Saturday, May 11, 2013

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Infelizmente, ou felizmente, tudo tem um fim. E eu pensando que o fim deste blog nunca chegaria, chegou. 

     Em mim, muito mudou, e divido-me hoje em tantas facetas diferentes que com esta já não me identifico.
               Fiquei a meio de uma história, eu que nunca ficava a meio de nada.
                      Tento hoje relativizar mais, para que nada se torne absoluto a meus olhos, como, antigamente, se tornava. Não existe o conceito de absoluto. É isso que hoje acredito.

                  Sei que, provavelmente, já escrevo para o nada,  no entanto, quero agradecer na mesma às pessoas que ao longo dos anos foram passando por aqui e deixaram o seu comentário com elogios sobre a minha escrita, elogios que me deixavam sempre mais satisfeita com a vida. Agradecer também àquelas que escreviam críticas construtivas, as quais eu sempre tive dificuldade em aceitar de bom agrado, mas sabendo hoje a importância de aprender a fazê-lo. (Em processo)

                       Apesar de colocar um ponto final neste blog vou mantê-lo activo, estará sempre vivo para mais tarde recordar. E eu claro continuo aqui, não aqui aqui, mas aqui: Everything about nothing e Ideas worth spreading 

                   E por aí, vou estar sempre a pairar por aí. Em Agosto também vou ali, para variar. Aposto que quando voltar vou estar quase irreconhecível. =) Aposto que vou gostar de estar quase irreconhecível. Apostem comigo. 

Respirando fundo, 

       sorriso aberto, 

          grito sentido, 

            salto a pés juntos, 

              dançar com o nada, 

                  aceno com a mão direita devagar e com um piscar de olhos digo: Até qualquer dia.

                             

Monday, February 4, 2013

Não és meu - Parte III

Cheguei a casa da Sónia e já lá tinha a família toda, incluindo o Artur. Fui directamente ter com ela e dei-lhe um abraço apertado.
- Sabes que estarei aqui para o que precisares, a tua mãe era uma pessoa de coragem e vai ficar para sempre contigo. Sabes disso não sabes? - Deixando-me levar pelas emoções caiu-me uma lágrima do olho quando a vi.
- Obrigada amiga. Ela era uma pessoa maravilhosa e isto tudo está-me a custar imenso. - Sentei-me ao lado dela e preparei-me para ficar ali o resto da tarde.
- Queres que te vá buscar alguma coisa?  - Perguntei eu não conseguindo ficar ali quieta.
- Sim, podes ir à cozinha fazer-me um chá? Tu sabes onde estão as coisas.
- Claro, chá de camomila?
- Ainda te lembras qual é o meu favorito... - Disse-me ela sorrindo.
Retribui o sorriso e fui para a cozinha.

A tristeza chegou à minha alma quando vi uma foto dela com a mãe em cima de uma cómoda que estava na sala. 
Sei que a mãe dela era uma figura importante na sua vida e ver aquelas pessoas todas ali fez-me perceber que não era só importante para a Sónia mas também para muito mais pessoas.

Comecei a lembrar-me de momentos da nossa adolescência, em que eu vinha para casa da Sónia e a mãe dela preparava-nos sempre um lanche que mais parecia um banquete dos céus.
Lembro-me das suas pizzas caseiras que eram divinas e do seu sorriso que era sempre tão sincero...
Quando dei por mim, estava a olhar para o chá já feito com lágrimas tímidas a caírem em cima do balcão. 
Ouvi alguém a entrar na cozinha e, rapidamente, limpo as lágrimas e pego na chávena de chá virando-me em direcção à porta.
- Está tu... Ai desculpa! - Era o Artur e tinha acabado de chocar contra mim e de fazer com que deixasse cair a chávena no chão.
- Oh fantástico! - Exclamei eu zangada por ele não ter tido mais cuidado e ter feito com que a chávena se tivesse partido em mil bocados.
- Eu ajudo-te. - Disse ele, baixando-se para me ajudar a apanhar os cacos.
Apanhámos tudo em silêncio e quando o chão ficou limpo comecei a fazer outro chá.
Ele veio ter comigo e ficou ao meu lado, sem dizer uma palavra ficou a olhar para o que estava a fazer como se a magia da vida estivesse no acto de fazer um chá.
- Não devias estar ao lado da tua namorada? - Comentei eu amargamente enquanto estava a colocar o chá em outra chávena.
- Não digas isso dessa maneira. - Respondeu ele com um tom triste virando a cabeça para o lado.
- Então queres que diga de quê maneira? - Perguntei eu esperando que ele não respondesse e me deixasse ir embora.
- Acho que preferia que não dissesses nada.
- Pronto então eu não digo. - E peguei na chávena com o intuito de sair daquela cozinha diabólica. Porém, o Artur pegou no meu braço e olhou no fundo dos meus olhos. Pensava que ele ia dizer alguma coisa mas após uns segundos, que pareceram uma eternidade, ele largou-me e disse que achava que também ia fazer um chá para ele.

