Olho para trás para a minha vida e nada me parece normal, casei com uma mulher e tive dois filhos porém, nem sempre me sinto bem neste papel de pai e homem de família. É horrível a pressão de ter que controlar as contas da casa, fazer jardinagem ou aqueles trabalhos mais pesados que são sempre realizados pelos homens. Nunca me habituei muito a isso e a Sónia sabe que eu não sou lá muito normal.
Gosto de mulheres sim, a atracção só existe por elas, no entanto não me sinto um homem homem. Há muita coisa que me faz chorar e adoro decorar a casa com a Sónia. No sexo até que gosto de ficar por baixo e não gosto de ter o poder sobre todas as coisas, gosto que a Sónia me leve onde ela quiser para fazer o que ela escolher, gosto de ser levado por ela.
Olho para trás e sei que a minha vida não foi muito normal.
Há uns anos fiz uma operação para ser do sexo masculino. Não era que eu me sentisse mal com o meu corpo mas apaixonei-me por uma mulher hetero e pensei que aquela seria a única maneira de a conquistar. O problema é que fiquei um homem não muito bem parecido e arrependi-me logo de ter feito a operação. Não me sinto muito bem com o meu corpo e a minha vida não tem sido muito fácil estou a pensar em fazer outra operação para mudar de novo para um corpo feminino...
Olho para trás e vejo a vida confusa que tive. Juntei-me com um homem o ano passado porque queria ter filhos porém, não lhe escondi que era lésbica. Ele disse que não se importava e aceitou ter filhos comigo. Nós até que nos dávamos bem só que conheci a Mafalda e houve logo uma química entre nós.
O Filipe queria continuar comigo mas eu que já estava grávida disse-lhe que queria fazer a minha vida ao lado da Mafalda, ele acabou por aceitar e foi-se embora.
As coisas com a Mafalda não são um mar de rosas mas existe amor e é isso que me faz lutar todos os dias contra a discriminação que ainda existe na sociedade.
Olho para trás e sorrio, temos de nos rir das coisas mais ridículas que vão acontecendo não podemos deprimir com a vida se não é que não estamos aqui a fazer nada.
Passei a minha juventude atrás de mulheres como qualquer rapaz da minha idade e até que não me dei nada mal, mas achava estranho certas sensações que tinha quando estava perto de homens de quem gostava/simpatizava. O que sentia era o mesmo que sentia com as mulheres. Tentei perceber se seria um problema hormonal e pesquisei sobre o assunto. Descobri que era bi aos 20 e poucos anos. No inicio foi um choque porém, depois tudo começou a fazer mais sentido e hoje em dia até que lido bastante bem com a situação e é engraçado ter tanto por onde escolher. A sério é muito engraçado.
Olho para trás e constato que toda a minha vida me senti deslocado. Não me sinto bem entre os homens, parece-me um mundo completamente diferente do meu.
Sempre tive mais amigas do que amigos mas por vezes também me é difícil encontrar o meu lugar no meio delas. E apercebi-me desde cedo que havia ali qualquer coisa que não era muito normal em mim.
Dediquei a minha vida a estudar as pessoas, mais especificamente as diferenças entre sexos e cheguei à conclusão que existe pelo menos 5% da população que se sente deslocada, ou sentem que não são do sexo que deveriam ser ou, uma parte mais pequena, percebe que não pertencem nem a um lado nem a outro. E aqui me insiro eu e a estas pessoas eu chamo o 3º sexo. Somos poucos mas existimos.
Podemos ter uma atracção pelo sexo feminino ou masculino e não nos considerarmos totalmente homens ou mulheres. Sentimo-nos como se conseguíssemos ver ambos os lados e não nos sentíssemos a 100% em nenhum.
Esta ínfima parte da população parecendo que não, são pessoas mais equilibradas, percebem mais e dão-se melhor com a vida que o resto da população. Conseguem ter uma perspectiva diferente das coisas, uma mais abrangente.
O 3º sexo é a junção dos 2 sexos, criando pessoas, a meu ver, estranhas claro mas, muito mais completas. Temos uma visão um pouco mais perto de ser a ideal.
A meu ver, somos pessoas melhores.
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- "...o meu coração é uma floresta cheia de nevoeiro - guarda tudo e não encontra nada. Sou uma recordadora profissional. Vivo de recordações, mesmo daquilo que ainda não fiz.E repito infinitamente os mesmos truques. Iludo-me. Penso sempre que amanhã é que vai ser. Desenvolvi um erotismo futurista: deleito me com o puro prazer dos meus sonhos.De certa maneira, já vivi tudo, porque em sonhos consigo projectar-me inteira nos corpos, nos sentimentos e nas experiências dos outros. Tenho uma capacidade estereofónica; posso ter ao mesmo tempo cem e dezoito anos. O que é um cansaço..." IP
1 comment:
Adorei. Não preciso de dizer mais nada. Adorei.
Parabéns.
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