Saturday, September 25, 2010

Os meus fantasmas

A minha cabeça está cheia de nada. Tento construir frases que façam sentido mas já nada me faz sentido.

Bem, a minha vida nunca foi fácil mas ela também não é exemplo para ninguém. Vou falar dos meus fantasmas...

Quando era pequeno o meu pai batia-me e a minha mãe estava constantemente a deitar-me abaixo. Cresci a achar que era lixo, que não era nada. Cheguei a perguntar-me porque raio tinham eles os dois me posto no mundo.

Quando já tinha os meus 26 anos encontrei uma mulher lindíssima por fora e por dentro que me quis aturar, supostamente, até ao resto da vida dela (Foste tu Madalena, pobre de ti.)

Eu que nunca fui líder de coisa nenhuma e nunca fui superior a nada comecei a sentir-me poderoso quando lhe batia e via o medo nos seus olhos. Isso, incrivelmente, fazia-me sentir melhor comigo mesmo e com o mundo.

Durante anos a minha rotina era: acordar, comer, ir trabalhar, chegar a casa, bater nela, petiscar e ir dormir. A minha consciência estava adormecida e eu tornei-me naquilo que sempre pensei ser, lixo.

Escrevo-te agora Madalena para te pedir desculpa pelo trauma que te causei e pedir-te que afastes o nosso filho de mim.

Desculpa por ser como sou... Há coisas que são quase impossíveis de mudar, é algo que já vem nos genes e que se entranha tão fundo que se mistura com a nossa essência... Isto se já não fizer parte dela.

Parvoíces que estou para aqui a dizer, a tentar desculpar-me por algo que não tem desculpa.

Sou culpado. Condenado a ser lixo desde que nasci. E o destino ninguém muda. O meu sempre foi negro…

Amanhã me matarei Madalena. Amanhã será o dia do alívio, finalmente.

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"...o meu coração é uma floresta cheia de nevoeiro - guarda tudo e não encontra nada. Sou uma recordadora profissional. Vivo de recordações, mesmo daquilo que ainda não fiz.E repito infinitamente os mesmos truques. Iludo-me. Penso sempre que amanhã é que vai ser. Desenvolvi um erotismo futurista: deleito me com o puro prazer dos meus sonhos.De certa maneira, já vivi tudo, porque em sonhos consigo projectar-me inteira nos corpos, nos sentimentos e nas experiências dos outros. Tenho uma capacidade estereofónica; posso ter ao mesmo tempo cem e dezoito anos. O que é um cansaço..." IP