Eu sem saber o que dizer, virei-me, definitivamente, para a porta e fui em direcção à Sónia com a alma pesada.
- Desculpa Sónia ter demorado tanto tempo, sem querer deixei cair a chávena no chão e tive que ir fazer outro chá. - Justificando-me antes que ela perguntasse.
- Oh não faz mal Emília. Obrigada por estares aqui. - Agradeceu-me segurando-me na mão com força e esse gesto só me fez sentir ainda pior. 
Senti, mesmo sem ter feito nada, que a tinha traído. Tinha traído a nossa amizade de tantos anos que era tão importante para mim.

Apertei a mão dela com a mesma força e disse-lhe:
- Eu vou estar sempre aqui. - Dando o meu melhor sorriso e sentindo-me uma hipócrita.

Tuesday, January 8, 2013

Teorias da razão

Lá fora está a chover, cá dentro está quente e confortável. Mas quantas vezes é que o conforto é viver uma vida monótona? 

Esquecemo-nos das raízes, esquecemo-nos do que é que realmente nos apaixonava na vida quando começámos a criar conceitos como: conforto, conformação, sucesso, estabilidade, poder...
Este pensamento dilacerou-me o coração e tive que sair daquelas quatro paredes. A minha mãe aos gritos a dizer que era tarde e estava a chover para eu não sair de casa. E eu a ir na mesma, a fechar a porta e a sentir as pingas da chuva a tocarem-me na cara.
 Não me preocupei se ia ficar constipada ou se ia ficar sem maquilhagem, senti e comecei a andar sem direcção aparente. 
 Pensei na razão que gostamos que tudo tenha e senti-me oca. Aquela sensação que passamos anos e anos a fazer, dizer e sentir coisas que nos são impostas pela razão, deixando de parte as coisas que são ditas por impulso que são as mais verdadeiras, deixando de parte as coisas que fazemos por impulso que, por vezes, são as que nos dão mais prazer e, principalmente, deixando de parte sentimentos que são irracionais apenas por isso mesmo. Sentimentos e emoções que deveriam ser o que comanda a vida.
 Se todos tivessemos isso em conta, acredito que seriamos pessoas bastante diferentes e, claro, mais felizes.
Ia reparando à minha volta e viasse poucas pessoas, algumas a pares a partilhar o guarda-chuva, outras a olhar para o chão com um guarda-chuva pequeno, as poucas crianças que se via na rua eram as únicas que brincavam a saltar em cima das poças, os pais, claro, sempre a reclamarem, a dizerem-lhes para virem para debaixo do guarda-chuva.

Tornámo-nos ao longo dos anos superprotectores da nossa espécie, e cresceu o medo por todos as pequenas coisas que podem matar e destruir vidas humanas. Como se fossemos um género de espécie sagrada mais valiosa que a própria natureza. Que a própria natureza...

Parou de chover sem eu me ter apercebido, as nuvens começaram a dispersar, e a noite ficou maravilhosamente estrelada. 
Valia a pena estar ali naquele momento, valia a pena ter passado pela tempestade para ver a bonança, vale a pena conhecer todos os lados da natureza. 

