Obrigado àqueles que se juntaram a mim e aos meus pensamentos e àqueles que continuam por cá a respirar comigo. Obrigada aos que mesmo escondidos continuam a acompanhar-me sorrateiramente e dando-me, de vez em quando, oxigénio para que continue a viver.
Estou a escrever uma história que temo demorar a terminar. Por isso coloco aqui um texto escrito há pouco tempo sobre a compreensão e a empatia:
Pensa-se que basta falarmos o mesmo dialecto para nos entendermos, mas comprova-se, tantas vezes, que não é bem assim.
Todos nós falamos a nossa própria língua, temos as nossas próprias expressões, o nosso tom de voz, uma maneira muito própria de nos dirigirmos aos outros. A nossa maneira de ser molda a nossa maneira de falar e o nosso discurso.
Podemos falar todos português porém, encontrar alguém que fale a nossa própria língua pode ser bastante complicado, assim como pode-se tornar deveras complicado compreender outras línguas diferentes da nossa. Para compreender plenamente é preciso falar da mesma maneira, ou seja, rir das mesmas expressões, imitar as mesmas palavras, falar com o mesmo tom de voz, é preciso criar uma sintonia de palavras e, simultaneamente, pensamentos (a isso se chama empatia). “Empatizar” nem sempre é fácil, logo não é fácil compreender plenamente.
Sabe-se que uma pessoa está a tentar falar a nossa língua, quando imita os nossos gestos. Mas do tentar ao conseguir vai uma longa distância. Uma pessoa só consegue falar a nossa língua quando o que lhe sai é natural, quando o que diz e a maneira como o diz é igual a nossa desde sempre. Ou melhor quando duas linguagens conseguem se fundir numa só.
Mais uma vez repito, encontrar esse alguém não é nada fácil, por isso quando o encontramos é normal que fiquemos um pouco viciados nele, já nos custando fazer um esforço para entender a linguagem dos outros. Custando-nos ainda mais adaptar a nossa língua a outra que não é a nossa.
Podem pensar e dizer o que quiserem (somos todos livres de o fazer) mas, para mim, o interesse não é esforçarmo-nos por falar a língua do outro, o interesse está em quando não precisamos de fazer esse esforço e compreendemos naturalmente a linguagem do outro. O interesse é quando descobrimos uma linguagem que, no fundo, é a mesma que a nossa.
Eu falo a língua do Ar e sei que há quem, não só fale como respire como eu e não há nada mais gratificante que isso.