mas tão
diferente. Um caminho traçado e acabado… Alguns
dizem pelo destino, outros dizem pela sorte, ou pelo azar.
Traçado e acabado. O passado é
história. A história já foi. O que fica é a nostalgia. Talvez de não puder agarrar
tudo: O melhor das pessoas. Não é permanente, vai e vem, vai e
vem. Não é fixo. Porque as pessoas não são sempre boas, o melhor delas não
existe sempre. E então para isto existe uma palavra chamada saudade.
Mesmo que o conteúdo dela não
signifique o querer de volta o que já não existe. Por vezes o único significado
é transcendente à vontade de qualquer um de nós, por vezes, é só lembrar e
sorrir. Um sorriso genuíno de uma realidade que sabemos que não irá voltar,
fazemos tréguas e ficamos em paz com isso e é uma saudade boa. Uma lembrança de
um passado recheado de coisas boas que a vida não quis que se fixassem no
tempo. E eu acho que a vida tem razão. A vida tem sempre razão. Porque se ela
não tivesse eu já tinha feito alguma coisa, eu já tinha dado um passo, eu já
tinha gritado pelo passado e já tinha ajustado contas com ele. Porém, a vida
tem razão. E as contas, não existem para quem não gosta de matemática. Só
palavras, todas lindas e maravilhosas que nos permitem saltar de tempo em tempo
e sermos, sempre, aquilo que queremos ser. Eu acredito que podemos, sempre, ser
aquilo que queremos ser. E logo fazer aquilo que queremos fazer. Portanto, o
que não foi, o que não aconteceu, alguém não quis que acontecesse. Estou por
isso em paz. Com a vida, com o passado e com toda a gente que fez parte dele.
A pomba branca pousa ao pé de mim, eu esboço um sorriso e deixo-a voar para longe: estar em casa é estar em paz.
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