Ao longe vi uma cara que me parecia familiar. Olhei melhor e era uma boa amiga que já não via há muito tempo, quando ela me viu fez um sorriso enorme e começou a andar na minha direcção. Foi aí que soube que, arrumando todas as teorias sobre o mundo, a vida e a nossa espécie e parando de pensar de uma forma geral, aquilo, aquele momento e aquele sorriso era o que realmente importava. Aqui e agora, a partilha. Pois algo que tinha aprendido há pouco tempo é que nada era tão essencial como partilhar a felicidade com alguém. 
 É só isso que nós, espécie humana, procuramos e realmente queremos. O resto são pormenores. Mesmo a própria natureza.
E é por procurarmos tanto e querermos tanto a felicidade que fazemos muitas vezes as coisas mais estúpidas que se possa imaginar. 
A razão irá ser sempre um conceito desconhecido para todos os outros seres. 
Somos, o que se diz, os seres mais perfeitamente parvos à face da Terra e agora, também, no espaço. 

Confudimos equilíbrio com estagnação e confudimos felicidade com destruição do Planeta, confudimos tudo
Quando queremos culpar, culpamos a razão. E por racionalizarmos tudo é que não percebemos muita coisa.

Abracei a minha amiga com um daqueles abraços onde cabia o mundo, fiz-lhe um grande sorriso e disse-lhe que era pela natureza ter criado seres como ela que hoje eu era mais feliz.
Ela riu-se e disse que lá estava eu com as minhas frases filosóficas. 
Começámos a caminhar as duas, sem ligar ao caminho, pois no fundo sabiamos que o que tinhamos encontrado era já o suficiente.

Saturday, January 5, 2013

O passar dos anos

- O difícil é começar - dizia-me ele com os seus olhos esbugalhados e a sua pele de cor mulata.
Eu sabia que já muita água tinha passado naquele rio, sabia que a mesma água não voltaria a passar e sentia-me presa a um passado que nada tinha de puro. Virei as costas como que magoada pelas verdades que ele sempre soube transmitir quando assim o tinha de ser, sabia e não sabia o que era a verdade. Sabia que a água do rio passava, não sabia o processo que a tinha feito chegar até ali, pensava nela vezes e vezes sem conta até doerem-me os neurónios de tanto pensar.
Pensei que ele viria atrás de mim para me dar um sermão por fazer tudo menos aquilo que tinha de ser feito, pensei que, apesar de ser eu uma pessoa tão obliqua e trémula, ele não iria desistir de fazer-me ver a realidade. Porém, a água do rio já era muita e eu sei que não te querias afogar também, compreendo sabes, compreendo e fui-me embora sem ressentimentos.
No fundo não me importo de me afogar sozinha, importar-me-ia mais se levasse alguém comigo. Morreria uma segunda vez de culpa.
 Estava naquela fase de transição, num estado de transe em que não sabia mais em que acreditar quando olho para o céu e vejo luzes coloridas, ouço estrondos enormes e veio-me à memória algo familiar.
Então, fechei os olhos e lembrei-me da razão de ser das luzes no céu: O planeta fazia anos, 4,5 biliões de anos. Para nós que só começamos a contar a partir de uma certa altura, para nós eram 2013 anos, o que não é nada, o que é muito pouco. No entanto, nestes 2013 anos já viveram biliões de pessoas, nestes 4,5 biliões de anos já cresceram e morreram muitas espécies de fauna e flora, algumas dessas foram extintas e, provavelmente, nunca voltarão a aparecer...
Um fim que todos temos, se não como espécie como ser simples e único que somos.
Ao ver tantas luzes, de certa maneira, deu-me forças, forças que não tinham grande razão de ser mas eram forças. Levantei-me e aceitando que existe sempre um fim, comecei, comecei a viver. E a partir do passo que dei tudo me pareceu mais fácil.

Feliz 2013.

Wednesday, October 10, 2012

O medo de cair





Querias mudar, disseste-me tu naquele dia enevoado. Querias também que eu mudasse contigo. Que juntos mudássemos o mundo que nos rodeia.
 Quando disseste a palavra mudar eu assustei-me. Tínhamos já a nossa vida feita e no entanto, tu acreditavas que o caminho era outro e que nada daquilo fazia sentido.
 Tentei perceber o teu sentido mas não entendia a tua necessidade, a tua força, a tua coragem. Não entendia a necessidade da constante mudança.
Exclamaste que estava tudo a morrer à nossa volta e eu dei um salto para trás com medo de morrer também. Fazias todas aquelas perguntas que nunca ninguém faz: - És feliz? Sentes-te concretizado? Qual é o teu objectivo na vida? Por quem ou pelo que é que morrerias? Salvarias a humanidade oferecendo a tua própria vida?

E continuaste, direccionando-te para o canto da alma que tentamos esconder, sem dó nem piedade: Quais são os teus defeitos?  O que já fizeste para os melhorar e torná-los qualidades? O que aconteceu na tua vida que não ficou resolvido? Porque é que não o resolveste? O que fazes aqui e agora? E porque é que o fazes? O que te move? 

Uma atrás da outra, as palavras eram recebidas no meu cérebro como pancadas. Fiquei a olhar para ti sem saber o que te dizer. As respostas não eram certas, nada era concreto. Nunca me tinha cultivado a esse ponto.
Não sabia se era feliz, nunca tinha pensado no verdadeiro significado dessa palavra. O conceito de concretização era algo que me deixava confuso. Os meus objectivos eram acabar os dias, as semanas e os meses e continuar vivo. Morrer era algo que me assustava e deixava-me com arrepios nos ossos.  Nunca fui herói, nunca acreditei nisso, não acredito que eles existam.  Sei que tenho defeitos mas tentava não pensar neles. 
E na minha vida tanta coisa que não tinha ficado resolvida… Não sei o que faço nem porque o faço e talvez o que me mova é só o sentimento de estar vivo e ter tarefas para realizar.

Mudar parecia-me demasiado arriscado. A meus olhos, todas as mudanças o são.
 Via muitos obstáculos no caminho e via-me sempre a cair em todas as versões da mudança. Já tinha pensado sim em fazer algo que me fizesse sentir...sentir. Porém, perdi-me nas pedras desse mesmo pensamento.
 Vejo sempre tantos muros, tantas poças, tanta chuva, tanta lama. Não consigo tornar esse pensamento real porque… Porque talvez não tenha coragem suficiente. Talvez seja mesmo piegas como a minha mãe sempre me disse que era. Um assunto não resolvido. 

 Percebo que tens razão.  Tudo o que disseste interessa e tem grande significado. Percebo que é um caminho que temos de percorrer e se não o fizermos, mais tarde, isso virar-se-á contra nós. Nem que mais tarde seja quando tivermos a morrer. Não morreremos em paz se não clarificarmos tudo, se não soubermos que fizemos alguma coisa que realmente nos interessa, se não sentirmos que a nossa vida teve significado.
Isso tudo interessa bastante, diria até que é fulcral. E eu prometo que vou tentar mudar. 

Ajudas-me?

Thursday, July 26, 2012

Não és meu - Parte II


   No dia seguinte acordei com tantas dores de cabeça que parecia que a minha cabeça ia explodir. De repente o telemóvel começa a tocar e mais parece um martelo a martelar na minha cabeça. Com muita dificuldade peguei nele e olhei para o visor. 
  Depois de limpar os olhos umas cinco vezes li o nome Sónia. Fiquei a olhar para o visor sem conseguir atender. Não sabia como havia de lhe dizer que me estava a apaixonar pelo namorado dela, não sabia se quer se valia a pena contar-lhe isso.  
  Estava dentro de um labirinto do qual já tinha perdido o mapa. Esta situação toda dava-me ainda mais dores de cabeça, meti o telemóvel em silêncio e virei-me para o lado. 
Quando voltei a acordar já eram 2 da tarde e estavam a tocar à minha campainha. A custo levantei-me e fui ver quem é que estava à porta, quando espreitei pelo óculo da porta ia-me dando uma coisa má, era o meu ex-namorado com quem vivi 1 ano. 
Ainda tinha uma réstia de dores de cabeça e sinceramente não me apetecia nada ter de encará-lo, portanto dei um berro - Agora não posso que estou a dormir. -  E voltei para a cama arrastando os pés.
Do outro lado da porta ainda consegui ouvir: -  Deixa-te de coisas, abre-me lá a porta que ainda tens aí coisas minhas.
Mal ele acabou de falar olhei para o que tinha vestido e assustei-me. Era uma camisola dele. Despi-a em segundos e apercebi-me que não tinha mais nada por baixo quando comecei a ouvir o barulho da porta a abrir. Muito rapidamente voltei a vestir a camisola dele e dei um grito:  - Mas alguém te disse que podias entrar?! - Ao mesmo tempo ajeitei o cabelo e fui em direcção à entrada.
- Estás a brincar? Estavas mesmo a dormir? Espera lá, essa camisola é minha?
- Estava a dormir sim e sim esta camisola é tua. - Disse eu, provavelmente, com um ar de bêbeda e com uma vontade de lhe bater por ter entrado assim numa casa que já não era a dele. - Quer dizer mas tu ainda tens chaves cá de casa? 
- Ainda tinha umas extra encontrei-as no meu carro.
- Pronto mas agora é para devolver que já não precisas delas.
- Só vim cá buscar umas roupas que deixei cá, incluindo essa camisola que tens vestida. - o seu sorriso matreiro dizia-me que tinha ficado com ideias erradas sobre o estar com a camisola dele vestida.
- Ah pois desculpa eu vou já vestir outra coisa. - Nem devia era ter vestido isto, tinha sido o que apanhei mais à mão ontem.
- Estás à vontade se quiseres ficar com ela tudo bem.
- Não, não. A camisola é tua. - Ripostei eu muito prontamente. - Pronto toma  lá, e o resto das coisas estão neste saco.
- Obrigada. Bem então acho que vou andando.
- Vá, vá bom fim-de-semana.
- Também não é preciso despachar. Estavas aí com alguém? - E espreitou para dentro do meu quarto.
- Olha era só o que me faltava, mas agora tenho de dar-te satisfações da minha vida, vá põe-te a andar.
- Ina que antipatia, nunca percebi o que vi em ti realmente.
- Digo o mesmo de ti. - Finalizei com um ar de poucos amigos e a fechar-lhe a porta, basicamente, na cara.
Respirei fundo e assim do nada deu-me uma vontade imensa de tirar férias, depois lembrei-me das chaves. Voltei a abrir a porta - Afonso as minhas chaves?
- Ah é verdade. Toma.
- Obrigada. - E fechei-lhe outra vez a porta na cara.
 Como tinha uma semana de férias ainda para marcar liguei para a minha chefe e perguntei-lhe se podia tirar a semana seguinte. Após uma longa conversa para a convencer lá me deixou tirar aqueles 5 dias. 
Fiquei deslumbrada, finalmente ia desanuviar para bem longe dali, de preferência num sítio deserto sem muitas pessoas. Estava farta de pessoas e de todas as complicações que elas traziam.
Fui arrumar umas coisas lá em casa e depois fui desfrutar de um bom copo de vinho na minha cozinha enquanto pensava para onde é que ia de férias. Entretanto o meu telefone de casa começa a tocar: - Estou? Olá Sónia, como é que estás? Oh meu deus lamento tanto amiga, eu vou já para ai ok? Até já. Força. 

A mãe dela tinha morrido e as minhas férias também.
  

Tuesday, June 26, 2012

Não és meu - Parte I



Sabia que ela o amava profundamente e o meu coração encolhia de todas as vezes que a via sorrir para ele. Amigos desde sempre, cedo se tornaram namorados por conveniência, no entanto eu sabia que ela gostava realmente dele de uma maneira incrivelmente intensa.
 Sempre soube disso e estava feliz com a felicidade dela... Até um dia.

   Estávamos, num bar, numa festa de anos de uma amiga, eu sentei-me ao balcão e ia pedir uma bebida quando o namorado dela se aproxima de mim e cumprimenta-me. No início estava tudo certo, sem problemas, ele sempre tinha sido simpático. Porém naquela noite começou a fazer mais perguntas que o costume e a criar uma conversa que nunca mais acabava. Às tantas comecei a estranhar e perguntei-lhe se ele não ia para ao pé da Sónia, a resposta dele foi estranha, a cara mudou logo de expressão e saiu de ao pé de mim com um ar de cão abatido.

 E este foi o primeiro acontecimento que viria a mudar tudo.

   Uma semana depois cruzámo-nos na rua e ele convidou-me para ir lanchar com ele, eu como não tinha nada para fazer disse que sim, que me parecia bem. E começámos à conversa sobre temas abstractos, ambos tínhamos perspectivas diferentes o que tornava a conversa interessante e engraçada. Quando me despedi dele senti-me culpada. E logo apercebi-me que algo de muito errado estava a acontecer, estava a começar a gostar do namorado da minha melhor amiga.

Não sabia o que fazer, não queria magoá-la de maneira nenhuma e por uns tempos tentei afastar-me dele, mas o destino tinha outra ideia...

   O nosso terceiro encontro foi numa discoteca, ambos tínhamos ido por diferentes razões e não estávamos a contar encontrarmo-nos. A Sónia tinha ido para casa da mãe cuidar dela por uns tempos.
  Quando nos vimos houve logo um sorriso sincero, uma troca de palavras breves sobre o porquê de estarmos ali e depois começou uma música que ambos gostávamos. Começámos a dançar e esquecemo-nos que havia um mundo para além de nós. Cantávamos e dançávamos, sorriamos imenso e riamo-nos por alguma coisa que nem nós sabíamos explicar o que era.
   Até que os meus amigos me encontraram e puxaram-me para ir de volta ter com eles, despedi-me do Artur  e quando voltei à realidade só me apetecia dar uma estalada a mim própria.
   Sai mais cedo da discoteca dando a desculpa que estava com dores de cabeça e que ia para casa.
    Mal sai da discoteca vi o Artur cá fora a olhar para o nada, quis ir-me embora sem que ele me visse mas o meu carro estava mesmo à frente dele. Aproximei-me e como já estava um bocado tocada com a bebida disse-lhe que gostava muito da Sónia. Ele assustou-se comigo e ficou a olhar para o chão. Como não dizia nada e eu não estava em condições de falar, peguei nas chaves do carro e comecei a ir em direcção a ele.
   O Artur pegou-me no braço, puxou-me para junto dele, olhou-me nos olhos e abraçou-me. Eu fiquei estática, encostada ao seu peito a ouvir o seu coração bater...
O que deve ter sido minutos pareceram-me meses, e eu já não tinha vontade de sair dali.
   Caiu-me uma lágrima do olho e ele ao ver a minha lágrima apercebeu-se do quanto aquilo era demasiado pesado para mim. Perguntou-me se eu estava bem para conduzir e eu acenei que não com a cabeça, ele pegou nas minhas chaves, sentou-me no carro e conduziu-me até casa.
   Quando lá chegámos eu agradeci-lhe e perguntei-lhe como é que ele ia para casa, respondeu-me que ia chamar um táxi para eu não me preocupar. 
    Levou-me até à porta e dando-me a mão disse que queria tornar aquilo real e possível, eu sem saber o que dizer dei-lhe um beijo na cara e entrei em casa.

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"...o meu coração é uma floresta cheia de nevoeiro - guarda tudo e não encontra nada. Sou uma recordadora profissional. Vivo de recordações, mesmo daquilo que ainda não fiz.E repito infinitamente os mesmos truques. Iludo-me. Penso sempre que amanhã é que vai ser. Desenvolvi um erotismo futurista: deleito me com o puro prazer dos meus sonhos.De certa maneira, já vivi tudo, porque em sonhos consigo projectar-me inteira nos corpos, nos sentimentos e nas experiências dos outros. Tenho uma capacidade estereofónica; posso ter ao mesmo tempo cem e dezoito anos. O que é um cansaço..." IP